Série Finanças | Fugindo do Vermelho

Como evitar perdas e aumentar lucros

Kaio Torres Dias
O Veterano
6 min readFeb 10, 2021

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Imagem de Steve Buissinne por Pixabay

Após um dos anos — tanto economicamente quanto de outras formas — mais conturbados da história recente , o desafio de manter a saúde financeira, inimigo antigo da população brasileira, se tornou ainda mais difícil. Em meio a níveis altos de desemprego, uma inflação considerável e com o fim do auxílio emergencial à vista, uma clássica pergunta ganha importância: como não se afundar em dívidas? Naturalmente, esse texto não contém uma resposta mágica para esse questionamento que já foi tema de centenas de livros, mas ele se propõe a fornecer dicas e práticas que podem ajudar a evitar problemas nas finanças pessoais.

Colocando ordem na casa

Em primeiro lugar, há uma forma muito simples, mas não tão fácil, de saber quando é preciso se preocupar com a possibilidade de endividamento: conhecer, com precisão, os gastos e os rendimentos mensais. Ao manter registradas todas as entradas e saídas de dinheiro, é possível fazer escolhas sobre o consumo que respeitem sua restrição orçamentária, evitando, assim, o acúmulo de dívidas. No entanto, apesar de todos os dados necessários estarem à disposição das pessoas, são poucas as que, realmente, possuem um conhecimento preciso das suas finanças. Podemos notar isso a partir do fato de que, de acordo com a CNC (Confederação Nacional do Comércio), cerca de dois terços das famílias brasileiras estão endividadas atualmente.

Essa observação não é surpreendente tendo em vista que anotar e organizar cada gasto e rendimento é uma tarefa que requer disciplina e dedicação. Dito isso, muitas instituições oferecem modelos de planilhas feitos especificamente para facilitar a organização do orçamento doméstico, entre elas, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e a própria Google. Além de facilitar o registro, esses softwares criam visualizações que ajudam a compreender as entradas e saídas de dinheiro ao longo do mês, possibilitando ao usuário, por exemplo, descobrir onde os gastos estão excessivos.

Modelo de planilha de Orçamento Mensal do Google Sheets

Escolhendo gastos e dívidas

Via de regra, controle de gastos é associado a menor conforto, prejuízo à imagem social e uma perda geral na qualidade de vida, mas essa relação não é necessariamente válida, pois nem todos os bens consumidos por uma pessoa lhe são úteis. Entre assinaturas de revistas que nunca são lidas, pacotes de TV com centenas de canais que não são vistos e roupas que juntam poeira nos armários, é difícil encontrar um indivíduo capaz de usar tudo o que compra. Isso não é inteiramente culpa dos consumidores, tendo em vista que empresas usam de diversos artifícios para incentivá-los a obter e manter produtos de que não precisam, desde a renovação automática de assinaturas até a venda de determinados pacotes.

Assim, o primeiro passo para reduzir os gastos é encontrar aqueles que são supérfluos e eliminá-los, principalmente se esses forem regulares, e não pontuais. Tal processo tem pouco ou nenhum impacto no bem-estar de uma pessoa e pode influenciar de forma considerável as finanças dela no longo prazo. Além disso, para evitar cometer os mesmos erros no futuro, é sempre bom se fazer um questionamento quando estiver prestes a realizar uma compra por impulso: “eu vou realmente usar isso?”.

Ademais, ainda que uma família organize bem suas finanças e restrinja os gastos aos bens que lhe sejam verdadeiramente úteis e prazerosos, a ausência de dívidas não é algo garantido. Seja para adquirir uma casa, financiar um carro ou realizar um investimento, em muitos casos, uma pessoa financeiramente responsável pode se ver obrigada a pegar empréstimos. Portanto, é importante não apenas conhecer meios para evitar o endividamento, como também saber quais as formas menos prejudiciais de conseguir dinheiro emprestado quando o momento o exige.

