Afinal, quanto tempo para superar ?

Edgar Dourado
O sexo e a cidade
Published in
3 min readOct 19, 2020

Uma semana se passou após o primeiro artigo, e quase um mês após o ocorrido. Ouvi diversos amigos, inúmeros conselhos; tomei ações diversas e passei uma semana preso em uma playlist onde mulheres brancas depressivas estavam em contato com o seu mais profundo eu interior. Ouvia Joni Mitchell e Maria Bethânia e sofria vivendo cada música.

Na semana seguinte, tendo uma mudança de hábitos, desvendei o poder de uma diva pop e músicas de superação. Revisitei a sempre excelente discografia da Beyoncé e descobri que Rare, o último álbum da Selena Gomez, tem uma qualidade maior do que eu havia percebido anteriormente. Mas não estou aqui para falar sobre música.

A ausência em meu peito. Quanto tempo levaria para passar ? Seria rápida como muitos disseram ? Iria doer a vida toda, como outros infelizmente me informaram ? O que teria eu de fazer ?

Fiz a mesma pergunta sobre o tempo de superação quando, ao entrar no Twitter, vejo-o falando sobre um date marcado; aparentemente ele não estava na mesma onda de desolamento que eu. Fiquei feliz por ele estar indo em frente e ter até date marcado, acabei comprovando que sou uma pessoa muito evoluída. Fiquei mais feliz ainda dois dias depois, quando ele postou que levou um bolo e não teve nada; o que atesta que apesar de tanta compreensão, eu ainda sou humano.

Um dia desses, encontrei por um acaso um amigo na rua, eu estava saindo da psicóloga e ele indo para casa acompanhado de um conhecido. Falamos bem brevemente, mas ao chegar em casa recebo uma mensagem informando que o amigo dele teria gostado de mim. Essa foi a primeira vez que eu furei a quarentena sem ter um motivo realmente necessário, peço aqui meu perdão. Ele me buscou de carro e fomos à praia, era de noite e estava tudo vazio, um alívio para a minha consciência. Conversamos, beijamos e voltamos para casa. Foi simples, venci o nervosismo e percebi que ainda levo jeito para encontros; mas não foi tão bom quanto das outras vezes. A presença do coração partido ainda estava em mim.

Esperei algumas semanas e não tive nenhum sinal de vírus, ótimo. Também não confirmei um segundo encontro, não estava preparado para mais um envolvimento, mesmo sendo descompromissado, e pra ser franco, não sei se realmente queria. Falei sobre isso com alguns amigos e eles falam que é desse jeito que se supera.

Isso é válido ? Devo eu sair por ai com outras pessoas estando ainda magoado ? E o que será dessas pessoas ? Onde fica a responsabilidade ou afetividade em momentos assim ?

Segui a vida nas ânsias internas, porém parei de remoer meu sofrimento, tinha problemas maiores do que os sentimentais para resolver. Os dias passaram, alguns com desleixo, outros com comodidade; e eu posso dizer que eu “superei”. É claro que ainda tenho sensações lá no âmago do coração; vez ou outra ainda me dói qualquer descoberta, principalmente por estarmos ainda nas redes um do outro; melhores amigos do Instagram e aparições no Twitter mantém uma falsa ideia de intimidade e contato. Preciso me recordar que isso tudo é virtual e que o passado pertence somente ao passado. Queria poder citar Bauman e falar sobre relações modernas e líquidas, mas já bati a cota de todos os clichês nesse texto.

Nesses tempos pandêmicos, não conferi o calendário, então não sei ao certo quanto tempo levou para não mais sofrer. O que parecia uma eternidade, agora são fragmentos temporais descobertos por lapsos de memória. É muito cruel a interatividade do coração.

Pessoa, eu sei que você está lendo isso nesse momento. Tenho coisas inúmeras para pontuar e falar, mas acho que já invalidamos nossas interações, certo ?! Então como um resumo da obra fique com meu “Obrigado”. Obrigado por tudo, pelo amor e pela dor. Obrigado também por me relembrar de todas essas emoções. Agora eu sei o que devo sentir e como reagir; porém, retomo o controle sobre o meu eu, aquele compartilhado com você não mais existe.

Em tempos de reflexões e autodescobertas, fui além de descobrir o tempo que levo para superar um coração partido. Estou indo para a descoberta do por quê eu ter me perdido assim; hora de voltar para o ser hermético e estruturado que eu fui e novamente serei. Voltemos a programação normal, e preocupações sobre o assunto que será tratado próxima semana.

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Edgar Dourado
O sexo e a cidade

Designer, Ator, cronista do caos e Carrie Bradshaw Tupiniquim. Escrevo sobre o que der na telha. Instagram: edgar_dourado