4 de Julho

Uma Revolução e Incontáveis Consequências

Kaio Torres Dias
O Veterano
4 min readJul 7, 2021

--

Image by WikiImages from Pixabay

Em junho de 1776, um comitê composto por cinco homens — entre eles um escritor, um advogado e o filho de um fazendeiro — escreveu um documento que declarava a independência de um pequeno grupo de colônias perante a maior potência econômica e militar da época. Certamente, para muitas pessoas que viveram no período, o conhecimento desse evento foi encarado com choque, descrença e — dependendo do local onde vivia-se — pontadas de medo ou de esperança. No entanto, independentemente do que qualquer um pudesse falar ou pensar a respeito, a declaração era real e sua assinatura, em 4 de julho do mesmo ano, mudaria o mundo de formas imprevisíveis. O tal escritor se chamava Benjamin Franklin, o advogado, John Adams, e o filho do fazendeiro, Thomas Jefferson, e o documento viria a ser nomeado como Declaração de Independência dos Estados Unidos.

Não há como discutir a importância desse famoso pedaço de papel sem pensar em sua consequência mais notável e imediata– a fundação da próxima grande potência econômica e militar do planeta. Porém, ao mesmo tempo, não é possível ignorar todos os impactos, práticos ou simbólicos, que essa declaração teve sobre o mundo. Dessa forma, ao invés de analisar a influência que os EUA tiveram sobre o planeta desde a sua independência, o presente artigo focará apenas em alguns dos principais efeitos que o sucesso da independência norte-americana teve sobre o resto do mundo. Nesse sentido, desde o esvaziamento do que restava nos cofres franceses até a inspiração para movimentos semelhantes dentro e fora da América, não faltam exemplos de como a luta pela sua assinatura mudou a história.

Em primeiro lugar, é essencial considerar a importante (e por vezes ignorada) participação europeia — particularmente francesa — na Guerra de Independência. Nessa luta, as Treze Colônias precisaram da ajuda de outras potências do Velho Mundo, como Espanha e França, para alcançar a vitória contra a Grã-Bretanha. Esse apoio começou com a concessão de munição, armas e dinheiro às colônias, mas posteriormente se converteu na ação militar direta por parte dos europeus. Nesse contexto, os franceses estiveram entre os principais apoiadores dos colonos rebeldes, tanto pela esperança de adquirir novos aliados em um futuro próximo quanto pelo desejo de enfraquecer e humilhar a Inglaterra, sua principal rival.

Entretanto, essa empreitada não veio sem custos para a França. O país já se encontrava muito endividado antes do evento, devido, entre outros fatores, a uma tributação que quase não atingia as camadas mais ricas da população e à realização frequente de conflitos — como a recente derrota para a Grã-Bretanha na Guerra dos Sete Anos -, e os gastos da ajuda aos norte-americanos foram um novo golpe para os cofres franceses. Nesse sentido, o apoio aos EUA na Guerra de Independência contribuiu para a formação da crise na economia francesa que viria a causar discussões enérgicas quanto à composição dos impostos nos país e aos privilégios da nobreza. Tais debates veriam seu auge na Assembleia dos Estados Gerais, o evento político no qual germinaria a Revolução Francesa — sob muitos aspectos, a mais importante do século XVIII.

Além disso, deve-se observar a relevância simbólica da conquista da independência de uma colônia perante uma metrópole monárquica para formar um Estado republicano. Tal acontecimento serviu de inspiração para diversos movimentos separatistas ao redor do mundo por décadas, não apenas por incentivar colonos a lutar como também por fornecer um modelo de governo para o país após obtida a separação da nação colonizadora. Assim, a Revolução Americana, por seu caráter inédito, influenciou a ocorrência de vários movimentos semelhantes em outras nações e o gradual encerramento das relações coloniais como um todo nas Américas.

De fato, não é necessário olhar na direção de outros países para buscar exemplos: a Inconfidência Mineira possuía declarada inspiração no movimento norte-americano. Essa revolta local planejava liberar Minas Gerais do controle português e instalar uma república influenciada tanto pelos ideais franceses do Iluminismo quanto pelos norte-americanos da Declaração de Independência. Ainda que a rebelião nacional tenha encontrado seu fim antes de sequer ter tornado sua intenção pública, não é exagero afirmar que ela conquistou seu espaço na história do país, com sua única casualidade, a de Tiradentes, sendo lembrada até os dias atuais. Portanto, ainda que nem todos os movimentos inspirados pela revolução nos EUA tenham sido bem-sucedidos, muitos impactaram as formações de seus respectivos países, mostrando a importância que a ação das Treze Colônias teve sobre as nações do Novo Mundo.

Portanto, seja pelos aspectos simbólicos ou pelos aspectos práticos, a Revolução Americana representou um marco de grande importância para a história e seus efeitos foram rapidamente sentidos em terras muito distantes das fronteiras dos EUA. Dessa forma, 145 anos depois, é difícil imaginar como o mundo seria na ausência desse evento único. A Revolução Francesa teria ocorrido? A independência e a democratização dos países latino-americanos demorariam mais para acontecer? A Inglaterra teria mantido seu posto de potência econômica mundial até hoje? Nenhuma dessas questões pode ser respondida com certeza, mas há uma afirmação que pode ser feita sem dúvidas: para o bem ou para o mal, a ação de treze pequenas colônias mudou para sempre a história da humanidade.

--

--