Circuit Breaker: uma velha ferramenta para novos problemas

Kaio Torres Dias
O Veterano
Published in
3 min readApr 15, 2020

Desde o início da pandemia do coronavírus, a bolsa de valores brasileira — a B3 — foi suspensa temporariamente seis vezes devido ao agora famoso circuit breaker. Esse mecanismo de segurança é acionado quando, em um curto período de tempo, ocorre uma queda drástica no Ibovespa, índice que indica o desempenho de ações de empresas listadas na B3. O mecanismo de parada em questão serve para impedir que investidores percam muito dinheiro devido a momentos em que haja volatilidade nos preços da bolsa. Assim, o uso desse é comum durante crises econômicas, tendo em vista que ele é capaz de amenizar os prejuízos decorrentes de momento de grande incerteza dos agentes que negociam na bolsa.

Investidores estão sempre observando a bolsa em tempos de crise.
Fonte: Photo Ishant Mishra on Unsplash

De fato, o circuit breaker já havia sido utilizado em dois eventos nos últimos vinte anos: durante a Crise do subprime em 2008 (o mecanismo foi acionado seis vezes) e após a delação da JBS na Operação Lava Jato, em 2017. No primeiro caso, a queda brusca da bolsa foi consequência da instabilidade econômica global, e, no segundo, teve origens no temor quanto à situação política do Brasil. O mecanismo foi acionado, nessas ocasiões, para impedir que o pânico ligado a esses acontecimentos compelisse as pessoas a venderem suas ações impulsivamente, causando prejuízos profundos ao mercado. Em ambas as situações, o cenário para os investidores era de grande incerteza e temor com relação à situação político-econômica do país e do mundo, e é nesse sentido que encontramos certo grau de semelhança entre esses momentos e a crise que vivemos hoje por conta da pandemia do novo coronavírus.

As medidas necessárias para combater a disseminação da doença (restrição ao uso de transporte público e privado, fechamento temporário de estabelecimentos comerciais, estabelecimento de período de quarentena para aqueles que possam ficar em casa) estão afetando de forma dramática a produtividade e o consumo das pessoas em todo o mundo. Isso reduziu as previsões de crescimento econômico de vários países, incluindo o Brasil, e gerou o temor de uma recessão global. Esse cenário, somado ao desconhecimento quanto à duração da epidemia, criou um ambiente de insegurança quanto a saúde do mercado para os investidores. Por esse motivo, as pessoas estão conservando sua liquidez ou procurando por opções seguras de investimento (títulos públicos, por exemplo), um comportamento que faz os preços das ações e de demais ativos arriscados caírem.

Desse modo, visto que a situação da pandemia permanece, não se pode descartar a possibilidade de acionamento do circuit breaker no futuro próximo. Tendo em vista que notícias sobre a disseminação do vírus continuam a ser veiculadas e atualizadas diariamente, assim como as projeções da evolução dos PIBs dos países afetados, choques nos valores da bolsa ainda podem ocorrer. Assim, enquanto a pandemia não for controlada, o cenário de incerteza irá permanecer e novas informações sobre os efeitos econômicos da doença poderão refletir no desempenho do mercado de ações, o que, possivelmente, tornaria o mecanismo de segurança novamente necessário.

Portanto, o circuit breaker se mostra um recurso para amortecer os impactos econômicos da pandemia atual, ajudando a amenizar os efeitos do medo da população quanto ao futuro de investimentos arriscados. Na ausência dele, as quedas da bolsa de valores poderiam ser ainda mais graves, o que geraria mais prejuízos para a economia nacional e para os próprios acionistas. Logo, enquanto estivermos na crise atual, o circuit breaker permanecerá ferramental da realidade dos investidores brasileiros.

Referências:

Infomoney, Preocupações com impacto do coronavírus na economia global seguem afetando os mercados.
G1, Mecanismo paralisa os negócios para evitar oscilações bruscas e atípicas na bolsa.
Toro Investimentos, Circuit Breaker na Bovespa.
Veja, Tensão com avanço da pandemia do coronavírus e expectativa de corte na taxa de juros no país levam a mais um dia de caos no mercado.

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