Um diagnóstico breve sobre sua vida e sobre o que acontece no mundo

Murillo Leal
Murillo, o Leal.
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6 min readFeb 12, 2020

Eu sei que você tá todo mundo cansado, mas não é de hoje que o mundo passa perrengue. É muita inocência da nossa parte acreditar que este recorte de momento que vivemos é o mais delicado da história. Esse anacronismo aparentemente inocente agiganta a noção individual de opressão.

De qualquer forma, basta olhar ao redor dos diversos mundos que frequentamos — seja ele o mais interno ou até mesmo o que expressa a realidade mais global — para entender que este não tem sido tempos tão fáceis para muita gente. O mundo é hediondo. Age de maneira bárbara com quem tem o luxo de ser nobre.

Sendo um observador mais cuidadoso, podemos notar de maneira nítida que tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo em que sentimos pessoalmente um tédio existencial absurdo.

Em todo canto tem gente agindo bruscamente, outras reagindo passivamente a tudo enquanto uma terceira parte, em menor quantidade, propõe realmente novas possibilidades de existir.

Nosso corpo emocional e nossos sentimentos estão devastadamente confusos em contrapartida a um mundo que tenta parir uma aparência fictícia de felicidade e satisfação. Os radicalismos mais sutis prosperam na mesma velocidade e proporção que o ódio gratuito.

Não damos conta de tudo que precisamos dar

Muita informação surge inesperadamente aos nossos olhos, nos obrigando a dar conta de tudo que acontece a volta com uma urgência impaciente. Paralelo a isso, pagamos caro por uma hora de papo sincero com nosso psicólogo. Adquirimos aplicativos que nos ajudem a meditar no quintal de casa não por luxo, mas por necessidade.

A gente não tá dando conta de tudo. Andamos perdidos nas relações mais simples que sejam, fundamentalmente naquela que temos conosco mesmo, deixamos-nos ser levados pela negligência da falta de tato com o outro e pela ignorância proposital no entendimento do outro. Somos reis sem um povo.

Não vivemos a vida que queríamos ter

Fazemos um esforço danado para criar uma ênfase no discurso de passar mais tempo com amigos e familiares, mas tropeçamos nos tapetes da própria realidade e nos sentimos culpados por não conseguir priorizar o mínimo.

Enchemos nossas timelines de fotos de momentos com amigos, mas constantemente temos a sensação de que não pertencemos mais a muitos grupos e lugares. Estamos rodeados e sentimos que não somos mais importantes para muita gente. Isso nos leva a visitar um lugar de desapontamento constante com o outro e consigo mesmo.

As famílias deixaram de ser um lugar de segurança constante. Fomos envenenados com a ideia de que estamos perto porque interagimos num grupo em comum no Whatsapp.

E por mais que sintamos falta da família sentimos que é cada vez mais difícil reuni-la. E quando conseguimos, logo sentimos a nossa energia esgotando-se rapidamente.

Experimentamos o gosto da dificuldade em definir o que sentimos.

Pensamos mais no dinheiro do que gostaríamos

Estamos presos a ideia de que ter acesso a tudo nos dá o transito num mundo do dinheiro e do sucesso. Damos uma enfase enorme para o que temos. E talvez este sentimento cause uma auto-estima frágil. Percebemos que podemos conquistar o mundo ao custo de perdemos a gente de si mesmo no meio disso tudo.

Ao mesmo tempo em que estamos cansados do sentimento de que sempre estar devendo algo a alguém, de ter que sempre lutar para quitar uma dívida longa, estamos comprando coisas que não precisamos. Gastamos com coisas que nos aliviam da ansiedade, mas pensamos melhor diante de pagar cinco reais a mais numa cerveja que seja melhor.

Perdemos a vontade de validar-se diante dos entes queridos, mas ainda ficamos preocupados com o que eles pensam sobre o nosso trabalho, sobre nossos relacionamentos, sobre como pensamos a vida.

Sentimos que não é justo olharem para a gente com esse olhar de infantilidade, mas acabamos nos vendo presos a uma situação que somos forçados a ser aquilo que já enjoamos ser.