Nesse sentido, é importante analisar as opções de empréstimo e verificar a que melhor se encaixa no gasto que quer realizar e que possui a menor taxa de juros. Por exemplo, apesar de ser a fonte de endividamento mais comum entre as famílias brasileiras, de acordo com a CNC, o cartão de crédito possui um dos juros mais altos do mercado (em agosto do ano passado, a taxa média do cartão parcelado chegou a 133,44% ao ano), enquanto outras modalidades, como o crédito consignado, que retira o pagamento da dívida diretamente da folha salarial, tem um impacto muito menor no bolso do endividado (com uma taxa média de 29,23% ao ano no setor privado). Dessa forma, quando pegar dinheiro emprestado for uma necessidade, deve-se estudar as possíveis fontes para minimizar o impacto dessa ação sobre as suas finanças futuras.

A queda da poupança e a subida da inflação

Por muito tempo, a poupança foi a principal — senão única — forma de investimento da maioria dos brasileiros, e não é difícil entender o porquê: ela demanda pouco esforço, quase nenhum conhecimento e zero tolerância a riscos. No entanto, esses benefícios vêm com um custo que se agravou nos últimos anos: o baixo rendimento. Devido à queda notável da taxa SELIC nos últimos anos, a rentabilidade da poupança hoje se encontra em um dos patamares mais baixos de sua história.

Tal cenário é agravado pela inflação eminente dos últimos meses, que reduz ainda mais o rendimento real da poupança. Inclusive, no último ano, esse tipo de investimento registrou rentabilidade negativa, pois o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), principal índice referente à inflação, registrou um aumento de 4,52% nos preços, enquanto a poupança teve rendimento nominal de apenas 2,22%, o que significa que o dinheiro investido no começo do ano hoje vale menos do que na data do investimento. Desse modo, o cenário econômico atual incentivou as pessoas a optarem por colocar sua renda em opções com maior potencial de lucro, ainda que mais arriscadas.

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE

Nesse sentido, não há investimento que seja ideal para todos os indivíduos, pois as opções variam de forma notável em termos de risco, rentabilidade, duração e vários outros fatores. Por exemplo, títulos públicos são muito seguros, mas possuem um rendimento baixo (ainda que superior à poupança), enquanto ações de empresas, usualmente, possuem uma rentabilidade considerável, mas mudam de valor constantemente e a maioria das pessoas é incapaz de prever o lucro que será obtido com elas — ou, mesmo, se haverá algum lucro. Assim, é necessário que uma pessoa estude os ativos disponíveis e escolha o que melhor se adapte às suas particularidades, como tolerância a risco, duração do investimento, condição financeira, entre outras. Esse exercício, com certeza, é mais demandante do que a opção de colocar dinheiro na poupança e esquecê-lo até a aposentadoria, mas ele também tem maior chance de gerar um bom rendimento no futuro.

Portanto, fica claro que todos os caminhos para o aprimoramento das finanças pessoais passam pelo conhecimento. Os números dos seus gastos e rendimentos, os bens que lhe são úteis e os que são supérfluos, as opções de empréstimo e investimento que lhe são mais favoráveis — todas essas informações são essenciais para que um indivíduo ou família tome as melhores decisões em relação ao seu dinheiro. Assim, quanto melhor uma pessoa conhece suas finanças, suas preferências e o próprio mercado, mais fácil é para ela levar uma vida financeiramente saudável.

Referências:

ALVARENGA, Darlan. “Poupança perde para a inflação em 2020 e tem pior rentabilidade em 18 anos. G1,2021. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/01/12/poupanca-perde-para-a-inflacao-em-2020-tem-pior-rentabilidade-em-18-anos.ghtml

AGÊNCIA ESTADO. “Endividamento dos brasileiros sobe em agosto ao maior índice da série da CNC”. Infomoney, 2020. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/endividamento-dos-brasileiros-sobe-em-agosto-ao-maior-indice-da-serie-da-cnc/

TIME DA RICO. “15 Dicas Poderosas Sobre Finanças Pessoais”. Rico, 2020. Disponível em: https://blog.rico.com.vc/financas-pessoais

GAVIOLI, Allan. “8 aplicativos e planilhas de controle financeiro para organizar gastos e despesas em 2021”. Infomoney, 2021. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/conheca-8-planilhas-e-aplicativos-para-organizar-gastos-e-controlar-despesas/

MARINS, Lucas Gabriel. “Quando vale a pena pegar um empréstimo e ficar endividado?” UOL, 2021. Disponível em: https://economia.uol.com.br/financas-pessoais/noticias/redacao/2021/01/07/quando-vale-a-pena-pegar-emprestimo.htm

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