O “maior suborno da história” e o maior inimigo de Putin

Lilian Kingston Freitas
O Veterano
Published in
4 min readFeb 3, 2021
Reprodução do YouTube

Lula, ex-presidente brasileiro, foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Determinada três anos atrás, a sentença parte de provas de que o político petista teria recebido propina de uma construtora, por meio da entrega e reforma de um imóvel em Guarujá, uma cidade paulista. No entanto, apesar da condenação, Luiz Inácio Lula da Silva foi solto no fim do ano passado e não está na cadeia – permanece sem punição pelo crime do qual é acusado.

A 14,442 km de distância do Brasil, um caso similar – em proporções consideravelmente maiores e em um cenário político totalmente diferente – atrai ampla atenção internacional. Na Rússia, o presidente Vladimir Putin é acusado de corrupção, assim como Lula. Entretanto, o político brasileiro encara a acusação de receber propina de uma empreiteira no valor de R$3,7 milhões, enquanto o russo se depara com a denúncia de ser proprietário de um palácio avaliado em R$7,2 bilhões, financiado ilegalmente por oligarcas e bilionários do país . Evidentemente, a escala do crime atribuído a Putin ultrapassa significativamente a magnitude da lavagem de dinheiro que incrimina Lula. Na verdade, segundo Alexei Navalny, o caso russo configura o “maior suborno da história”.

Quem ousa acusar Putin?

O autor da denúncia ao Kremlin, Alexei Navalny, é a principal figura da oposição na Rússia. Com milhões de seguidores nas redes sociais, o ativista político usa sua plataforma digital para denunciar o crime e a corrupção em seu país. Inclusive, foi por meio do YouTube que publicou a acusação ao presidente de ser proprietário de um palácio financiado ilegalmente na cidade de Gelendzhik. No entanto, antes de adentrar nos detalhes da delação, vamos conhecer o delator.

Navalny é líder do partido Rússia Pelo Futuro, fundador da Fundação Anticorrupção e oposicionista veemente do atual governo russo. Desde o início de sua carreira política, se opõe ao Kremlin e engaja russos em manifestações políticas de contrariedade aos crimes dos quais ele acusa o governo: desvio de fundos públicos, eleições fraudulentas e brutalidade policial. Para mais, o ativista cunhou o apelido “partido de bandidos e ladrões” para o partido governista.

Contudo, o cenário político russo torna toda e qualquer oposição ao Kremlin uma ação perigosa. Em uma democracia, a batalha por poder envolve eleições, manobras de publicidade e discurso afiado, enquanto na cleptocracia russa, desafiar o poder é uma questão de vida ou morte, segundo a revista internacional The Economist. Nas palavras do redator, “se opor a Vladimir Putin requer não somente carisma e visão clara, como também disposição física e coragem”. Assim, a seriedade de se posicionar politicamente na Rússia, como faz Alexei Navalny, é evidente.

Uma questão de vida ou morte, de fato, se for aceito o posicionamento da chanceler alemã Angela Merkel sobre o envenenamento do ativista. Em agosto do ano passado, Navalny foi internado em um hospital na Alemanha e, em setembro, o governo alemão confirmou que ele havia sido envenenado com o objetivo claro de ser silenciado, segundo Merkel. Frente às acusações, o Kremlin negou envolvimento. Entretanto, o blogueiro atribuiu o envenenamento pessoalmente a Putin.

Palácio de Putin

A denúncia escandalosa mais recente de Navalny contra o presidente não concerne à saúde pessoal do ativista, mas à saúde financeira da Rússia. Em Gelendzhik, cidade russa no Mar Negro, um palácio é propriedade de Putin, segundo o blogueiro. Com um cassino próprio, uma quadra de hóquei no gelo subterrânea e um vinhedo, a mansão se assenta sobre um terreno gigantesco, de setenta quilômetros quadrados. Para melhor compreensão dos cariocas, vale mencionar que isso equivale a dois Parques Nacionais da Tijuca, considerado a maior área florestal urbana do mundo.

Para divulgar a acusação de lavagem de dinheiro e de posse de uma propriedade financiada ilegalmente pertencente ao presidente, o blogueiro lançou mão da sua popularidade no meio digital. No YouTube, publicou um vídeo incluindo cenas do palácio, o qual atingiu 100 milhões de visualizações na última sexta-feira de janeiro. Não somente na Rússia, como também no âmbito internacional, a publicação atraiu indignação frente à alegada corrupção e opulência do Kremlin.

Assim, o maior país do mundo tem sido um foco de atenção mundial nas últimas semanas. Em particular, um evento da primeira semana de fevereiro está em pauta: o julgamento de Alexei Navalny. Nessa ocasião, será determinado se uma pena suspensa do político por acusação de fraude deve ser convertida em prisão. Indubitavelmente, a decisão judicial está sob o holofote internacional. A partir do resultado do julgamento de Alexei Navalny, o mundo irá formular uma percepção da maneira como são tratados os opositores na Rússia. Será um veredicto justo?

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