A experiência virtual das Olimpíadas de Tokyo

Fernanda da Costa
O Veterano
Published in
4 min readAug 25, 2021
Photo by Bryan Turner on Unsplash

“Ok Google, procurar por Olimpíadas de Tokyo 2020”. Em milésimos de segundos, vejo os resultados, e não há como estar desinformado sobre o que ocorre do outro lado do mundo. Datas, quadro de medalhas, transmissões das competições, melhores momentos, medalhistas e notícias. Sinto o espírito olímpico? Talvez. Já esteve mais perto, mais envolvente, com um maior engajamento, os feriados e uma verdadeira mobilização nacional! E agora, por onde tem andado a torcida?

Luz, câmera, post! Tão distante e tão próximo ao mesmo tempo, certamente o novo momento pandêmico afetou o sentimento do espectador dos jogos, que antes eram comemorados nas ruas, bares, churrascos em família e acompanhando a transmissão na TV. No entanto, agora as experiências tornaram-se quase que individuais, interligadas pela mesma telinha retangular que cabe em uma mão — o celular. Todos juntos e separados. Afinal, mudou algo na tradição?

Os Jogos Olímpicos são um dos dos acontecimentos esportivos mais antigos da história da humanidade, retomados há mais de um século, sua origem vem desde a Grécia antiga.”[1] Alguns desenvolvimentos transformativos ocorrem ao longo do tempo e assim, com o avanço da tecnologia e as novas ferramentas de comunicação, altera-se a experiência dos jogos. A cada ano uma novidade: se antes o juiz era o último recurso para a visualização de uma falta, agora este é substituído pelo VAR. A modernidade da máquina vem avançando nas experiências mais humanas — a seara da competitividade dos Jogos.

Photo by Martin Sanchez on Unsplash

Tornou-se algo mais do que uma participação de um evento esportivo de âmbito internacional, quando ‘todo o mundo’ estaria participando (na sua mais vívida literalidade), transfigurando-se em uma abrupta ferramenta comercial. Segundo o Relatório Olímpico de Marketing (COI, 2017), os valores dos direitos de transmissão dos Jogos no Rio de Janeiro alcançaram a marca de 2,86 bilhões de dólares. [2]

Se em um primeiro momento, desde Roma (1960), a televisão foi protagonista na transmissão dos Jogos, em um segundo momento, os canais virtuais estavam bem ativos, com um impacto significativo a partir do Jogos em Londres (2012). A internet se mobilizou, com a participação das pessoas, produção de conteúdos e construção de narrativas. [3]

A torcida conectada e o fenômeno do espírito olímpico na esfera digital podem ser observados na repercussão da medalha da ginasta Rebeca Andrade ao som de Baile de Favela (MC João) e Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 565 (Johann Sebastian Bach). A atleta fez sucesso nas redes sociais, e a sensação de pertencimento a um coletivo brasileiro que viralizou nas redes sociais. O público passa a produzir conteúdos, ao invés de apenas assistir.

A convergência exige que as empresas de mídia repensem antigas suposições sobre o que significa consumir mídias , suposições que moldam tanto decisões de programação quanto de marketing. Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos (Jenkins, 2009, p.47)[4].

Para uma uma geração midiática e participativa, temos novas reações dos próprios atletas. Ao fim da apresentação de Rebeca, ela e as medalhistas que lhe acompanharam tiraram uma selfie e postaram na internet. É o espaço da rede virtual sendo consolidado na vida do atleta, que no ápice da comemoração de sua medalha, posta foto e marca no Instagram. Essa ferramenta de uso global acompanha a trajetória dos jogadores tanto para os momentos de celebração das vitórias, quanto para um feedback negativo do público.

Canais como Instagram, Facebook, Twitter, Snapchat e tantos outros que constituem espaços de debates, manifestações de grupos e ferramentas de mudanças sociais têm mostrado sua superpotência de mostrar as pautas do cotidiano, o que vira moda, o que é cancelado, casos de violência e demonstrações culturais, entre outros. Mas, agora também transformam a maneira como a narrativa olímpica passa a ser contada. Contudo, não substitui a experiência da ‘catarse coletiva’, ou seja, da euforia da torcida interagindo e assistindo junto os momentos de tensão e competição. É a riqueza da multidão, o calor dos corpos gritantes em harmonia vibrando : “VAI BRASIL!”, sim, essa é a marca da torcida. Mas, enquanto a pandemia nos limita , sigamos na interação modo online, que rapidamente chegará até os protagonistas do evento, os nossos atletas, afinal, eles estão bem conectados. Até lá, esperamos pelos Jogos de 2024!

[1] Teixeira, Carlos Roberto Gaspar. “Rupturas midiáticas: uma relação entre jogos olímpicos, mídia e tecnologia.” Anais de Resumos Expandidos do Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais 1, no. 2 (2019).Trabalho apresentado ao II Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais. PPGCC-Unisinos. São Leopoldo, RS — 8 a 12 de abril de 2018.

[2] Teixeira, Carlos Roberto Gaspar. “Rupturas midiáticas: uma relação entre jogos olímpicos, mídia e tecnologia.” Anais de Resumos Expandidos do Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais 1, no. 2 (2019).

[3] Teixeira, Carlos Roberto Gaspar. “Rupturas midiáticas: uma relação entre jogos olímpicos, mídia e tecnologia.” Anais de Resumos Expandidos do Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais 1, no. 2 (2019).

[4] Teixeira, Carlos Roberto Gaspar. “Rupturas midiáticas: uma relação entre jogos olímpicos, mídia e tecnologia.” Anais de Resumos Expandidos do Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais 1, no. 2 (2019).

--

--

Fernanda da Costa
O Veterano

Cientista social (FGV), atua na Secretaria Executiva do Instituto Guetto, além de atuar na Escola da Ponte para Pretxs. Atua na área de Diversidade e Inclusão.