Namorar, como verbo transitivo direto.

Edgar Dourado
O sexo e a cidade
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4 min readAug 3, 2022

Pesquisando por “namorar” no google, recebemos seis significados e diferentes flexões verbais. A língua portuguesa brasileira realmente é um deleite ( e eu faço questão de ser errôneo sempre que possível). Enfim, tantos significados para a mesma coisa catastrófica e delirante que insiste em permear o nosso cotidiano ( inserir emoji vomitando).

Todo texto é o mesmo esqueleto: Eu faço um título mais ou menos chamativo, escrevo um primeiro parágrafo que tudo diz e nada representa, divago horrores nas linhas seguintes, finalmente destrincho o que eu queria dizer com o título e termino com uma frase impactante que ainda por vezes cafona, me fornece um certo orgulho ( vocês gostam da cafonice, eu sei que gostam). Como esse texto não haverá de ser diferente, eis aqui a contextualização.

Chamei um amigo ( mais novo em idade e experiências) para assistir um filme comigo no domingo; ele perguntou se poderia trazer um ficante ( o número não sei qual da vez) mas que desistiu pois não daria nada certo. Em seguida ele emendou que é uma pena esse “não dar certo”, visto que ele beijava bem e que os momentos ao lado dele eram ótimos. Eu interrompo dizendo que talvez as construções imaginativas de um futuro possível não deem certo, mas que nesse presente instante tudo o que aconteceu já deu certo.

Além dessa puta reflexão filosófica, eu emendei que ele ainda é muito novo para embarcar num namoro ( todos nós não somos ?); falta experiências, maturidade, dinheiro, e todo o mais. O melhor seria aproveitar esse momento de solteirice até a hora certa surgir (Deus, como eu odeio falar hora certa). Ele concordou com as questões ponderadas e veio o autoquestionamento “ Por que eu sou assim ?”

“ Por que eu sou assim ?” Não somos nós todos assim ? Criados por uma cultura heteronormativa patriarcal com estigmas de monogamia potencializados pela mídia e pelo capitalismo nosso de cada dia, é meio improvável não mentalizarmos e estigmatizarmos uma vida assim. Não é certo, tampouco errado. Já debati esse tema aqui outras vezes, e como já me expliquei no segundo parágrafo, não farei arrodeio com o assunto. Mas é que…

Falar sobre a vida de solteiro me é muito atrativo, e para quem me conhece por detrás dessa coluna textual se surpreende, visto que, de maneira chocante, quase improvável, aquém de tudo que eu prego e perpetuo, eu estou em um relacionamento monogâmico, e estou muito bem obrigado. Devo perpetuar que estou bem, feliz e saudável nessa relação ( adeus textos depressivos que garantem meus likes), porque o tópico que irei tratar agora pode trazer algumas dúvidas, e tudo o que eu menos quero é ter de me explicar.

Eu adoro a vida de solteiro. Sobretudo a minha vida de solteiro. E eu nem falo sobre sair em outros dates e pegar geral ( eu até beijei um menino em uma festa junto com o meu parceiro, talvez eu tivesse gostado antes, mas dessa vez estou tão envolto na paixão monogâmica que fui incapaz de sentir qualquer deleite e tive certeza que não repetiremos a experiência tão cedo; meu senhor esse parênteses é quase um parágrafo). Enfim, eu falo questão da minha autonomia, de comer no restaurante que eu quiser, se eu quiser. De me aventurar em passeios, viagens com outras pessoas. De ir ao cinema quando eu quiser. De ficar sozinho em silêncio absoluto. De poder chorar e sofrer e me lamentar , sem ser confortado.

Eu realizo todas as experiências com meu conjugue (risos); inclusive eu estou em uma relação tão aberta e segura, que conversamos e nos adequamos ao que é melhor para ambos, sem pressão, sem discussão, sem discórdias. São esses casos raros que me contradizem e que me fazem apoiar a monogamia e a procura por um amor de forma incansável. Em suma, tudo que eu fazia solteiro posso fazer acompanhado, e ter conforto e amparo nas horas de tormento é uma sensação que todos deveriam obter. Viver com ele foi um achado único, uma roupa linda perdida entre roupas de idosos e de mortos em um brechó escuro do centro.

Alcancei um patamar dificílimo e diariamente eu trabalho para a manutenção e sustentação do mesmo. Se um dia terminarmos ( o que espero, ser apenas uma teoria desagradável), eu já saberei o que irei querer em um relacionamento futuro, e como já tive o melhor, não me submeterei por menos do que já me foi conhecido. Procuro minhas submissões pois tive aprendizados pelo amor e pela dor. E foi durante o meu eu solteiro que eu pude obter diversos aprendizados, claro que o “durante” da relação me foi e é muito válido, mas o antes e o depois, como uma pessoa solo, me possibilitou cutucar e tocar medos, anseios, felicidades que só eu arrancaria de mim. É com a estabilidade como pessoa que eu pude construir a estabilidade e a instabilidade como casal.

Em um mundo que força rupturas cada vez mais não binárias e apolares, se conectar, namorar e terminar com você mesmo, é um fator primordial para a manutenção da espécie relacionamento-sapiens. São as projeções que fazemos em nós, que nos motivará as construções da persona, estabelecido em seu próprio ser, você conseguirá achar a saída de sua caverna e adentrar num campo de nossas probabilidades vulgo pessoas.

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Edgar Dourado
O sexo e a cidade

Designer, Ator, cronista do caos e Carrie Bradshaw Tupiniquim. Escrevo sobre o que der na telha. Instagram: edgar_dourado