Faça a Coisa Certa e o necessário contra-ataque do oprimido

Daniel Kubitschek
O Sétimo Blog
Published in
3 min readMay 4, 2017

Faça a Coisa Certa é um filme independente americano do ano de 1989, produzido, escrito, dirigido e estrelado pelo ícone do cinema afro-americano Spike Lee. Nele, presenciamos um dia na vida dos moradores de uma rua no bairro Brooklyn, em Nova York. A narrativa principal gira entorno de uma pizzaria que alimenta os moradores daquela que é apenas uma de muitas ruas do bairro. O dono do restaurante é um italiano, que comanda o local com a ajuda de seus dois filhos e tem Mookie (Spike Lee) como o entregador de pizzas.

Não bastasse ser um dia de calor insuportável, ele é também permeado por eventos que provocam enorme clima de tensão racial e ódio à população negra, que mesmo sendo majoritária, jamais deixa de sofrer as consequências do racismo.

Então estamos nos anos 80, na periferia mais famosa do mundo, um dos principais berços dos berços do hip hop. Entretanto, nada mudaria se estivéssemos hoje na quebrada da sua cidade, nela encontraríamos exatamente as mesmas coisas que estão no filme: racismo e violência, os dois sempre juntos, inseparáveis como gêmeos siameses e tão certos quanto o jovem negro assassinado pelo policial branco.

Esse é um filme sobre opostos que se chocam, preto contra branco, amor contra ódio, empregado contra patrão. Os mais variados tipos de violência aparecem, desde crimes de ódio e violência policial, até uma simples omissão em determinadas situações, que pode acabar significando muito.

É no mínimo ingênuo exigir que os jovens negros reajam a essa injustiça pacificamente, aguardando uma igualdade que não chega.

Aí entra o que torna a presença de Smiley representativa, apesar de curta. Ele é um personagem com uma deficiência intelectual que vaga pelo bairro vendendo cópias de uma fotografia onde Martin Luther King e Malcom X (cuja cinebiografia Spike Lee também dirigiu) aparecem sorrindo. Os dois ativistas tinham ideias muito diferentes de como lidar com a segregação.

A população branca aceita apenas os meios pacifistas que King propunha e geralmente vai contra os ideais de Malcom X. Este achava que a violência que nasce na periferia é simplesmente uma reação às mortes, humilhações e violência. O racismo é onda de calor insuportável, o dia mais quente do ano, sofrimento que não tem fim, escravidão maquiada que era apoiada em 1989 e ainda é hoje.

“Acho que existem muitas pessoas boas no país, mas existem muitas pessoas ruins, elas são as que têm todo o poder, e nessa posição bloqueiam coisas que eu e você precisamos. Essa é a situação, nós precisamos preservar o direito de fazer o que for necessário para acabar com isso, e isso não significa que incentivo a violência, mas ao mesmo tempo não sou contra ela como autodefesa. Eu nem chamo de violência quando é autodefesa, chamo de inteligência.” Malcom X

No fim das contas, nada é mais representativo do que a música do grupo de rap Public Enemy que abre o filme, “Fight The Power” (lute contra o poder).

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