Quem sou eu

Kaue Natan Vezentainer
O que se passa com ele
8 min readOct 1, 2018

Já tem algum tempo que penso em escrever alguma coisa sobre mim. Pensei, pensei, pensei e pensei mais e, como boa parte das coisas que faço na vida, ficou só na ideia e não teve prática. Até que nos últimos dias meus sentimentos começaram a me atormentar outra vez como tempos atrás, dessa vez, achei que era hora de pôr tudo para fora.

Mas antes de escrever sobre o meu momento sentimental, vou fazer uma pequena linha do tempo sobre esse garoto de 21 anos. Acredito que a minha criação, o meu convívio com a família, meus tempos de escola e minha infância irão mostrar um pouco sobre mim. Vou resumir, mas acho que já irei conseguir dizer quem eu sou.

Para quem não sabe, não sou joinvilense. Nasci numa praia chamada Santiago, que fica no litoral norte de São Paulo. E diferentemente da grande maioria, o parto da minha mãe não aconteceu em um hospital ou maternidade, foi dentro da ambulância. Fui apressado e não deixei a Dona Maria chegar até um lugar apropriado para o parto. A ambulância parou na entrada da praia e foi ali que o procedimento aconteceu. Por conta disso, meu pai queria me dar o nome de Santiago, por conta do local onde nasci. Minha mãe não gostou nada da ideia. O argumento dela era de que me chamariam de Tiago e eles são bagunceiros.

Então, entra em cena a minha irmã mais velha, Kaline. Ela foi filha única durantes seis anos e incomodou meus pais por muito tempo, pedindo um irmãozinho. Com o pedido atendido, ela teria influência no meu pequeno inicio de vida mais uma vez. Ela comentou com os meus pais que gostava do nome Kaue, que era do amigo que ela tinha na escola. Seu Vilson e a Dona Maria gostaram e decidiram aceitar essa sugestão. Porém, meu pai não achou que Kaue Vezentainer soaria bonito e, como bom brasileiro, deu seu jeitinho. O nome completo da minha irmã mais velha é Kaline Natanaine da Silva, meu pai pegou o segundo nome dela e transformou em Natan. Tudo isso, quando ele subia a escada do cartório. Pronto, assim nascia Kaue Natan Vezentainer.

Só que meus pais acabaram tendo mais uma feliz surpresa. Minha mãe ficou grávida da minha irmã mais nova logo depois do meu nascimento. A terceira herdeira, Maria Alice Vezentainer, nasceu quando eu tinha um ano e seis meses de vida, o que mais tarde faria ela se tornar minha companheira em muita coisa. A gente morou no litoral de São Paulo, na praia de Juqueí até meus oito anos. Quando, por ter boa parte da família do meu pai aqui, além da minha vó paterna estar morando sozinha, viemos para Joinville.

Não ignoro a minha parte da infância vivida na praia, mas acredito que a convivência e meu desenvolvimento como pessoa se deu aqui, e por tal motivo, acho que seja interessante contar como foi a minha infância em solo catarinense. É nessa cidade que o futebol entra na minha vida, quando cheguei aqui os moleques da minha rua só jogavam bola. A partir do momento que comecei a brincar com eles, percebi o quanto era ruim. Por isso, meu pai resolveu me colocar em uma escolinha de futebol ali do bairro, a escolinha do Aventureiro. Graças a isso eu consegui aprender o básico: chutar, cruzar, trocar passes, fazer cruzamentos, dominar, usar as duas pernas e virei amigo da redonda.

Fiquei nela até os 13 anos, quando meu pai acabou sendo demitido da empresa onde trabalha, por conta da crise de 2008. Ele não conseguia mais bancar a mensalidade. Aí eu comecei a me dar bem nas brincadeiras da rua, fiz amizade super rápido com o pessoal e brinquei de tudo o que pude. Aprendi a andar de bicicleta, soltar pipa, jogar umzinho, três dentro três fora, sirumba, esconde-esconde, futebol e videogame. Esse último, rapaz, minha paixão até hoje.

