Entrevista | Fernando de Holanda Filho: vida acadêmica e ministerial

Emanuelle Peixoto
O Veterano
Published in
4 min readJul 29, 2020

A carreira acadêmica no Brasil, muitas vezes, não é reconhecida ou remunerada como em outros países. Apesar disso, muitos alunos se interessam por essa trajetória tendo como objetivo ajudar a sociedade quando estiverem em cargos no governo, em pesquisas acadêmicas ou até mesmo em grandes empresas.

Fernando Holanda Filho é graduado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui mestrado em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e doutorado na mesma área pela New York University. Atualmente é professor da FGV, lecionando nos segundo e terceiro períodos da graduação em economia. Além disso, pesquisa e escreve artigos pelo IBRE/FGV e é secretário de Políticas Públicas para o Emprego no Ministério da Economia do atual governo. Com vasta experiência acadêmica nacional e internacional, o professor Holanda nos conta um pouco de sua trajetória na entrevista a seguir.

Por que Economia?

Por influência familiar. Meu pai já era economista, então eu achava natural, legal o que ele fazia. Quando eu era criança a situação econômica do país era delicada, vivi a época das altas inflações, então eu me interessava por essas questões.

No meu aniversário de 15 anos, por exemplo, meu pai me levou em um congresso de inverno em Punta Del Leste, só havia eu de criança no meio de diversos economistas.

Quando o senhor soube que queria seguir a área acadêmica? Como foi?

Acidentalmente. Alguns dos meus amigos, desde o colégio, já planejavam a vida e já sabiam o que queriam fazer. No meu caso, nunca pensei ou me programei em dar aula, em pesquisar, por exemplo. Acredito que foi o caminho natural que surgiu a partir de algumas das minhas escolhas e gostos pessoais.

Comecei minha faculdade na PUC, mas optei por fazer novamente o vestibular e fui estudar na UFRJ. Nessa faculdade, eu tive sorte, pois virei assistente de pesquisa em economia ambiental, e a partir disso comecei a me interessar por pesquisa. No fim da faculdade, decidi fazer a ANPEC e passei para o mestrado na FGV. Logo depois da conclusão do curso na FGV, apliquei para doutorado nos EUA e fui aceito pelo programa do governo, pela CAPES.

Como surgiu a oportunidade de um doutorado fora do país?

A oportunidade foi 100% graças a minha mãe. Eu já havia feito as provas do processo seletivo, mas ainda não havia enviado os documentos requeridos, pois eu estava na dúvida se queria fazer um curso em um país completamente diferente do Brasil. Minha mãe me aconselhou a aplicar para todas as oportunidades e decidir por qual optaria apenas depois que tivesse sido aprovado ou não.

New York University, Stern School of Business. Courtesy photo.

Por que NY? Para que outras faculdades o senhor aplicou?

Eu apliquei para as faculdades próximas a Nova York, pois minha irmã já morava lá. Escolhi Columbia, Chicago, Nova York e Boston, fui aprovado nas duas últimas e preferi Nova York por conta da minha irmã.

Como foi a experiência internacional? O nível de exigência era alto? Foi muito difícil?

Eu levei todos os meus cadernos do mestrado que fiz na FGV e foi isso que me ajudou a estudar, pois, às vezes, tinha dificuldade de entender o conteúdo dado em sala de aula. O mestrado, por ter sido muito puxado, me deu muita base de conhecimento para o doutorado nos Estados Unidos.

Acredito que o maior desafio foi me adaptar em um país completamente diferente e fazer todas as tarefas domésticas, como limpar a casa e fazer a comida.

Quais são as diferenças e semelhanças do ensino de economia entre as faculdades de referência do Brasil (como FGV e PUC) e as faculdades dos EUA (como a de NY)?

Do ponto de vista do curso, acredito que hoje em dia com mundo globalizado e conectado as diferenças sejam menores, pois você pode entrar no site de qualquer faculdade e fazer o download das notas de aula de determinada matéria ou professor. No geral, os livros-texto e o nível de dificuldade é basicamente o mesmo. Então, creio que o conteúdo em si seja muito similar. A maior diferença seria do corpo docente e da oportunidade de experiência internacional.

Se o senhor pudesse voltar no tempo, o que faria diferente em sua carreira?

Eu teria me dedicado mais quando jovem em matemática, inglês, programação e informática, por exemplo. Também teria tido mais cuidado com o que falei em determinadas ocasiões, pois, muitas vezes, você acha que está ajudando, mas na verdade a pessoa não quer sua opinião.

O que levou o senhor a ser indicado para trabalhar no Governo Federal? O que levou o senhor a aceitar esses cargos?

A indicação em si eu não sei exatamente, mas acredito que tenha sido em razão da minha formação e do meu empenho na área de pesquisa. Eu aceitei o cargo com o intuito de ajudar o Brasil. Minha intenção sempre foi ajudar. Algumas vezes fico triste, pois nem sempre consigo realizar tudo aquilo que imagino, por questões políticas de decisão no Congresso ou por burocracias internas, mas isso faz parte de qualquer emprego.

O senhor leciona na FGV, pesquisa no IBRE e trabalha em Brasília, como faz para gerenciar tantas tarefas e atribuições?

Como estou em cargo federal tenho licença da pesquisa no IBRE, então permaneço apenas lecionando na FGV. As aulas não atrapalham meus horários ou a minha agenda, então consigo organizar e fazer tudo tanto no Rio quanto em Brasília.

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