EconoDia | Abecedário de Economias: Letras E e F

Lilian Kingston Freitas
O Veterano
Published in
4 min readNov 17, 2021
Foto do Pixabay

Por mais que Anna Pavlova, Michael Jackson, Martha Graham e Fred Astaire fossem todos dançarinos, o bailado de cada um deles era inteiramente diferente dos demais. A especialidade de Anna Pavlova, o balé clássico, apresenta performances com movimentos nitidamente distintos das apresentações de sapateado, especialidade de Fred Astaire. A dessemelhança é evidente, também, na comparação entre Martha Graham e Michael Jackson – enquanto a primeira foi a pioneira do balé contemporâneo, o segundo foi um dos desbravadores da dança pop.

A mesma variedade de áreas de especialidade tida entre dançarinos está presente entre os economistas. Para demonstrar o quão ampla é a gama de temas estudados por esses, basta comparar os assuntos discutidos pelos mais influentes economistas no Twitter. Com 4,62 milhões de seguidores, Paul Krugman – Professor da London School of Economics – publica comentários concisos sobre economia internacional, geografia econômica, crises monetárias e atualidades. Com 3,58 milhões de seguidores, Nate Silver – bacharelado da London School of Economics, mesma instituição na qual Krugman leciona – costuma comentar sobre os. resultados de partidas de baseball e de eleições, com previsões fundamentadas em análises estatísticas. Evidentemente, os assuntos investigados por esses economistas são bastante heterogêneos.

O caráter multifacetado da dança e da Economia determina que a simples categorização de um profissional como “dançarino” ou “economista” seja inconclusiva. Mesmo que Anna Pavlova, bailarina clássica, fizesse pirouettes impecáveis, não necessariamente saberia fazer um moonwalk, passo de dança pop criado por Michael Jackson. Por mais que Paul Krugman tenha sido laureado com o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel por contribuições à Nova Teoria do Comércio, jamais elaborou previsões estatísticas tão acertadas quanto as de Nate Silver. De fato, a variedade de assuntos e técnicas empregadas por dançarinos e economistas torna inviável que uma só pessoa domine todas as vertentes da profissão desempenhada.

O leque de estudos das ciências econômicas é tão abrangente que nem sequer os economistas têm familiaridade com todas as ramificações da disciplina. No intuito de incrementar o conhecimento que estudantes de Economia detém sobre os conteúdos sob alcance das ciências econômicas, O Veterano está apresentando um abecedário com algumas das áreas de estudo da Economia.

Na publicação anterior, vimos a introdução de algumas “Economias”: Economia Agrícola, Economia Ambiental, Economia Comportamental, Economia do Direito e Economia do Desenvolvimento. Neste artigo, seguimos apresentando. outras ramificações das ciências econômicas: Econometria, Economia da Educação, Economia Empresarial, Finanças e Finanças Internacionais.

A primeira disciplina a ser tratada neste artigo será a Econometria. O propósito de econometristas consiste na conversão de afirmações qualitativas em constatações quantitativas, de maneira a aprimorar o entendimento das relações entre variáveis econômicas e políticas com o amparo de ferramentas estatísticas. De fato, a modelagem matemática permite a mensuração e estimação mais apurada de fenômenos econômicos.

Uma das relações mais frequentemente investigadas na Econometria consiste na associação entre a escolaridade e a renda do trabalho de um cidadão qualquer. Os efeitos encontrados não são homogêneos, uma vez que as métricas observadas por econometristas diferem entre as diversas análises, mas há um resultado comum entre as múltiplas pesquisas: a relação entre instrução e rendimentos do trabalho é geralmente positiva. Frente a isso, faz-se evidente o papel fundamental da educação para o desenvolvimento econômico do país. A ramificação da Economia que estuda, em particular, as questões econômicas relacionadas à educação – a demanda e oferta de instituições de ensino, a capacidade de financiamento para estudantes, a eficiência comparativa de programas educacionais – trata-se da Economia da Educação.

Por mais que não se configure como o foco dessa última ramificação da Economia, o empreendedorismo está presente, mesmo que tangencialmente, nos estudos dos economistas dessa área. Entretanto, a menção que esses fazem de empresas costuma estar limitada a escolas e universidades privadas, dado o enfoque na educação. Diferentemente, a Economia Empresarial tem o empreendedorismo como um ponto central, não meramente tangencial. Esse campo avalia fatores particulares que impactam as corporações – organização, gestão, estratégia de negócios – com suporte na teoria econômica.

Entre os tópicos de análise da Economia Empresarial, a determinação estratégica dos preços que uma empresa cobrará por mercadorias consiste de uma das mais importantes averiguações de profissionais dessa área. Afinal, se uma empresa não conseguir arrecadar renda suficiente para a cobertura dos custos, irá falir. No entanto, embora a solvência de corporações esteja significativamente atrelada às ações dos gerentes, a equipe de administradores não têm capacidade de garantir a saúde financeira da empresa – um acontecimento inesperado, como uma pandemia, consegue levar à falência até mesmo as mais bem geridas companhias. O estudo de como avaliar e determinar o preço de ativos com retornos incertos – ações de corporações, títulos do governo, debêntures de empresas e outros papéis, todos sujeitos à imprevisibilidade do dia a dia – consiste do fim de estudo das Finanças, área também conhecida como Economia Financeira.

O enfoque das Finanças em muito se distancia do foco de análise das Finanças Internacionais. Esse campo da Economia centra-se no comércio entre nações, de modo a ser chamado, alternativamente, de Comércio Internacional. Especialistas dessa área examinam os efeitos sobre os balanços de pagamentos nacionais de atividades que promovem a movimentação de dinheiro através das fronteiras internacionais. Dessa forma, a globalização cada vez mais intensa acentua a relevância desse ramo de estudo.

O advento da globalização da Idade Contemporânea se trata de um assunto bastante investigado por historiadores econômicos. A História Econômica é uma das muitas áreas de estudo particulares da ciência econômica para a qual este pequeno “abecedário de Economias” não contém uma introdução. Ademais, não apresentamos a Economia Urbana, a Economia do Trabalho, a Economia do Esporte, a Economia da Saúde e muitas outras ramificações da disciplina. Se for de seu interesse incrementar o conhecimento que detém sobre os conteúdos sob alcance das ciências econômicas, por que não tirar alguns minutos por dia para conhecer mais alguns ramos da disciplina? O dicionário da revista The Economist é um ótimo ponto de partida.

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