Quando não podia brincar na rua, tinha minha companheira para tudo. A Mazinha (como chamamos minha irmã mais nova) foi a minha primeira grande amiga de brincadeiras. Como a imagem que eu tinha dos meus pais era a de que os dois podiam fazer os serviços domésticos, acreditava que podia brincar junto com minha irmã. Meus pais nunca se importaram de que eu e Mazinha brincássemos de carrinho, boneca, casinha, restaurante e videogame juntos. A Kaline só não fazia parte das brincadeiras porque já era mais velha do que nós e bem independente. Só que a minha brincadeira favorita com a Maria Alice era a de irmãos adultos. Eu guardo essa lembrança no coração até hoje, porque acho que era a brincadeira que mais gostávamos. A gente pegava os pratos da cozinha de brinquedo dela, sentávamos nas nossas camas (a gente divide quarto até hoje, desde quando nascemos) e decidimos qual carro a gente tinha. Aí era pensar no emprego, nos amigos, fingir que sai para comer, que ia dormir e muito mais. Tudo isso no nosso pequeno quarto, na casa de madeira que mais tinha cupim do que madeira.

A escola foi um período bem legal, a Kaline levava eu e a Maria Alice até a aula por um tempo. Depois, íamos nós e nossos amigos da rua. Sempre fui tido como um bom aluno, tirava notas boas, respeitava os colegas e os professores. Quando fui subindo para as outras séries, fazia amizade com o pessoal chamado de bagunceiro. Sempre me dei bem com todo mundo, apesar de ser pavio curto. O que nunca me dei bem foi com as mulheres, sim, eu tinha a impressão de que não era bonito e que elas não gostavam de mim. Bem, na verdade o que acontecia é que elas confiavam na minha amizade, sempre fui um bom amigo para as meninas. Só não subia para o nível da paquera, podemos dizer assim. Minha primeira paixão foi na oitava série, já tinha perdido o BV anos antes. Era apaixonado por uma garota da minha sala e todo mundo sabia, ela namorou dois meninos da nossa turma, que eram próximos de mim, naquele ano. Fizemos amizade, convivi em grupo com eles e segui em frente.

Da segunda série até a oitava, boa parte das minhas amizades eram as mesmas e foi no Ensino Médio que elas mudaram. Eu continuei na mesma escola, agora, estudando em tempo integral. Fiz novas amizades, descobri uma nova paixão que era o basquete e vivi momentos bem legais naquele ano. Chegamos ao segundo e um baque: a garota por qual fui apaixonado (e não esqueci no primeiro ano) iria estudar na mesma sala que eu, mais uma vez. É lógico que a amava e muito, percebi isso porque me aproximei dela e tinha os mesmos sentimentos que anos atrás. Foi bem difícil esse ano, mas muito difícil, porque nós nos tornamos melhores amigos e apenas isso.

Eu fiz muita coisa por ela, dei presentes, dizia que a amava todos os dias, fiz um caderno com poesias só para ela, era o ombro amigo para chorar e a gente viveu um ano inteiro juntos, mas só na amizade. O pessoal da sala me admirava pela forma que a tratava e tudo que eu fiz. Porém, no final daquele ano ela não respondeu minhas mensagens, não dava sinal de vida e eu fiquei angustiado.

Na volta para o terceiro ano, ela me mandou uma grande mensagem e meu coração desmontou. Nós não seriamos mais os mesmos amigos como antes e ela percebeu que era melhor manter distância de mim. Bem, eu não consigo guardar rancor das pessoas. Posso não gostar, discordar de muitas coisas, mas não consigo odiá-las. Por mais que elas me magoem, me entristeçam e me decepcionam, não as odeio. A minha vida seguiu e eu não queria mais ter os sentimentos que tive por ela por outra pessoa, eu me machuquei e isso não podia se repetir. Ele se repetiu.

Por mais que eu andasse na escola e percebesse os olhares das garotas, minha confiança sempre esteve abalada e eu nunca consegui ser um cara de atitude, achava que poderia ser nada demais e que eu não era uma boa pessoa. Até que uma menina, do primeiro ano, começou a conversar comigo. A nossa primeira conversa foi com o pedido de ajuda para um trabalho e depois, ela começou a contar o que passava com o namorado dela. Eu estava interessado nela e ela parecia estar interessada em mim, mas, na minha cabeça era errado termos algo. Ela tinha que decidir se continuaria com o namorado ou não e eu não queria forçá-la a nada. Afinal, ela tinha aquele relacionamento há tempos e ainda sentia algo por ele e queria ajudá-lo. Ela poderia ter um sentimento especial por mim, mas era ainda um desconhecido que poderia dar a ela os meus problemas que seu namorado. Eu nunca a beijei, apesar disso ter quase acontecido. O namorado dela descobriu, nos encontrou um dia e quis me bater. Eu fugi e nunca mais falei com ela.

