Série FGVs | Como a competitividade é vivida pelos alunos da Instituição?

Os impactos da competitividade nos alunos da FGV.

Iasmim Matias
O Veterano
4 min readJun 30, 2021

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Fonte: Unsplash

A competitividade está presente em nossas vidas em vários momentos e espaços sociais, sendo norteada, sobretudo, pelo significado da palavra ‘meritocracia’. Amigas quase inseparáveis, a meritocracia e a competitividade carregam consigo uma esperança de algo melhor, mas em contraposição carregam também a sobrecarga da saúde mental.

Pensando-se no ambiente acadêmico, a competitividade é presente desde o desejo de entrar em uma universidade. Tem-se como exemplo disso o Enem e o vestibular. Não distante disso, minha entrada na FGV se deu por uma competição interna entre alunos da escola na qual estudei, com o intuito de observar quais eram aptos e tinham interesse em ingressar na instituição como bolsistas, tendo em vista a disponibilidade de mudança de estado. Tal realidade mostra-se distante para alunos de escola pública e de baixa renda no Brasil, que muitas vezes precisam trabalhar para ajudar na renda familiar.

Ante todas dificuldades em ser uma das alunas da escola a serem escolhidas, já havia o privilégio em conseguir estudar, enquanto alguns alunos não tinham sequer a opção de sair da escola para fazer uma faculdade. Então, consegui ser escolhida para fazer o vestibular na FGV, sendo uma das escolhidas para fazer o vestibular na FGV, o segundo seria passar nesse processo seletivo tão concorrido. Não preciso dizer o turbilhão de pensamentos que se passava em minha cabeça, uma menina de 17 anos que precisava passar em um vestibular e competir com alunos que pagavam escolas particulares de mensalidades altíssimas, enquanto eu estudava em escola pública. Com apoio do projeto Centro de Desenvolvimento em Matemática e Ciências (CDMC), do qual faço parte, eram passados testes de matemática e língua portuguesa semanalmente. Assim, com a ajuda de professores da escola, eu estudava matérias que possivelmente cairiam no vestibular.

O intuito das informações anteriores é para que se entenda que a competitividade existe antes mesmo da entrada na Instituição. A vida passa a ser como um jogo de cartas: às vezes você ganha, às vezes você perde, mas você nunca quer perder; e é isso que acontece quando entramos na faculdade. No entanto, pode ser traçado um claro perfil dos alunos que desejam estudar na FGV, assim como a exigência de bastante tempo do seu dia. É importante entender que há uma corda que liga dois pontos: o primeiro é que a instituição tem um perfil específico de alunos que permanecem durante a graduação e assim um nível alto de cobrança, e como resposta a essa exigência existem os alunos competindo CR’s.

Como tudo na vida, existem dois lados da moeda. O ponto positivo desse ciclo é o alto nível da instituição, a melhor capacitação para o mercado de trabalho por parte dos alunos, uma elevada qualidade por parte de professores, bom posicionamento nos rankings de melhores faculdades e o fato de se formar em um Think Tank. Ao mesmo tempo, existe uma rivalidade entre os alunos em determinadas escolas da FGV, seja por uma vaga ou por CR’s, o que gera uma pressão maior entre alunos da casa.

O CR é a abreviação do coeficiente de rendimento, que consiste na somatória de todas as notas do semestre divida pela quantidade de notas atribuídas: é a nota média. O CR de fato é importante para a seleção de um estágio ou de um intercâmbio, com o objetivo de mostrar o esforço do aluno a cada semestre. No entanto, existe um foco maior sobre essa variante, esquecendo-se de uma das partes mais importantes da faculdade: a saúde mental. Quero lembrar que o CR não define inteligência, capacidade ou conhecimento sobre determinados assuntos: sempre existem momentos ruins, ou simplesmente o aluno não lida bem com provas, o que reforça a carga de comparação entre os alunos da instituição.

Falar de saúde mental e faculdade parece existir apenas em um universo paralelo. O tema tem menos importância do que deveria; apesar de todos serem afetados por sua saúde mental, ela é tratada por quase ninguém, visto que não é vista como prioridade. Vamos lá: o que vale mais a pena, um estágio bom ou uma mente saúdavél? O status é um elemento importante para garantir coisas boas, o que não tenho dito como errado, visto que se tornou uma necessidade no sistema no qual vivemos.

Acredito que o ponto a se pensar é: como nós, alunos da FGV, lidamos com a pressão? De fato existe uma competição na FGV, assim como existe fora da instituição, mas como lidamos com ela? Existe um benefício pessoal na competição porque esta gera movimentação, premiação e afins, mas e se pensarmos no coletivo? Passamos no mínimo 4 anos com as mesmas pessoas e a competição torna o ambiente cansativo, de modo que aquilo que motiva pode acabar por também desmotivar.

Por fim, apesar de o texto falar muito mais sobre mim enquanto aluna da instituição, ao observar diálogos entre alunos sobre a temática, é possível notar que a questão da competitividade não perpassa apenas o meu eu, mas o coletivo. Posto isso, considero a importância de abordarmos mais o assunto, ao contrário de fingirmos ser um tema que não nos afeta, visto que é uma das questões em comum entre as escolas da FGV e que desencadeia inseguranças e conflitos.

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