O Último Cine Drive-in: algo de novo naquilo que é velho

Daniel Kubitschek
O Sétimo Blog
Published in
3 min readMay 15, 2017
Breno Nino interpreta Marlonbrando

Marlonbrando (Breno Nino) trabalha em uma fábrica no interior do Goiás, mas se vê obrigado a voltar para sua cidade natal, Brasília, quando sua mãe Fátima (Rita Assemany) é diagnosticada com uma doença grave. Em meio à doença, seu pai Almeida (Orthon Bastos, lenda do cinema nacional por atuação em Deus e o Diabo na Terra do Sol) luta para manter vivo o último cinema drive-in do Brasil, que está prestes a ser demolido, indo contra o inevitável advento das enormes salas 3D dentro dos shoppings. Uma declaração de amor ao universo cinematográfico, O Último Cine Drive-in (2015) pode quase ser considerado uma espécie de Cinema Paradiso brasileiro, ao mesmo tempo trazendo questões extremamente políticas que voltaram a ser pauta um ano depois com o grande sucesso de Aquarius (2016).

Lutar contra o conservadorismo é um dos maiores desafios enfrentados todos os dias por quem se preocupa em construir um mundo melhor para todos. Identificamos em nossos cotidianos costumes antigos que são o puro reflexo do racismo, machismo, LGBTfobia e outros. Estar de mente aberta para qualquer tipo de desconstrução e renovação é obrigatório, mas vamos tomar cuidado, a presença da novidade não implica necessariamente em descartar o que é velho, o passado está no meio de nós para evoluirmos a partir dele. Por que preservamos patrimônios históricos, assistimos filmes sobre a ditadura militar no Brasil, sobre o Holocausto? Pra não errar de novo, pra ninguém nos convencer que existe uma raça superior às outras ou que um torturador foi herói.

A revelação Fernanda Rocha, dá vida a Paula, funcionária do cinema

Então você pode dizer: tudo bem, muito bonito isso tudo, mas o que isso tem a ver com um cinema velho caindo aos pedaços? Se existem salas mais modernas, mais confortáveis? Pra que chorar com o fim de uma forma ultrapassada de cinema? Essa não é uma questão de evolução. O cinema de rua se tornou forma de resistência, uma resistência contra milhares de salas que têm em seus cartazes filmes comerciais, que visam lucro acima de tudo. Não digo que blockbusters devem deixar de existir, mas os longas que guardam essa aura do cinema não recebem por parte do governo um décimo do apoio cultural que merecem. O poder ilegítimo que tomou conta do país é o exemplo perfeito da prioridade que o capital tem sob valores como a cultura.

Filmes como esse têm o poder de congelar no tempo momentos únicos, trazem consigo o ímpeto de lutar pela existência do Cine Drive-in (que de fato funciona em Brasília no mesmo local onde o filme foi gravado e é o último do Brasil) ou pela preservação de um certo edifício Aquarius. A sugestão que o longa deixa e eu reforço é: vá ao cinema de rua da sua cidade, não deixe essas salas serem sucateadas, busque no passado aquilo que há de melhor, e torne isso eterno.

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