A estatueta e a medalha

Lilian Kingston Freitas
O Veterano
Published in
4 min readOct 6, 2021
Foto disponível no Unsplash

Muitos atores, diretores, produtores e outros profissionais da indústria cinematográfica têm um sonho em comum: ganhar um Oscar. Paralelamente, diversos pesquisadores também compartilham de um sonho: ser laureado com um Prêmio Nobel. Inquestionavelmente, a estatueta de um homem de pé em um rolo de filme e a medalha de ouro cunhada com o perfil de Nobel são artigos de muita cobiça e ambição.

As premiações contam com reconhecimento e fama nos quatro cantos do mundo. No entanto, as figuras de Alfred Nobel e de Oscar, respectivamente o cientista sueco que estabeleceu o Prêmio Nobel e o homem misterioso que inspirou o nome popular dos Prêmios da Academia, são relativamente desconhecidos. Frente ao imenso renome das premiações, seria de se esperar que mais pessoas conhecessem suas origens.

A saber, Alfred Nobel foi um químico, engenheiro e inventor sueco que, na época em que viveu, chegou a ser uma figura pública de bastante reputação. Atualmente, o sobrenome “Nobel” é quase imediatamente associado à premiação, antes mesmo de promover uma recordação de Alfred Nobel, em si, e daquilo que ele construiu em vida. Dois séculos atrás, no entanto, uma associação mental muito diferente ocorria com a abordagem desse nome – ao mencionar Nobel, a maioria da população sabia estar tratando-se do inventor da dinamite.

Além de cientista, o sueco foi um homem de negócios de bastante sucesso. Como empresário, comprou uma usina de ferro e aço e a transformou em uma grande fabricante de armamentos. Para além da renda angariada diretamente com a atividade produtiva, o inventor acumulou uma grande fortuna a partir da patenteção daquilo que desenvolveu. Assim, Alfred Nobel não era somente conhecido por ser cientista, mas também, por ser milionário.

Em 1888, um periódico publicou o obituário desta personalidade, com o título “O comerciante da morte está morto”. Poucas são as pessoas que têm a chance de ler o próprio obituário e, por uma confusão de jornalistas, Alfred Nobel foi uma dessas. O inventor da dinamite ainda estava vivo no dia da publicação e, na verdade, tivera sido Ludvig Nobel, irmão do sujeito, quem morrera. Desse modo, o “comerciante da morte” soube, ainda em vida, como seria lembrado na posteridade.

Certamente motivado por esse evento, Alfred Nobel escreveu o testamento que deu um fim inesperado à grande fortuna da família: uma série de prêmios para aqueles que conferissem o “maior benefício à humanidade” em Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz. Dessa maneira, o cientista entrou para a posteridade com um viés diferente do previsto no artigo “O comerciante da morte está morto”. Ao invés de ser lembrado como um cientista do Mal, o sueco tornou-se um patrocinador do Bem, aos olhos do público .

Não basta realizar trabalhos proeminentes para receber um Prêmio Nobel, dado que a premiação não trata-se somente de uma parabenização ao mérito profissional, mas de um reconhecimento à virtude humanitária dos laureados. Dessa forma, para ser premiado, não é suficiente desempenhar bem, no sentido de trabalhar com eficácia, mas necessário, também, desempenhar o Bem, no sentido de promover o bem-estar da sociedade.

Amplamente considerado o prêmio de maior apreciação de valor da Literatura, Medicina, Física, Química e ativismo pela paz, o Prêmio Nobel tem o mesmo prestígio do Oscar, o prêmio mais renomado do cinema mundial. Anualmente, uma cerimônia de premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas presenteia profissionais da indústria cinematográfica com uma estatueta de um homem de pé em um rolo de filme, em reconhecimento a conquistas na produção cinematográfica, e todo ano, também, a Fundação Nobel premia com medalhas de ouro cunhadas com o perfil de Alfred Nobel os laureados. Entretanto, sabe-se inquestionavelmente a quem pertence o perfil inscrito na medalha, mas não se sabe quem é o homem representado na estatueta.

Popularmente, a figura dos Prêmios da Academia é identificada como o tio de Margareth Herrick. Segundo a lenda popular, a bibliotecária e secretária-executiva da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas comentou a um jornalista que a estatueta a lembrava muito de seu tio Oscar, em uma comparação que acabou por nomear o prêmio. No entanto, essa identificação é verdadeira ou não passa de uma lenda?

Muitas outras versões sobre a identidade do homem dourado são conhecidas. A saber, alega-se que a figura foi considerada por Bette Davis, atriz americana, como muito semelhante a seu primeiro marido, Harmon Oscar Nelson, e essa similitude de aparência teria embasado a identificação. Alternativamente, sugere-se que a estatueta não represente ninguém em particular. Com isso em vista, o crédito do apelido é dado ao jornalista Sidney Skolsky, o primeiro a redigir um artigo com a atribuição do nome Oscar aos prêmios. Em verdade, não sabemos qual a versão verdadeira dessa história.

Muitos atores, diretores, produtores e outros profissionais da indústria cinematográfica compartilham do sonho de ganhar um Oscar, independente de não saber quem a estatueta do homem de pé em um rolo de filme representa. Em paralelo, diversos pesquisadores têm em comum o sonho de receber um Prêmio Nobel, mesmo que não saibam da trajetória de vida do homem com rosto cunhado na medalha de ouro concedida aos laureados. Entretanto, conhecer as curiosidades sobre as origens dessas premiações, a título de curiosidade, as torna ainda mais interessantes. A cada detalhe novo descoberto, o objeto de sonho se aproxima cada vez mais da realidade.

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