Em quem vota o brasileiro?

Luca Cechinel
O Veterano
Published in
5 min readJan 21, 2022

Perspectivas para a eleição presidencial de 2022

Nunca antes na história da política do país as pesquisas de intenção de voto tornaram-se tão presentes no dia a dia do brasileiro. Desde que o país engajou-se no processo de redemocratização no início dos anos 1980, as eleições, antes limitadas e nem sempre justas, assumiram um papel central na condução da política nacional, ocorrendo de dois em dois anos e renovando os quadros públicos do nível municipal até a presidência da república. A ampla variedade de diferentes candidaturas e partidos que disputam as eleições muitas vezes nutre o desejo por parte do eleitor por uma previsibilidade de resultados, dado que, levando-se em conta as particularidades do sistema político brasileiro, a intenção de voto do eleitor pode mudar de acordo com a conjuntura. Por exemplo, caso seu candidato de preferência não esteja bem nas pesquisas, evidenciando uma improbabilidade de qualificar para o segundo turno, o eleitor pode escolher migrar o voto para outro candidato melhor colocado, que se posicione de maneira ideologicamente semelhante.

Consagradas como elemento-chave de qualquer disputa eleitoral, a natureza das pesquisas tem mudado ao longo das décadas. Na eleição presidencial de 1989, a primeira realizada de forma direta no país desde 1960, as pesquisas eram organizadas por algumas poucas organizações (sendo de maior destaque o Instituto Datafolha) e ocorriam de maneira esporádica, com no máximo duas pesquisas por mês, que apenas se intensificaram de acordo com a aproximação à data do pleito.

Nos últimos anos, porém, a grande midiatização da política, melhorias tecnológicas e a aprimoração dos métodos de pesquisa vêm ampliando enormemente a atuação das pesquisas nas eleições brasileiras. Atualmente, há dezenas de organizações e institutos publicando pesquisas semanalmente, contrastando a esperada performance dos diferentes candidatos uns contra os outros. Muitas começam a ser publicadas assim que um novo governo toma posse, não se limitando mais aos anos eleitorais, e acabam incluindo presidenciáveis que não irão competir na eleição. Visando a simplificar um pouco o atual cenário, trazemos um balanço geral das pesquisas de opinião sobre a eleição de 2022 e uma breve análise das perspectivas que os dados nos trazem.

Pesquisas de Opinião: Eleição 2022

As pesquisas de opinião realizadas até o presente momento vêm demonstrando um cenário bastante cristalizado: uma clara liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seguido distantemente em um segundo lugar pelo atual presidente da república, Jair Bolsonaro (PL). Uma das últimas pesquisas, realizada pela EXAME/IDEIA e publicada no dia 13 de Janeiro de 2022, coloca o ex-presidente com 41% dos votos no primeiro turno, enquanto o incumbente teria 24%. Apesar de conter certa variação, a maioria das demais pesquisas indicam um cenário parecido: a pesquisa da XP/Ipespe, publicada no dia 14 de Janeiro, coloca Lula com 44% e Bolsonaro com 21%, enquanto a pesquisa do Datafolha, publicada no dia 16 de Dezembro de 2021, demonstrava Lula com 48% dos votos contra 22% de Bolsonaro, indicando uma possível vitória do candidato petista já no primeiro turno.

A tendência de liderança do ex-presidente vem se consolidando desde a primeira metade de 2021, quando uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações de corrupção de Lula e restaurou seus direitos políticos, permitindo a este disputar eleições; anterior a isso, a liderança nas pesquisas era do Presidente Jair Bolsonaro, seguindo pelo próprio Lula ou pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Praticamente todas as pesquisas indicam a preferência pelo ex-presidente Lula, mas algumas apontam uma liderança relativamente menor: a pesquisa publicada pelo PoderData no dia 22 de Dezembro de 2021 indica a liderança do líder petista sobre Bolsonaro por 10 pontos com 40%, enquanto a pesquisa do Instituto Atlas Político, do dia 30 de Novembro de 2021, coloca Lula com 42,8% dos votos, 11,3% a mais que Bolsonaro.

E quanto aos demais candidatos? Durante a maior parte do mandato de Jair Bolsonaro, o terceiro colocado nas pesquisas era o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que geralmente pontuava entre 8 e 11% nas pesquisas. Gomes, porém, acabou deslocado para quarto lugar após a adesão oficial de Sérgio Moro, o controverso juiz da Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, à corrida presidencial. Moro, que se filiou ao Podemos, partido comandado pelo senador paranaense Álvaro Dias (PODE — PR), chegou a atingir mais de 13% das intenções de voto em pesquisas do Atlas Político e da Futura no final de novembro, mas oscilou para baixo e conta atualmente com aproximadamente 9% dos votos; em quarto lugar, Ciro Gomes pontua entre 5 e 7% das intenções de voto.

Os demais candidatos também têm encontrado dificuldades para crescerem nas pesquisas: João Dória (PSDB), governador de São Paulo, que teve um leve crescimento nas pesquisas após sua vitória sobre o governador gaúcho Eduardo Leite nas prévias partidárias do PSDB, atualmente pontua entre 3 e 4% nas pesquisas. Os senadores Rodrigo Pacheco (PSD) e Simone Tebet (MDB) tem ambos oscilando entre 1% e 0; o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, que anteriormente pontuava entre 1 e 3%, não conseguiu pontuar em nenhuma das pesquisas realizadas em Dezembro de 2021, e não foi incluído em nenhuma das realizadas até agora em 2022.

Uma breve análise

Embora ainda faltem aproximadamente 9 meses para a realização das eleições presidenciais, o cenário que se desenha é claro, com uma forte liderança de Lula e uma dificuldade dos demais candidatos da chamada “terceira via” de se colocarem como opções viáveis aos dois líderes das pesquisas. É certamente possível que o cenário mude um pouco, especialmente através da desistência de certas candidaturas, mas é improvável que a conjuntura atual mude demasiadamente.

Ao todo, uma coisa é certa: a situação não parece boa para o presidente Jair Bolsonaro. Criticado pela sua gestão da pandemia da COVID-19, por vários escândalos de corrupção no seu governo e pela grave situação econômica com altos índices de inflação e desemprego, a popularidade do candidato levou um verdadeiro tombo. Desde que a reeleição para cargos executivos passou a ser constitucionalmente permitida, todos os presidentes que foram reeleitos começaram o ano da segunda eleição como líderes das pesquisas — assim ocorreu com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1998, Lula em 2006 e Dilma Rousseff (PT) em 2014. Atualmente, Bolsonaro não apenas se encontra em um distante segundo lugar nas pesquisas gerais, como aparentemente perderia para vários dos demais candidatos em um hipotético segundo turno, incluindo para Lula, Ciro Gomes, Sérgio Moro e João Dória.

Ao todo, a situação não é boa para Jair Bolsonaro. Caso queira ter alguma chance de vencer a reeleição, teria que mudar radicalmente sua atuação e sua estratégia eleitoral. Contudo, a essa altura da corrida presidencial e dada a conjuntura intensamente disputada que ver-se-á esse ano, é possível que já seja tarde demais para qualquer mudança.

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Luca Cechinel
O Veterano

Estudante da graduação de ciências sociais da Fundação Getúlio Vargas. Interessado em tópicos relacionados a política, sociedade, história e cinema.