Meus sentimentos por alguém mudaram, ainda fiquei com uma amiga de uma amiga por quatro meses. Só que eu estava tão desgastado com as experiências anteriores que acabei desistindo e não dei continuidade. Entrei na faculdade, comecei a trabalhar em um supermercado e me envolvi com uma menina que era aprendiz lá. Uma do[as coisas que eu mais me arrependo de ter feito. Ela tinha 14 anos, eu ia completar 18. A garota estava completamente apaixonada por mim, eu, não tinha uma paixão por ela. Mesmo assim, acabei aceitando começar um relacionamento com ela. Ficamos um mês juntos e eu disse que não podia mais ficar à enganando, afinal, eu não à amava da mesma forma. posso dizer uma coisa, a magoei demais pelo que fiz, por ter começado e ter deixado-a tão cedo. Fiz algo parecido com aquilo que sofri no passado. Fui babaca, imaturo e sem coração. É uma das coisas que mais entristece porque ela é uma garota incrível e eu a machuquei tão cedo.

Ainda fiquei com mais uma menina do supermercado, mas eu não estava seguro de que ela gostaria de ter algo e não a chamei para sair. Tempos depois, descobri que ela ficou esperando e se desapontou porque não tive atitude. Deixei o mercado e foquei na faculdade e aí, outro baque. Até hoje eu me considero um cara que não viveu grandes aventuras, sem muitas histórias para contar. Eu via as pessoas ficando nas festas com outras pessoas, tendo suas relações sexuais, bebendo e aproveitando a vida. Eu, bem, ficava em casa preso ao meu videogame. Por muito tempo, até hoje, minha maior diversão foram os jogos.

Sempre fui o garoto que todo mundo acha o certinho, sabe? Que era responsável, que cuidava bem da irmã, feito para casar, orgulhava os pais e outras coisas. De vários pontos de vista, isso é e não é legal. Mas aí é outra discussão e na faculdade eu passava essa impressão. Só que, mais uma vez, tive uma paixão por outra garota (uma das minhas melhores amigas na época e hoje, tempos depois, voltou a ser uma pessoa importante para mim) e ela também sentia algo por mim. Porém, fiz muita coisa errada e estraguei algo que poderia, ou não também, ter dado certo. Quem é próximo sabe disso, mas prefiro não expor com detalhes aqui por envolver uma pessoa próxima.

Depois disso, eu achei que o melhor era continuar assim. Me interessava pelas garotas, mas eu não tinha coragem de conversar com elas. Eu tinha medo de muita coisa, era inseguro com o corpo, com minha personalidade e achava que não era um cara legal para as mulheres. Tive problemas com pornografia, afinal, com 19 anos sem nunca ter namorado e ainda virgem, eu acabava tirando minha vontade com filmes para adultos. Lógico que não me orgulho disso, apesar de muitos considerarem algo normal para os garotos, mas sabemos bem as consequências que isso pode ter na vida das pessoas.

Bem, a vida seguiu e cá estou eu. Tenho algumas histórias para contar, estou em um relacionamento há mais de um ano e construí amizades na faculdade que me ajudaram em diversos momentos. Queria expor muitas outras coisas aqui, mas acho que o texto se tornaria muito grande. Talvez, com o passar do tempo, eu faça textos falando um pouco mais sobre meus relacionamentos de amizade e com minha família. Esse é um pouquinho do que sou, dos erros que cometi, das grandes experiências que vivi e daquilo que tive coragem de contar. Espero que vocês possam ter tido o prazer de me conhecer.

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Kaue Natan Vezentainer
O que se passa com ele

Jornalista, 26 anos. Um apaixonado por videogames, futebol e pelo mundo nerd.