Estamos diante da felicidade de maneira doente

A expectativa que temos para alcançar um constante estado de felicidade que não existe nos empurra para uma sensação de fracasso. Quando estamos chateados, pedem para gente sorrir. Quando estamos naquele dia normal de baixa de energia, dizem que não pode ficar ingrato frente a vida.

Há, de fato, muita pressão para se divertir o tempo todo. Um cultura que reforça uma realidade inconvencional da vida. Quando entramos nessa somos obrigados a fingir. E nada mais custoso do que simular sorrisos.

A vida não precisa ser um espírito de férias o tempo inteiro.

Correr atrás da felicidade enfarta a vida. É melhor que a felicidade não seja um alvo super-estimado. Estar feliz é recomendado apenas para aqueles que realmente entendem que ela se mistura a momentos impares mas que também pode ser encontrada no contentamento.

A procrastinação é um problema sério

Não é um pecado adiar situações, postergar algumas tarefas, protelar compromissos e atrasar possibilidades. Desde que não seja um mau hábito, prorrogar pode ser útil.

A grande questão é fazer com que isso não o coloque como oponente da sua saúde mental. Não tem problema não estar com vontade. É normal não ter disposição. Tudo que dá trabalho precisa sim de um planejamento, mas principalmente, de uma disciplina sistemática que torne aquilo importante.

No fundo, sabemos que quanto mais tempo se passa sem algo se realizar, mais essa coisa tem o poder de atuar na mente e tornar algo mais estressante.

Onde quer que você esteja, parece que tem algo sempre a ser feito.

O mundo é sempre inacabado, mas existem coisas que precisam ser terminadas. O lance é dividir as coisas em tarefas menores, mais executáveis e que sigam um ritmo suportável. Prioridade não tem plural.

Sua paciência é uma fonte facilmente esgotável

Todos os lugares estão lotados. As pessoas estão cada vez mais melindres. O filme que acabou de colocar já está chato. O motociclista mal aparece no retrovisor e já te irrita. Tudo tem fila enorme. Se tem que pegar senha você já prefere nem ir.

Tudo que parece que se tornou um grupo grande de pessoas te deixa trancado por dentro.

Parece que nem mesmo você se aguenta e tem que ficar longe de tudo e todos. Sua paciência agora te permite ter a permissão para tentar ser um pouco mais você mesmo. Você fica chateado porque perdeu as férias irritado com alguém, você não tem mais a mesma disposição para explicar tudo mil vezes, muito menos para orientar amigos que recusam-se a te ouvir.

A arvore de natal está cada dia menos enfeitada. Os aniversários cada vez mais simples. Ter que dar um beijo em cada um do recinto é um porre. Até que você decide ser mais paciente porque não quer que ver a tristeza de outras pessoas ou ser a razão que irrita as pessoas que ama. Então,você sofre sozinho por não conseguir.

Há sempre um lugar para repensar

Acredito que o mundo não vai moldar-se a gente. Ele vai engolir a gente aos poucos como um faminto ser que não tem dó de gente autossuficiente. O mundo não está nem ai para nossa vida. Então, ou aprendemos a ser um bom vizinho para com ele ou teremos sempre um resquício de sofrimento bem diante da gente.

Acho que quando somos viciados na nossa própria personalidade, acabamos sofrendo um cansaço esgotante, passamos a não dar conta de tudo que precisamos dar, não vivemos a vida que queremos, passamos a olhar para o acúmulo de recursos como salvador dessa teia de falta de sentido, buscamos uma felicidade incomum e adiamos aquilo que realmente importa.

Quando chegamos neste ponto, foi embora paciência, sumiu tudo que é relevante e sobrou apenas um corpo sem alma sobrevivendo as mínguas da falta de vivacidade.

É preciso repensar caminhos, reexaminar propostas, reconsiderar valores desimportantes e cuidadosamente, analisar discursos prontos, estudar comportamentos saudáveis e revisitar-se proporcionalmente. É obrigatório reformar-se, retificar-se e revisar-se com frequência.

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Murillo Leal
Murillo, o Leal.

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br