Série Modernidade | A Construção do Homem Pós-Moderno.
Os principais impactos pós-modernos encontrados na sociedade hoje
A frase “Deus está morto” aparece pela primeira vez no início do livro 3 de “A Gaia Ciência”, de 1882, escrito por Nietzsche. “Não estaremos vagando através do infinito nada? Os deuses também apodrecem e Deus morreu. Deus está morto e nós o matamos”.
O que isto significa? O primeiro ponto é obviamente que a afirmação “Deus está morto” é contraditória. Por definição, o Deus cristão é eterno e onipotente. Ele não é o tipo de coisa que morre, então o que significa dizer que Deus está morto? Essa ideia funciona em vários níveis: o primeiro ponto é como a religião perdeu seu lugar em nossa cultura. O significado mais óbvio e importante é simplesmente que, na Civilização Ocidental, a religião, especialmente o Cristianismo, está em declínio e Deus está perdido e/ou a religião perdeu a posição central que manteve nos últimos 2 milênios.
Isso se aplica a todos os campos: política, filosofia, ciência, literatura, arte, música, educação, vida social, vida diária e vida espiritual dos indivíduos. Segundo Nietzsche, a maioria das pessoas ainda não entendeu que as tendências religiosas do passado são inegáveis. Este foi o centro de nossa cultura: as maiores artes da Renascença, como “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci, costumavam usar temas religiosos, e cientistas como Copérnico, Descartes e Newton eram pessoas devotas — tão devotas ao ponto de Newton enlouquecer procurando significados ocultos na Bíblia. Todo o sistema educacional era administrado pela Igreja. Em maioria, as pessoas eram batizadas, casadas e sepultadas pela igreja. Eles a frequentavam regularmente ao longo de suas vidas. Muitas pessoas hoje dão preferência a celebrações seculares. Além disso, entre intelectuais, cientistas, filósofos, escritores e artistas religiosos, a religião quase não tem papel em seu trabalho.
Mas o que causou a morte de Deus? A nossa cultura está se tornando cada vez mais secularizada. Não é difícil de entender: a revolução científica, que começou no século XVI, logo ofereceu uma maneira de compreender os fenômenos naturais que se mostrou claramente superior à religiosa. Essa tendência ganhou força com o iluminismo, no século XVIII, século esse que consolidou a ideia de que a razão e evidência, ao invés de escrituras sagradas — o da tradição -, devem ser a base para as nossas crianças. Combinado com a industrialização do século XIX, o poder tecnológico cada vez maior criado pela ciência também deu às pessoas um maior senso de controle sobre a natureza.
Depois de entender a relação entre Nietzsche e Deus, é importante investigar o que ocupou o lugar de deus na mentalidade do homem pós-moderno. Em um vídeo disponibilizado na internet, Zygmunt Bauman conta que tudo começou no outono da década de 1980 — quando uma mulher assume nunca ter chegado ao orgasmo depois de casada, pois o marido sofria de ejaculação precoce e não a satisfazia.
Foi o fim da privacidade, o fim da procura pela aprovação católica (ou pelo menos o início do fim) e, principalmente, um choque ao entender a importância e impacto da sexualidade. Ao se deparar com uma sociedade extremamente individualizada, correndo atrás de sua própria satisfação e ao mesmo tempo sem qualquer limitação ao que divulgar em redes ou bate-papos, Bauman expressa o quanto isso é diferente do século XX e do tempo em que era menino.
Inegavelmente, a masculinidade tóxica toma cada vez mais lugar. É a reação paradigmática pelo lugar dado às mulheres. É comum ver a importância que muitos homens dão à aparência máscula, com falta de características humanas, como os sentimentos e a demonstração do desapego. É um verdadeiro desespero para mostrar que o homem ainda é superior — oposição existencial — à mulher (por mais que todo mundo saiba, em última instância, que não é o caso).
Afinal, o que nos faz jovens modernos? A normalização da exposição, a necessidade de reafirmação constante, de likes, reações e demonstrações de afeto cada vez mais vazias e raras. Esquecemos a importância das relações, e ficamos à mercê de todo esse desapego. Na minha visão, a problemática não se encontra na perda da religião e/ou moral católica, mas sim no que não tomou seu lugar.
Nessa série, o incrível é perceber que o modernismo é tudo: arte, política, industrialização e o que mais você quiser citar. Tudo mudou e a história te conta como e por quê.