As configurações da evolução quanto o sentido amoroso ou Uma perspectiva sobre Closer-Perto Demais.

Edgar Dourado
O sexo e a cidade
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3 min readNov 6, 2022

“Algo é muito mais divertido quando é difícil” — Eleanor H.Porter

Nas incasualidades da vida, um amigo de uma amiga me adiciona no instagram e puxa assunto. Retorno a mensagem quando o mesmo posta um trecho do filme “Closer- Perto Demais”. A personagem de Alice Ayres para mim é um ser fascinante. Sua compostura e sua influencia direta na vida de três pessoas me seduz de alguma forma inexplicável. Eu queria ser ela visto que eu já sofri pelas dores dela.

Analisando menos superficialmente, acho que já me enquadrei em pelo menos três dos quatro personagens. Todos são umas conjunturas de falhas e incoerências, por vezes por necessidade, por vezes como reação e indução. Já me entrelacei por diversas situações incólumes e não perenes, mas não falarei disso. Atualmente eu estou me presentando com o não relato dos meus abusadores.

Como disse, já vivenciei três dos quatro personagens. Excluo aqui o Jude Law pois sinto que sua persona é a única ali presente que realiza imoralidades por um simples mau-caratismo. E falha de caráter para mim é uma das poucas coisas no mundo onde não há perdão.
Não me eximo de culpa aqui, talvez já ocorreu de ser eu o mau-caráter na versão de alguém, mas enquanto não o fiz de súbita consciência e até onde for o escritor de minha própria vivência, eu hei de usufruir do meu perdão ( e se auto perdoar ultimamente é um luxo tão raro quanto um Vermeer na parede).

Recapitulação, fui questionado quanto minha ilustre opinião a despeito do filme. Replico aqui minha resposta: Eu evolui. Não posso mais afirmar o que penso sobre o filme pois a dor e o prazer que obtive naquela época da minha vida, talvez, não faça mais sentido na pessoa que sou hoje.

A qualidade da obra segue irrefutável, seus efeitos sobre mim que não me são constantes.

Isso se aplica no amor também. Quantas vezes não rompemos sentimentos por alguém de quem nem lembramos o nome ? Quantos efeitos de escolher uma coisa e perder outra já não vivemos ? De quantas situações nós não entramos por já ter vivenciado e sentido a mesma antes ?

É impossível esquecer tudo, claro. Jamais perdoarei àqueles que a mim causaram mal, da mesma forma que não me perdoarei por me submeter em tal situação. Assim como serei eternamente grato aos bons momentos e ao amor que recebi daqueles que já não estão. Mas com o corrimento do tempo, o sentimento antes fincado vira racionalização por toda a obra.

A nossa vida, mesmo insossa, também é uma arte.

No processo evolutivo, se nos podarmos para tal, é importante nos desligarmos do que já foi feito para nos lançarmos ao que ocorrerá. Não estou banalizando sentimentos nem vindo com o discurso tosco de que tudo vai passar. É importante mantermos nossa dor conosco.
Mais importante ainda não é cultivar nossa dor como aceitação, mas a ter ali como instrumento de alteração e mudança.

Quero ter contato com minha dor e a irei conduzir na dança coreografada da minha vida. Mas sustentarei essa dor única e somente para me lembrar de não mais a vivenciar novamente. É pela dor que eu me desligo de situações que ainda virão a acontecer, é pelo amor que eu me abro e me lanço nas mesmas.

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Edgar Dourado
O sexo e a cidade

Designer, Ator, cronista do caos e Carrie Bradshaw Tupiniquim. Escrevo sobre o que der na telha. Instagram: edgar_dourado