Do combate ao vírus: soluções energéticas e privacidade

O papel da energia criativa em mitigar os efeitos da crise pandêmica e sua invasão.

Bernardo Albernaz
O Veterano
4 min readMay 13, 2020

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“Para sua segurança e nossa curiosidade”. Photo by Etienne Girardet on Unsplash

Ao longo do tempo, energia e inovação conseguiram, juntas, trazer evoluções e perpassar problemas sociais recorrentes. Contudo, uma situação pandêmica, porventura, poderia abalar as estruturas da logística urbana e duvidar do poder tecnológico dessa dupla. Por outro lado, este cenário não é o observado em algumas localidades do globo que conseguiram ter a tecnologia como grande aliada no combate ao Covid-19.

A sofisticação da Inteligência Artificial (IA) tem convencido muitos de que ela está de prontidão para ajudar o mundo, e não para dominá-lo — pelo menos por enquanto. Neste ambiente, a startup canadense BlueDot foi uma das primeiras instituições que mapearam o surto na província de Hubei (China) com o uso da IA. Eles quantificaram o risco de exposição a doenças infecciosas, e, a partir disso, detectaram possíveis surtos no intuito de que autoridades antecipassem a dispersão e relaxassem seus impactos.

Adicionalmente, a gigante chinesa Alibaba também coopera nesta luta, mas na parte do diagnóstico viral. A companhia desenvolveu um sistema de IA capaz de determinar testes de casos suspeitos em meia hora com 96% de confiança, em detrimento dos testes convencionais, os quais enfraquecem a eficácia do combate.

Outros mecanismos que utilizam IA são tecnologias como capacetes inteligentes e robôs. Cidades chinesas como Shenzhen e Shangai adotaram medidas que detectam a temperatura corporal dos transeuntes sem a necessidade de toque. Assim, policiais contam com capacetes e máquinas remotas capazes de identificar um princípio de febre e, dessa forma, notificar possíveis portadores do vírus.

Além do explorado, países como Coréia do Sul e Singapura lançam mão da Big Data como meio de utilizar sistemas de reconhecimento facial, localização de smartphones e até compras com cartão de crédito. Essa tática possibilita que autoridades locais mapeiem o trajeto o qual uma pessoa contaminada percorreu no período assintomático e reconheçam outros que interagiram com o portador do vírus.

Talvez isto impressione o leitor (ou assuste os residentes desses países) por nos aproximar de uma distopia clássica de vigilância autoritária como a de George Orwell (“1984”) ou a do Pan-óptico de Jeremy Benthan. Entretanto, as autoridades dos países que já aplicam essas tecnologias não parecem preocupadas com o caráter invasivo dessas medidas preventivas, pois prezam pelo extermínio do Covid-19, mesmo que o custo seja a privacidade dos cidadãos.

“Robô termômetro”. Por Alex Plavevski

De fato, essa quarentena mundial alterará a ética da sociedade sobre o que é aceitável e cabível em prol da segurança e da saúde pública, mas tecnologias dessa natureza não são tão recentes. Em Israel e nos EUA, por exemplo, essa vigilância tecnológica já era uma realidade no combate ao terrorismo e à imigração ilegal. Agora, novos tempos trazem pertinentes reflexões: quão importante é a privacidade dos cidadãos e como não atentar contra a liberdade individual.

Shoshana Zuboff, professora na Escola de Negócios de Harvard, já pensava nisso em 2018, quando publicou seu livro “The Age of Surveillance Capitalism” (A era do capitalismo da vigilância, em tradução livre). Na análise da economista, empresas da internet monitorariam o comportamento dos indivíduos sem o consentimento explícito do usuário, transformariam suas informações em dados armazenados e preveriam as ações dos cibernautas, suas preferências e seus anseios.

Esta política não se resume a algoritmos quaisquer preocupados com as publicações no seu feed, mas constrói uma complexa rede capaz de mapear movimentos virtuais e até mesmo físicos. Dessa maneira, o desassossego reside na assimetria informacional dos dados nas mãos de poucas pessoas, que se converte em relações de poder desequilibradas, ameaçando princípios democráticos. Por mais pessimista que isso possa parecer, Zuboff afirma que é difícil resgatar dos “capitalistas da vigilância” a integralidade da privacidade. Isto é, simplesmente não há motivos legais ou incentivos no momento para que assim o façam.

Empresas como Google e Facebook exemplificam o argumento, uma vez que já se reuniram na Casa Branca no início de março para discutir o uso da localização de celulares americanos para mapear contaminados em prol da saúde pública.

Decerto, a energia mostrou ao mundo o seu poder e o meio pelo qual a humanidade pode achar soluções pragmáticas no combate ao Covid-19, mas a iminência da “Internet das Coisas” inicia uma nova era em que dados serão protagonistas num cenário que enfatiza o poder de um simples clique, e ninguém parece estar sozinho como antes.

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Bernardo Albernaz
O Veterano

Estudante de economia e redator do Jornal Estudantil O Veterano