A experiência de ir ao cinema sozinho

Lincoln Ferdinand
I tweetcetera I
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5 min readMay 29, 2015

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E a falta do que falar sobre Mad Max

Antes de ver o novo filme do herói solitário eu já percebi a sua força pela quantidade de textos circulando na internet e tentei me manter longe de qualquer opinião. Porém, o tanto de gente falando sobre ele o tempo todo me deixou mais empolgado para ver logo.

Acontece que eu vi “Mad Max: Estrada da Fúria” no último final de semana e não senti nenhuma vontade de escrever sobre o dito cujo, como está sendo feito aos montes e como eu faria em outras ocasiões. E não é porque não gostei do filme. Na, verdade achei show de bola, um filme que dá muito o que falar. Mas não queria ser repetitivo. Já tinha uma turma boa falando a respeito e de pontos de vista variados (um dos textos mais badalados está aqui, de Larissa Palmieri. Leia se quiser saber sobre o filme, porque eu não vou falar nada).

Então, sábado passado me deparei com uma situação que há tempos não acontecia. Estive diante da possibilidade de assistir a um filme sozinho no cinema. Isso não acontecia desde 2011 quando fui ver “Meia-Noite em paris”. Não tenho muitas oportunidades de viver essa experiência. Quando não tem uma galera, minha esposa sempre me acompanha. Nesse dia ela estava dando aula e eu resolvi esperar vendo Mad Max.

E parece que eu tinha esquecido da magia que é contemplar um filme bom numa tela enorme, sala escura e com algumas poucas pessoas (e todas interessadas, o que ajuda na experiência). Sempre demonstrei meu desconforto em ver filmes de grande bilheteria porque as salas ficam esborrotando e a maioria das pessoas está ali para se divertir com os amigos e não experimentar o cinema em sua plenitude. Gente que se preocupa mais com o lanche que vai levar do que com o filme que vai escolher. Sou chato vendo filme, admito.

Explicando o meu contexto, na minha cidade (a que eu morava até quatro meses atrás) o fraco cinema do shopping só exibe filmes do grande público e raramente há cópias legendadas. Isso me fez não ter mais vontade de apreciar uma produção esperada na tela grande. Não sentia mais gosto nem me animava mais. Fora que o repertório deles poucas vezes me interessava.

Daí eu me acostumei com o bom e velho Netflix e aos recursos milagrosos do download, esquecendo das grandes salas por um tempo, e tendo o conforto da minha casa (com o laptop conectado à televisão) como principal fonte de projeção das emoções que o cinema nos proporciona.

Voltando, quando percebi, estava com tempo sobrando e o cartaz de Mad Max na minha frente. Pensei: por que não? — Meus pais sempre falavam que assistiram a todos os outros da franquia no cinema e eram viciados. Cresci ouvindo as histórias das várias vezes que eles tinham visto um grande clássico na telona. Aqueles que fazem qualquer cinéfilo mais jovem ter inveja por não ter nascido na época de lançamento.

O horário era bom. Tinha no máximo uma dúzia de pessoas na sala. Entrei faltando um tempo para o início da sessão, escolhi um lugar ao meu critério e esperei aquele momento começar. Como foi bom. Não tive que depender de ninguém, de nenhum amigo que atrasaria nos fazendo entrar depois do início, não havia gente desinteressada e conversando toda hora, todos curtindo o filme da maneira mais pura que poderia. Foi lindo.

Depois que terminou pude ficar até o fim dos créditos e não ouvir um indelicado:

“Homi, num vai ter nada não, depois. Já me disseram”

Pra mim o filme só termina quando a música acaba e a tela fica preta. Quando saí da sala já tinha gente entrando para a próxima sessão. Aquele momento foi só meu e ele foi do jeito que eu queria. Curti o filme mas não foi ele quem me despertou vontade de escrever. Saí com o desejo de expressar como eu havia gostado de reviver uma experiência desse tipo. Precisava falar como é bom ver um filme sozinho e da maneira como você gosta.

Não estou dizendo que não é possível ter um momento agradável no cinema estando acompanhando, ou quando a sala está lotada. E sim que, vez ou outra, praticar o individualismo pode ser uma boa opção. São vários fatores que interferem no resultado da apreciação, desde a situação emocional que você se encontra ao tipo de filme que será assistido. Varia de pessoa pra pessoa. Faz o teste qualquer dia desses.

Se você nunca foi ao cinema só, se acha que não tem lógica ou que pode ser chato, tire essa ideia da cabeça.

Dê uma chance à sétima arte e tente experimentar a situação. Escolha um filme que você sabe que tem tudo para ser bom. Aquele que você já espera o lançamento tem um bom tempo. Daquele diretor que você acompanha desde que se entende por gente. Não convide ninguém. Simplesmente compre o ingresso e vá. Depois venha aqui e conte qual foi a sensação.

E se você já tem esse hábito e costuma praticar o isolamento no cinema, conte aqui pra nós. Vamos conversar.

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Lincoln Ferdinand
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Constantemente dizendo o contrário do que eu disse antes. Pode me perturbar em lincolnferdinand@gmail.com