Normal People: os dezessete segundos que representam o que é a série
Pra mim, se há uma cena definidora do enredo da primeira — e única — temporada de Normal People é Connell chegando na casa de Marianne, no segundo episódio, precisamente aos 10min e 19seg.
Connel caminha sem vacilar. Marianne o acolhe com a expressão de seu corpo, sem palavras. Passado, presente e futuro estão contidos nesse fragmento de tempo-espaço. Não há mais nada. Os amantes têm agora o mundo a seus pés. Resta esse lugar criado entre os dois, pelos dois.
Nessa dimensão de tempo não-linear, em que meias sem sapatos e mãos no bolso revelam desejo, vejo em Connel um Romeu tímido, desarticulado, que não se refugia nos arvoredos como o personagem de Shakespeare, mas em seu universo particular. Marianne é uma Julieta geniosa, solitária, mas dona de si e à espera de uma oportunidade para romper suas fronteiras.
Acho esse momento muito poético. A antecipação criada desde o primeiro episódio. A trilha sonora que começa na cena anterior, enquanto trocam olhares na sala de aula. O lugar da câmera espiando os passos de Connel ao mesmo tempo que revela uma Marianne desarmada, atravessada pela paixão.
Ela o espera como uma musa. Seu gesto desperta em mim um romantismo juvenil. Nesse pedaço de tempo o amor é esse troço doido de gente corajosa e inadequada. É um pequeno universo dentro do todo.
Sinto que a série inteira caberia nessa cena por causa do movimento de ir até o outro. E ir, nesse caso, significa também se deixar ser achado. Tudo o que foi feito se fez quando decidiram ser. E porque estão deslocados se encontram; e pela inadequação permanente a conexão é mantida.
Mergulhado na história segui até o fim para entender que estava tudo ali, naqueles dezessete segundos.
Normal People é uma série dramática de televisão irlandesa produzida pela Element Pictures para a BBC Three e a Hulu em associação com a Screen Ireland.
Onde: Hulu e Amazon Prime
Temporadas: 1
Episódios: 12
