A pessoa certa (?)

Edgar Dourado
O sexo e a cidade
Published in
4 min readMar 25, 2022

Um clichê de gênero; um assunto constantemente rebatido; uma alegórica retratação do ser que nunca o é; uma análise tão rasa quanto um livro teen best-seller de meia década que acaba amontoado em uma prateleira da Americanas ao lado de jujubas e chocolates vencidos, todos custando 5 reais… Enfim, acho que chegou a hora de falarmos sobre a pessoa certa rs.

Como foi dito em algum parágrafo do último texto que foi postado um dia ai que se sobrepõe a relatividade do tempo ( poetizando cada frase possível para mascarar a inabilidade de escrever algo sobre); eu me mudei de cidade, reclamei da falta de comunicação entre relações, fiz uma busca ferrenha por alguma vaga de emprego, procura por amigos, romance (?) e todo aquele processo de desbravador em uma terra nova.

Resumo da ópera : Consegui emprego ( o currículo de três páginas ainda me vale de alguma coisa); reestabeleci diálogos com antigos afetos e enterrei de vez algumas questões; fiz alguns amigues; e… após retornar a certo aplicativo do qual não me orgulho… e após algumas experiências de encontros e dates… e de muita análise, terapia e filmes franceses… acho que… de certa forma… encontrei um alguém…

Esse alguém até então não vem ao caso. Bom, ele vem, mas não vem. Acho que ele e essa relação é bem mais significativa do que eu poderia escrever, não que eu não irei, mas ele merece um textinho exclusivo e separado para isso. De toda via, juntando as experiências da nova (e por incrível que pareça, consciente) paixão e as conversas idiossincráticas e deleitáveis que ocorrem com as pessoas mais “ oh my god shes crazy” da firma, eis que surgiu o inevitável debate da pessoa perfeita. Ô saco.

Nascemos e somos cercados por ideais a nós impostos. O emprego dos sonhos, a casa da Barbie, o corpo da revista, o salário astronômico e sobretudo, a pessoa perfeita. Aquela que irá casar com você ( mesmo que você não queira), te dar filhos lindos ( mesmo que você não queira), te proporcionar alegria e prazer o tempo todo ( mesmo essa pessoa sendo extremamente pedante) e do nada essa pessoa irá mudar sua vida, tirando seus sonhos e os materializando.

Confesso, com um pouco de culpa e peso na consciência, que não acho errado corremos atrás de uma idealização, se isso realmente trouxer felicidade e se for viável. Ainda acrescente que crescer ( com os sonhos te acompanhando ou não) não é dolorido, é a parte fácil da vida. O difícil é quando você cresce e percebe que suas idealizações não só são quase impossíveis, como também se da conta de que todos aqueles que alimentaram seus sonhos durante toda sua vida, serão os primeiros a puxarem seu tapete e te golpearem de todas as formas possíveis. Esses golpes, por vezes, doem até mais do que a realidade que será vivenciada mais cedo ou mais tarde.

Vamos aos fatores, uma criança alimentando sonhos lindos, uma vida adulta sendo golpeado por todas as partes. Pela união dos fatores, aquela criatura que constantemente é atacada, uma hora irá reagir. E essa reação ocorre na desestruturação de tudo aquilo que foi criado. Costumamos nos privar do amor, das relações, das interações. Tudo é uma repulsa, nada é divino, nada é sagrado, nada é maravilhoso ( esquerdomacho citando Belchior ? Presente !).

Eu sou a primeira pessoa a falar para aderirmos os defeitos, até porque né, somos todos defeituosos. Alguns mais, alguns menos. Mas todos, todos defeituosos. Pensar e almejar a pessoa perfeita não é sonhar prosperar com alguém isento de defeitos, não somos unilaterais, e mesmo se fôssemos, ser todo certo e perfeitinho se não for defeito, é falha de caráter.

Claro que eu também não quero induzir ninguém a sair abraçando todo doido que se manifesta na rua. Não é para ter atração pelos problemáticos, a adolescência já passou. Mas para colocar em voga aquele exercício de ponderar cada pessoa em relação a ela mesma, a si e a ambos como um todo.

Se já temos conhecimento de nossas falhas e acertos, e se já procuramos as mesmas em todo ser humano do nosso enlaço, por que não colocamos em prática a procura pela pessoa perfeita ? Não precisa ser um ser mágico da disney , nem alguém que viva em sonhos. Mas traçar aquela pessoa consistente que caminhará do seu lado, te segurando e se apoiando em ti também. Já não parece a atitude certa ?

De todos os padrões, químicas, sexualidades, modelos de vida, o prazer e bem estar sempre foi o método de procura que une todas as vivências e situações. Tendo fé nessa ótica, não custa se aventurar um pouco e encontrar aquela pessoa ( ou pessoas) que te complete. Com o filtro e análise certa, talvez até a pessoa errada pode ser a pessoa certa. Uma análise cafona ? Absolutamente. Mas as vezes a cafonice também pode enfeitar a alma daqueles que necessitam de adereços.

Só consigo terminar isso dizendo que existe certezas em ser incerto, tudo bem continuarmos tentando errar até acertar.

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Edgar Dourado
O sexo e a cidade

Designer, Ator, cronista do caos e Carrie Bradshaw Tupiniquim. Escrevo sobre o que der na telha. Instagram: edgar_dourado