Eleições 2022: Engajamento Virtual

Nas últimas semanas, houve enorme comoção no Brasil. Debates, entrevistas, discussões, panelaços. Todos esses acontecimentos foram presenciados, noticiados e avaliados com frequência nas múltiplas mídias existentes, e cada dia que passa é um dia mais perto das eleições e um dia que carrega mais emoções para o eleitor brasileiro do que o anterior.

A escolha de um novo presidente agita o país e coloca a nação para discutir sobre os mais variados assuntos. O plano político brasileiro está no momento na ‘boca do povo’, e vale a pena visualizá-lo das mais variadas formas possíveis, inclusive virtualmente. Assim, para termos um melhor panorama de como ocorre o engajamento dos temas relacionados à política nas redes sociais, olharemos para as análises feitas pelo FGV DAPP (Departamento de Análise de Políticas Públicas), um dos três laboratórios da FGV ECMI (Escola de Comunicação, Mídia e Informação), com dados coletados de redes sociais, com ênfase no Twitter.

Sendo espaços acessíveis a todos e com liberdade para expressar opiniões, as redes sociais acabam gerando muito engajamento nos temas relacionados à política brasileira. Enquanto ocorriam as entrevistas e debates com os presidenciáveis em canais de TV aberta, os telespectadores comentavam acerca dos temas debatidos e de como viam a performance dos candidatos. Levando em consideração o quão universal e liberal esse tipo de ambiente consegue ser, não se deve subestimar sua capacidade em ser uma ótima fonte de dados, além de um efetivo meio de propaganda eleitoral.

Entrevistas

Na semana de entrevistas no Jornal Nacional, a esquerda foi a parte dos usuários mais presente no Twitter, porém não a mais ativa nas interações (41,7%). Representando 64% dos perfis, a esquerda engajou-se, principalmente, em desmentir as falas do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), e apontar o seu ‘mau’ desempenho na entrevista. Além disso, também houve postagens com cortes da entrevista com Lula (PT) e a declaração do youtuber Felipe Neto sobre sua intenção de votar no petista.

Já na direita, com 48,7% das interações e 24,4% dos perfis, o destaque foi para o post de Bolsonaro agradecendo a cantora Anitta pela divulgação de um momento da entrevista com o presidente em que são visíveis escritos em sua mão. Aliás, críticas aos entrevistadores, William Bonner e Renata Vasconcelos, e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), endossando a ideia de um comportamento parcial e negativo destes para com o presidente, foram recorrentes nos posts desse grupo.

Com 5,1% dos perfis e 8,3% das interações, a intitulada “terceira via” se dedicou a afirmar o quão bem-preparado para dirigir o país o candidato Ciro Gomes (PDT) se mostra diante dos outros presidenciáveis. Ademais, tirando a intenção de voto no candidato, os usuários desse grupo lamentaram pelo projeto econômico que foi apresentado, o qual, segundo eles, aparenta ter pouca possibilidade de acontecer.

Debate

No dia 28 de agosto de 2022, ocorreu o primeiro debate entre os presidenciáveis no canal televisivo Band. Estavam presentes os candidatos Felipe D’Avila (Novo), Lula (PT), Simone Tebet (MDB), Jair Bolsonaro (PL), Soraya Thronicke (União) e Ciro Gomes (PDT) e foram comentados temas como corrupção, machismo, desinformação, economia, saúde, entre outros. Desses assuntos citados, o machismo foi o que mais apareceu no Twitter, com o nome do atual presidente frequentemente sendo associado às palavras ‘mulher’ e ‘mulheres’ nos posts.

Novamente, a esquerda ocupou a maior parte dos usuários da rede social na discussão, com 58,1% dos perfis, porém com 40%,5 das interações. Críticas a Simone Tebet, aos aspectos socioeconômicos do governo atual, à postura machista de Bolsonaro durante o debate e mensagens de apoio à jornalista Vera Magalhães foram os tópicos mais engajados pelo grupo.

Na direita, o perfil de Bolsonaro acaba sendo o centro das interações, com seu posicionamento contra “ladrões” e sobre “mentiras”. Com 35,5% dos perfis e 52,3% das interações, o grupo tuitou e retuitou posts com teor contrário a Lula e seu partido, além de sugerir tentativas de ataques contra o atual presidente.

Por fim, na terceira via, uma publicação da ex-mulher de Ciro Gomes tem destaque ao apoiar o candidato e críticas ao PT e a Lula também foram presentes. O grupo tem 6,5% dos perfis e mesma porcentagem para interações.

Propaganda Eleitoral

Com o fim de coletar dados sobre propaganda eleitoral, a organização argentina Asociación por los Derechos Civiles (ADC) criou a ferramenta PubliElectoral: ela “identifica anúncios políticos veiculados em redes sociais, permitindo analisar quem as realiza e se os gastos relacionados são processados adequadamente perante a autoridade eleitoral”. Para ajudar nessa análise, você pode instalar a ferramenta no site https://publielectoral.lat./. Os dados pessoais dos usuários não são coletados ou armazenados, somente os dados sobre propagandas eleitorais e localização, para fins estatísticos.

Esses dados, por sua vez, serão coletados pelo FGV DAPP para a elaboração de uma análise sobre financiamento e gastos com propaganda eleitoral, a fim de garantir uma maior transparência sobre o assunto.

Fontes:

Em semana de sabatina, grupos de apoio a Lula soma mais de 64% dos perfis no Twitter. Sala de Democracia Digital, 2022. Disponível em https://observademocraciadigital.org/posts/em-semana-de-sabatinas-grupo-de-apoio-a-lula-soma-mais-de-64-dos-perfis-no-twitter/. Acesso em 7 de setembro de 2022.

Debate amplia alcance da terceira via e coloca o machismo no centro do debate eleitoral. Sala de Democracia Digital, 2022. Disponível em https://observademocraciadigital.org/posts/debate-amplia-alcance-da-terceira-via-e-coloca-o-machismo-no-centro-do-debate-eleitoral/. Acesso em 7 de setembro de 2022.

‘Por que tanta raiva das mulheres?’: 1º debate fomenta discussão de gênero no Twitter. Sala de Democracia Digital, 2022. Disponível em https://observademocraciadigital.org/posts/por-que-tanta-raiva-das-mulheres-1o-debate-fomenta-discussao-de-genero-no-twitter/. Acesso em 8 de setembro de 2022.

Pesquisa sobre publicidade eleitoral em redes sociais foca em transparência nas campanhas. Sala de Democracia Digital, 2022. Disponível em https://observademocraciadigital.org/posts/pesquisa-sobre-publicidade-eleitoral-em-redes-sociais-foca-em-transparencia-nas-campanhas/. Acesso em 8 de setembro de 2022.