Destruição do Pantanal

Giovanna Maciel
O Veterano
Published in
4 min readOct 29, 2020

O fogo ilumina nossas cidades, alimenta nosso povo, e incendeia a mente dos poetas. Mas também queima nossas florestas, e o Brasil exibe ao mundo uma marcha inclemente das chamas que avançam pelo Pantanal.

Somente em 2020, a pandemia do COVID-19 interrompeu as cadeias de abastecimento, afundou a demanda global e empurrou a economia mundial para uma recessão profunda. Enquanto isso, o Brasil enfrenta incêndios florestais massivos, e intensas ondas de calor castigam os ecossistemas da maior área úmida tropical do mundo — o Pantanal — e o põe em chamas.

Foto de Araquém Alcântara

Da produção de energia à agricultura industrial, parte do sucesso financeiro do setor privado veio à custa do meio ambiente. Conforme a destruição ambiental avança pelos sertões do mundo, os desastres naturais estão se tornando cada vez mais comuns — e cada vez mais devastadores. Essa situação está aumentando rapidamente os riscos materiais para cadeias de produção inteiras, empresas e seus funcionários, comprometendo diretamente os lucros do setor privado.

“A agenda de adaptação às mudanças do clima está batendo forte na nossa porta. Temperaturas em alta não só potencializarão incêndios como prejudicarão cultivos agrícolas e a vida nas cidades. Secas reduzirão o nível dos rios, complicando até a movimentação de barcos turísticos e de socorro. Semear a descrença sobre a crise do clima só dificulta a implantação de agendas estratégicas para o país. ”
– Alice Thuault, Diretora do
Instituto Centro de Vida

Conforme o último relatório do Global Biodiversity Outlook observa, a biodiversidade é indispensável para enfrentar mudanças climáticas, garantir a segurança alimentar de longo prazo e prevenir futuras pandemias. No entanto, a falta de recursos, a inação governamental diante dos incêndios deste ano e o abandono de pautas estratégicas nos afastam do cenário ideal, trazendo prejuízos econômicos e ambientais ao país.

Mesmo no curto prazo, colocar a sustentabilidade no centro da tomada de decisões é conveniente para os negócios. A adequação às práticas ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) no setor privado se correlacionam com custos operacionais mais baixos, com uma maior lucratividade e com um desempenho superior das ações no mercado, tornando-as menos propensas a sofrerem quedas súbitas de preços. Por esses motivos, empresas estão, cada vez mais, incorporando práticas ESG às suas estratégias.

Renascendo das Cinzas: o Futuro do Pantanal

Ainda que nos últimos dias as chuvas tenham contribuído para a redução nos focos de calor no Pantanal que foram intensificados pela seca no Rio Paraguai, o volume é insuficiente para cessar os incêndios, principalmente nas camadas mais profundas, onde ainda há combustão de matéria orgânica.

Queimadas sempre existiram? Em meio ao endêmico negacionismo climático protagonizado pelo governo atual, vale destacar que sim, queimadas sempre existiram, sendo elas naturais ou antrópicas. Mas isso de forma alguma ameniza a gravidade dos incêndios atuais e, enquanto a conservação do Pantanal é assunto urgente, ele infelizmente ainda é pauta de um debate político evasivo e irresponsável, cheio de controvérsias — como a tese do “boi-bombeiro” –, o que dificulta e retarda a execução de planos de resgate.

Infelizmente, as políticas governamentais continuam a fornecer incentivos para cadeias de valor agrícolas ambientalmente predatórias, e as políticas ambientais cada vez mais imprudentes do governo brasileiro tornam provável que o desmatamento de áreas protegidas aumente nos próximos anos.

Não havendo responsabilização, o governo sinaliza impunidade. E, para complicar o cenário, retrocessos na proteção ambiental e decisões envolvendo alterações institucionais e normativas estão sendo consumadas sem a necessária discussão democrática ou as justificativas plausíveis para tal. Enquanto a prática incendiária se alia a governos locais corruptos, o Pantanal arde em chamas e, com ele, milhares de espécies de plantas e animais que são pouco — ou nada — resistentes ao fogo.

“As organizações da sociedade civil possuem papel muito importante em relação a este aspecto, tanto conscientizando a população em relação ao seu poder de transformação, como também contribuindo para fomentar mais transparência nas dinâmicas de produção. ”
– Rodrigo Perpétuo, secretário executivo do ICLEI (América do Sul).

O que é possível fazer? Diante do cenário de destruição, representado nas redes sociais pelas inúmeras imagens de animais machucados, diversas organizações se mobilizaram para lutar na linha de frente em meio ao fogo, fazendo o possível para salvar a maior planície alagável do planeta. Além de recursos financeiros, voluntários podem doar alimentos e medicamentos para os animais a fim de ajudar a minimizar essa devastação, como: Ampara Silvestre, SOS Pantanal, Instituto Arara Azul, Ecoa, Fundação Ecotrópica e Pantanal Relief Fund.

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