O desencanto do fim da paixão

Edgar Dourado
O sexo e a cidade
Published in
3 min readSep 27, 2023

Recentemente eu passei no X-Twitter por um trecho que falava o seguinte “é muito gostoso quando a paixão por x pessoa passa e você vê que suas qualidades eram todas fruto da sua cabeça e encanto”.
Eu martelei esse texto durante muito tempo; em partes porque eu já vivenciei essa experiência de ver a pessoa por além do prisma de encanto; em partes porque eu, a todo custo, tento fugir desse olhar apaixonante.

Vejamos bem, se fulano é feio, sem talentos ou algo relacionado e eu namorei com ele; é minha culpa ter passado por isso porque eu que assim o quis. Não adianta eu tentar reformular ou passar por cima de algo. Aquele tempo em que eu apaixonei e amei já foram gastos. Claro que quando estamos conhecendo alguém, quando o clima está favorável ou quando estamos no encanto, tudo é mais sucessível a ser positivo. É por isso que eu prezo pela análise de qualidade e danos.

Sim, todo mundo tem seus defeitos, é fato. Não há como escaparmos disso, então o que nos resta é o enfrentar. Será que eu vou conseguir conviver com a parte ruim do outro? E será que ele irá conseguir encarar a minha parte ruim?

Passar por um término é enfrentar um luto. Tem suas fases e durante elas tem o momento de raiva, rancor, tristeza. Tem também o momento da celebração e aceitação. É um vai e vem e nessas idas e vindas tudo pode acontecer.

Eu procuro não focar mais pelo erro do outro, porque sei que eu também tenho meus erros. Eu já tive péssimos namorados que foram excelentes para outros. Eu já fui excelentes para vários e péssimo para outros tantos também. E durante muito tempo eu tentei me agarrar nesse pessimismo e negatividade, mas eu não compreendia que se eu amei alguém por seu carinho e inteligência, também amei por seus ciúmes e descuidos.

No meu recente término, uma das pautas do fim foi que ele não conseguia mais lidar com minhas variações de humor e meu comportamento bruto.
Eu questionei o porquê disso agora, visto que ele me conheceu sendo bruto e que minha bipolaridade não só não era segredo como também era algo que vivo em tratamento intenso. Nada ali foi do nada.
Ele concordou, mas disse que na época a paixão fazia-o ignorar todos esses aspectos; mas que agora a paixão havia passado e ele não aguentava mais.

Eu não condeno o fim. Sei que é uma barra lidar comigo e francamente, eu também não me namoraria. Mas o condeno por ter tratado isso como algo da paixão e não algo a ser tratado para além disso.

Esse é um dos perigos de se ver somente no olhar romântico e não realista. É algo que acaba fugindo um pouco para o perigo de se ter uma história única.

Esse não é um texto para falar mal do meu ex, que inclusive talvez tenha mais o que falar de mim do que eu dele. Esse é um texto para olharmos para o outro com um olhar mais lógico.

Falando em ex, um dia eu ri sozinho ao passar pelo storie dele e não o achar bonito. Veja bem, ele não é feio nem nada do tipo; só não o vi com aquele olhar que tinha antes. E volto ao prisma inicial, se não o achei bonito, não quer dizer que eu o ache feio. E se eu o achasse, errado de falar que namorou um feio seria eu, não ele. Concordam?!

O desencanto do fim da paixão é importante para nos ajudar a aceitar o fim das relações, mas também cai no perigo de nos livrar de nossos erros e cair em falsas acusações ao terceiro.

Que sigamos firmes e confortáveis com os nossos fins, mas que abracemos também nossa responsabilidade e não mais apedrejemos o outro pelas pedras que deveriam vir para nossa direção.

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Edgar Dourado
O sexo e a cidade

Designer, Ator, cronista do caos e Carrie Bradshaw Tupiniquim. Escrevo sobre o que der na telha. Instagram: edgar_dourado