Como uma adolescente de 16 anos, filha de um pedreiro e de uma empregada doméstica, criou uma filha e desenvolveu um negócio de sucesso que prospera há quase 30 anos na área de ensino de idiomas in-company?

Minha mãe era uma adolescente de 13 anos que morava no bairro Jardim Umarizal, periferia da Zona Sul de São Paulo, entre o Campo Limpo e Taboão da Serra. Era a mais velha das filhas dos meus avós, e dividia a casa — que estava sendo reformada pelas mãos do meu avô para que as filhas tivessem um quarto — com as duas irmãs mais novas, de 10 e 7 anos.

Casa dos meus avós no começo dos anos 90

O ano era 1987. Ela gostava de ouvir as suas músicas em inglês. Era fã de Pós-Punk, ficava tentando gravar as fitas com as músicas de bandas como The Sisters of Mercy, Joy Division e Cassandra Complex e entender o que eles diziam. Meu avô achava interessante o jeito como ela ficava horas tentando anotar as palavras que ouvia das músicas e juntou todas as suas economias pra pagar um cursinho de Inglês.

Quando concluiu o curso, logo já estava dando suas primeiras aulas. Mas em 1991, aos 16 anos, minha mãe descobriu que estava grávida de mim.
Meu pai, esquizofrênico, começou a ter os primeiros surtos nesta época, aos 20 anos.

Ser mãe solteira adolescente no começo dos anos 90 na periferia foi uma experiência dolorosa e humilhante.
O meu nascimento foi o início de um momento decisivo na vida da minha mãe: ali ela entendeu que através do trabalho seria possível ascender profissionalmente e nos trazer segurança.

Ela continuou dando as aulas, e se aperfeiçoando no idioma. E eu me tornei sua experiência de vida, quando aos três anos, ela iniciou o meu processo de alfabetização bilíngue.

Durante meus primeiros anos de vida minha mãe trabalhou em franquias de escolas, com rotinas extremamente rígidas e pouca autonomia criativa pro desenvolvimento das aulas.
E ela tinha muito mais do que um livro e um quadro, ela tinha uma ideia.

Em 1994, ela pensou em desistir do Inglês e aceitou um emprego como recepcionista bilíngue em um edifício corporativo próximo à Berrini.

Os executivos elogiavam sua eloquência e sua pronúncia, ela sorria e dizia que havia sido professora de inglês. Sabendo disso, outros funcionários, precisando melhorar as habilidades em inglês, passaram a entrar em contato e pedir por aulas.

Nessa mesma época, houve a mudança pra região da Chácara Santo Antônio. Meu padrasto, que está com a minha mãe desde que eu tinha 2 anos de idade, já morava do lado de lá da ponte, e isso facilitou bastante a vida da gente.

Foi através da rede de contatos que minha mãe construiu — sendo gentil com todas as pessoas, do porteiro ao CEO — e do trabalho de excelente qualidade que minha mãe executa, que ela passou a atender todas as maiores empresas da região. Ela estava na Compaq, depois foi pra HQ, e pra Microsoft. Atendia a conta toda da Purina até a transferência do prédio pra Alphaville.

Ela foi estudar em Londres, e depois no Egito.

Depois foi pra Cargill, para a Monsanto e para a Mitsui Alimentos. Atendeu a Lear, a Avaya, Boehringer Ingelheim, Pfizer, Novartis, Gemalto, e dava pra fazer um case de negócios sobre a vida da minha mãe.

Eu comecei a dar aulas de inglês em 2009, um ano antes de entrar na faculdade de Comércio Internacional com bolsa de estudos.

Em 2010, peguei a minha primeira conta In Company. Mas o meu plano de aulas era diferente, eu não era igual a ela. As minhas ideias vinham mais soltas, igual quando a gente tenta explicar o português pra outra pessoa — você sabe que tá certo mas não sabe o porquê.

Na faculdade, fiz 4 anos de Business English, e 4 anos de Français d’Affaires. Mas eu não sabia muito bem o que eu queria fazer, ao contrário da minha mãe. Porque eu era uma mais uma millennial contemplando a minha existência fútil. Até que eu engravidei aos 23 anos.

Valentina e eu, em 2015

E aí a coisa ficou muito feia. E eu estudei. Estudei muito. E daí vieram várias contas. Com a minha mãe e sem a minha mãe. Veio Samsung, Santander, veio Sodexo, Garrigues, Mitsui Alimentos, e mais um tanto.

Minha mãe é minha parceira. A gente alinhou as nossas estratégias de negócios, e a gente vivenciou o que era precisar trabalhar pra construir uma vida decente, com autonomia, pras nossas filhas, e a gente vivencia isso todos os dias. E é isso que mantém a gente se movendo. E o que nos diferencia de qualquer curso de idiomas.

Às vezes alguns alunos meus me dizem, que a característica mas interessante das nossas aulas é o aspecto humano. Do quanto é possível criar empatia o suficiente pra criar a atmosfera certa, e o vínculo com o aluno, pra entrar dentro do universo deles de uma forma precisa e conseguir transmitir o que eles realmente precisam.

Foi um dos elogios mais bonitos que já recebi sobre a minha profissão. Profissão que exerço com amor, e que me sinto satisfeita todos os dias em ter seguido firme estudando pra conseguir transmitir a minha percepção cheia de esquemas e insights meus pros meus alunos. Faz parte da minha metodologia.

Minha mãe é a mulher mais fantástica que eu já conheci.

E talvez vocês ainda ouçam muito falar da gente.

--

--

LANGUAGE COACH
F I E R C E

refreshing the concept of teaching business english in brazil — designed by the alvarenga girls