A conjuntura entre o desapego e a emoção

Edgar Dourado
O sexo e a cidade
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4 min readFeb 3, 2022

Ontem pela noite, um amigo meu me chama com o seguinte questionamento : Por que as pessoas fazem jogo de desinteresse quando estão se aproximando ?

Após a pergunta, ele esclarece que esse “desinteresse” é feito de uma forma um tanto quanto romântica, uma paquera, um charme, talvez alguma precaução. Cabe salientar aqui que o mesmo disse ser adepto ao “fale de tudo que sente de forma sincera” e que isso o prejudica quando encontra alguém oposto. Fica aquela eterna sensação de não saber como conduzir o tom da aproximação.

Confesso que estou em estado vegetativo na questão dos conselhos amorosos. Mudei de estado, de cidade, de vida. Estou naquela busca insuportável por emprego e até topando freelances e empregos remotos ( precisarem de um redator ou social media, já sabem ;* ). Além daquela ausência de toque : cidade nova, vida nova; não tenho amigos, não tenho colegas de trabalho, não tenho afetos… enfim, estou somente sobrevivendo nos meios digitais ( queria digitalizar e excluir minha nova vizinha que canta louvores em tom berrante com a mesma finesse vocal de uma galinha sendo degolada enquanto pega fogo). Onde diabos eu quero chegar com isso ? A confissão do meu amigo foi abruptamente cortada para o desabafo da minha vida, mas eu juro que no próximo parágrafo vocês entenderão ( ou não) a relação entre tudo isso. ~Música de tensão TAMTAMTAM

Eu sempre procuro correlações entre todos os aspectos, fases, posicionamentos, ações da minha vida. Como diz o ditado “ colocar tudo dentro do mesmo balaio, ou da mesma ecobag (sejamos modernos e sustentáveis)”. Recapitulando ( estou no modo humor e piadas atualmente, talvez para adoçar os traços amargos da vida); o que eu aprendi ao longo da vida seja no aspecto profissional, social ou amoroso/afetivo, é de nunca ser extremamente intenso e presente, ao mesmo tempo que precisamos sempre impor nossa identidade e personalidade. Estamos sempre naquela tocante do “ se aproximar para não ser indiferente, mas não tanto para não parecer emocionado”. Essa é a meta mais cruel e difícil da vida, acertar o tom exato da existência ( falando em acertar o tom, a vizinha tem um amigo com ela, e agora estão em uma disputa quase Glee, mas com a inexistência de talentos).

Como essa coluna fala sobre relacionamentos e como eu sou uma Carrie Bradshaw e não um Joseph Safra, irei me ater somente ao tópico do qual nomeei( roubei) minhas postagens.

Precisamos estabelecer antes de tudo o significado de emocionado ( palavras do meu amigo, não minhas, atirem paus e pedras nele dessa vez). O ser emocionado é ser carente, bobo, ingênuo. Cada dia que se passa o emocionado passa por uma ressignificação e incorporação de termos. O emocionado é tanto aquela pessoa extremamente sufocante e carente, como também aquela pessoa demonstra o mínimo de afeto e tratamento humano de forma carinhosa ( isso em breve irá gerar outro tema, atentos). Como diferenciar o tom certo no meio de tanto casamento de instantâneo (regado a monogamia e possessões) e relações sexo-relâmpago ( pautadas pela indiferença e falta de interação) ?

Eu adoro escrever sobre relacionamentos pois além de não precisar me ater a nenhum formalismo cretino gramatical ou acadêmico, eu passo horas levantando temas e questões para no fim não dar soluções. Imagina o que eu não seria capaz de fazer se eu fosse pago por isso !!!!!!!

Mas qual seria a solução das insoluções ?!(essa palavra existe ? kkkk). Bom, o primeiro passo, para a vida num coletivo, é o conhecimento. Não se pode esperar retorno de alguém em uma projeção sua, se você mesmo não sabe o que diabos quer da vida. Não há padrão certo ou comum ( desconsiderando os que tentam forçadamente nos empurrar); então quanto mais você souber sobre si; o que quer, o que não quer; o que gosta, o que não gosta; mais perto de você encontrar o outro estará. Não digo que será fácil encontrar alguém como você, as vezes essa pessoa simplesmente nem existe. Ponto. Porém, o seu conhecimento não só não irá te guiar pelos caminhos que você preestabeleceu, como também irá te ajudar a ponderar menos ou mais as pessoas. Tudo é um processo de seleção e aprendizado. Quanto mais preparo estivermos para a emoção repentina ou a indiferença indolor, mais preparados estaremos para alcançar nosso acerto.

Ah, e detalhe… até quando acertarmos em algo, ainda assim estaremos errando em algum fator. E bom, a graça de tudo isso, convenhamos , é o erro. A grande questão no fim não é o tom da conversa, qual o limite máximo e mínimo de cada relação e nem nada disso. O nosso preparo deve ser outro. Estamos preparados para errar ? E mais importante ainda, estamos receptivos para os erros de outros ? Fica a solução dúbia para a incógnita constante.

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Edgar Dourado
O sexo e a cidade

Designer, Ator, cronista do caos e Carrie Bradshaw Tupiniquim. Escrevo sobre o que der na telha. Instagram: edgar_dourado