A 4a Revolução Industrial

Entramos em uma nova onda de inovações tecnológicas, mas para onde ela nos levará?

Renan Magalhaes
O Veterano
6 min readOct 6, 2021

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Smartphones, tablets, aplicativos, inteligência artificial, blockchains… cada vez mais o mundo se torna digitalizado, com a conexão à internet sendo até mesmo considerada uma necessidade básica pela ONU desde 2010. Com a pandemia do coronavírus, passamos cada vez mais tempo em frente a uma tela que emite luz azul, demonstrando softwares sofisticados para nosso entretenimento ou trabalho. Há cada vez mais uma integração entre os meios físico, biológico e digital.

Contexto Histórico

Desde que o ciclo virtuoso entre o poder, o capital e a ciência foi instaurado com a revolução científica no século XVI, a ciência é impulsionada pelo capital, que espera por retornos sobre o investimento em forma de tecnologias que reduzam custos ou criem novos mercados, na tentativa de manter ou aumentar o poder produzido pela dominância do capital e da tecnologia. Assim, inúmeras tecnologias aumentaram a qualidade de vida da população e produziram riquezas inimagináveis. As palavras-chave que resumem bem as revoluções industriais/tecnológicas que se sucederam a partir de então são especialização e automatização. A cada revolução industrial, novas formas de tecnologia se desenvolviam através de novas fontes de energia, que por sua vez automatizavam aquilo que inicialmente requeria energia física -como a locomoção, que era feita a pé ou por animais de carga, para então serem realizados por máquinas a vapor/combustível-.

Assim, houve diferentes transições da força de trabalho em cada revolução industrial. Com a automatização da indústria têxtil, os artesãos passaram a assumir novos postos nas indústrias nascentes de transição. A mecanização da agricultura levou a forte êxodo rural e a formação da economia urbana, e a automatização das indústrias secundária e terciária levou ao aumento do mercado de bens e serviços. A migração, houve de início um aumento, no curto prazo, do desemprego, seguido pela criação de novos tipos de empregos, o que, a longo prazo, elevou as riquezas das nações por meio de desenvolvimento tecnológico e aumento dos salários. Assim, observamos a massa trabalhadora se qualificando cada vez mais em ações e conhecimentos especializados.

Contudo, chegando a era digital e havendo necessidade de um conhecimento técnico e mecânico aprimorado, existem cada vez menos empregos na agricultura e na indústria. As maiores empresas contratam cada vez menos, com empregados tendo cada vez mais qualificações e especializações técnicas. Assim, as tecnologias estão atingindo um plateau de especialização em sua própria área de conhecimento técnico, precisando da integração com as demais áreas para seguirem em frente. A partir de tal ponto, surge uma inflexão na qual as novas tecnologias geram cada vez mais tecnologias de ponta, trazendo avanços cada vez maiores.

Novas Tecnologias

Como mencionado anteriormente, os meios físico, biológico e digital estão passando por um momento de transição rumo à integração tecnológica . Desde o sequenciamento genético até a nanotecnologia, das energias renováveis até a computação quântica, a 4a revolução industrial tem seu pontapé em tecnologias que são o mais avançado em suas áreas, podendo se sofisticar ainda mais em conjunto com outras inovações. Em 2014, podemos ver um exemplo de como será essa revolução: as “fábricas inteligentes”.

Essas fábricas dispõem do uso de tecnologias digitais diversas para otimizar a produção, com a conexão de todas as etapas produtivas em uma mesma rede informativa. Todos os dados de fabricação são compartilhados por toda a rede, servindo de base para melhorias que gerem o aumento da produtividade. A inteligência artificial, a internet das coisas, a análise de Big Data (grandes quantidades de dados) e a computação em nuvem são tecnologias que se misturam para otimizar os processos físicos das fábricas, o que demonstra a integração físico-digital de nossa era. O mesmo processo — mas com características diferentes — deve ocorrer com as demais atividades humanas.

