O sincero mistério das coisas pequenas
--
Quando eu era criança, meu avô me contava sobre as estrelas, sem nem o nome delas saber. Porém, segundo ele, de tempos em tempos ele via o nascer e o apagar de algumas — e isso já era o bastante para que ele pudesse me contar sobre o que se passava lá no alto.
Cresci pensando que os maiores mistérios da vida estariam no céu e que olhar para o alto e compreender do que aquilo se tratava seria uma tarefa para a eternidade. No entanto, descubro aos poucos, enquanto tento observar o que existe ao meu redor, que o maior mistério vive é do lado de dentro mesmo. Ser gente é brilhar um invisível e guardar no próprio interior o sincero mistério das coisas pequenas que habitam o mundo.
Agora, tenho em minha frente uma parte de uma serra da qual me sinto pertencente. A Serra do Espinhaço tem uma força sublime, que se impõe a mim, silenciando-me calmamente, enquanto me lembra: essa Serra ficará quando eu passar. É bom poder me lembrar do tamanho das coisas, é bom me sentir pequena diante do mundo e do tempo.
Nesse hiato da história do mundo pelo qual eu atravesso, percebo que dentro de cada ser é possível encontrar os mais sombrios demônios e o mais nobre dos anjos, ao mesmo tempo. Basta ter olhos que veem. Nada é bom ou mau em essência, tudo coexiste em toda parte. Já sabendo disso, Fernando Pessoa escreveu que “Deus ao mar o abismo e o perigo deu, Mas nele é que espelhou o céu”. Tendo a crer que os poetas desvendam, fio a fio, todos mistérios do mundo e até mesmo os mistérios do céu.