Cem dias
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Um amigo me contou que leu em um livro sobre fotografia que as primeiras dez mil fotos tiradas por alguém serão, inevitavelmente, horríveis. Acredito que o mesmo se aplica à escrita. É necessária a criação de centenas, ou milhares de textos, até que nasça, por fim, algo bom. Foi a partir dessa conversa que decidi que, durante os próximos cem dias escreverei textos, de maneira um pouco diferente do que venho fazendo há anos, nos meus caderninhos, ou em cartas, ou em cartões de aniversário.
Por diversos motivos, eu não exporto dos meus caderninhos as coisas que escrevo diariamente. Muito do que coloco ali, de fato, não passa de uma autoescrita, onde me registro, sem muito compromisso com o sentido e a forma de tudo. É quase um ritual.
O tempo vai passando e eu continuo rabiscando as minhas perguntas, os meus planos e os meus sonhos, nas páginas das dezenas de cadernos que acumulei. Já devo ter escrito alguns quilômetros de coisas sobre o que senti e pensei até aqui, se esticasse lado a lado as palavras colocadas no papel.
Então, certamente, não escreverei aqui o meu primeiro texto, ao contrário do que eu pareço estar me propondo a fazer. Mas, escreverei, ao longo dos próximos cem dias, textos que não precisam ser bons para nada. Nem úteis para ninguém. O único motivo é a necessidade. Preciso escrever e preciso continuar a experimentar rabiscos fora do papel.