Na área da vivência do cotidiano, há, por exemplo, o Metaverso: uma área digital que simula a realidade em que vivemos. Ela ocorre em tempo real, não podendo ser pausada em nenhum momento, e permite participação em eventos que só são possíveis em uma realidade virtual, como se projetar em holograma para outra pessoa que está distante. O Facebook, empresa de que investe pesadamente em tecnologias digitais de ponta, anunciou o investimento de 50 milhões de dólares na tecnologia, que deve juntar legisladores, grupos de direitos civis, instituições acadêmicas e muitos outros para definir regras de uso responsável dessa nova realidade.

Singularidade ou Cyberpunk?

Há diversas linhas de pensamento sobre o que virá com as novas tecnologias digitais integradas; os sensores e inteligências artificiais são cada vez mais pontos comuns na ficção. No seu livro Homo Deus, Yuval Noah Harari imagina um futuro em que os algoritmos regem o mundo e as pessoas. Nele, as inteligências artificiais estão a todo momento integradas com a realidade humana, e a análise cotidiana dos padrões humanos fazem com que os algoritmos comecem a determinar quais são as melhores decisões a serem tomadas. Visto que a memória humana não é uma representação exata de acontecimentos passados, mas sim do que sentimos e da identidade construída, as emoções e processos inconscientes tendem a influenciar mais nossas ações que a análise racional. De tal modo, os serviços de assistência pessoal digital observariam as questões do dia a dia e determinariam com maior precisão aquilo que nos tornaria mais felizes. A partir de então, os algoritmos influenciariam todos os aspectos de nossa vida.

Ray Kurzweil, autor de A Singularidade está próxima, analisa o desenvolvimento da inteligência das máquinas que possuem uma capacidade de cálculo milhões de vezes superior à humana (estimada em 1026 cálculos por segundo). O autor prevê que, em 2040, passaremos pela singularidade, momento em que a capacidade de cálculo dos computadores será bilhões de vezes maior que a humana, sendo capaz de produzir inteligências ainda mais avançadas que a própria. O avanço técnico será tão grande que não seremos capazes de entender ou controlar tudo que ocorrerá à nossa volta, e nossas lideranças passarão a ser completamente artificiais.

Um meio de permanecermos no controle da revolução das inteligências artificiais seria através da fusão do meio biológico com o meio cibernético (sim, a transformação em “ciborgues”). Acreditando em uma ameaça em potencial das IAs, Elon Musk, famoso multi bilionário da tecnologia de ponta, fundou a NeuraLink, empresa que desenvolve chips implantáveis no cérebro para permitir a ligação entre o meio biológico e o meio digital, exemplo sendo o macaco que consegue jogar através do pensamento. Uma outra possibilidade é a melhora da capacidade biológica do cérebro através da manipulação genética e por estímulos elétricos, uma solução que esbarra em questões éticas.

Tudo isso é fruto da integração do espaço-tempo aliado ao conhecimento técnico cada vez mais abundante. A 4a Revolução Industrial promete ser a mais disruptiva de todas, mas, para nossa sorte, contamos com algo que não tínhamos nas revoluções anteriores: a possibilidade de entender e alterar o andamento da revolução conforme ela ocorre; algo que se dá ao contrário das demais, essas que só foram entendidas e devidamente analisadas após seus términos . E, como aponta Klaus Schwab, saber usar e moldar as novas tecnologias e organizações produtivas para o maior ganho possível da população como um todo, de modo a diminuir a desigualdade. Assim, veremos se as distopias futuristas irão se concretizar, com grandes conglomerados tecnológicos concentrando toda a riqueza ante uma enorme massa desempregada e rejeitada, ou se conseguiremos aumentar o conforto e felicidade da humanidade como um todo.

Referências:

HARARI, Yuval. Sapiens, Uma Breve História da Humanidade. Porto Alegre: L & PM. 2016.

HARARI, Yuval; Sapiens, Homo Deus. São Paulo: Companhia de Letras. 2016.

SCHWAB, Klaus, A Quarta Revolução Industrial. São Paulo. 2016.

KURZWEIL, Ray. A Singularidade está próxima. New York. 2005.

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Renan Magalhaes
O Veterano

Bacharel de Economia pela EPGE-FGV Rio, gosto de aprender sobre os mais diversos assuntos em um empenho de tentar compreender melhor o mundo e as pessoas