Série Questões Raciais | Os espaços de poder e dominação e o racismo

Por Vania Rosa

O Veterano
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3 min readNov 20, 2021

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Foto no Unspash

Racializando o outro

O conceito de raça que originalmente seria para definir as diferentes espécies humanas tomou outro sentido nos países colonizados. Os colonos, para demarcar a diferença, procuraram objetivar os colonizados. Os traços físicos, a força física e a intelectualidade tornaram elementos fundamentais para definir a raça superior e inferior.

A historiografia nos mostra que alguns momentos importantes marcaram o encontro do “Ocidente” com os negros, asiáticos e indígenas. Conforme descrito abaixo, esses momentos deram origem a uma avalanche de representações populares, baseadas na marcação da diferença racial

O primeiro momento teve início com o contato, no século XVI, entre comerciantes europeus e os reinos da África Ocidental, fonte de escravos negros durante três séculos. Seus efeitos podem ser encontrados na escravidão e nas sociedades pós-escravistas do Novo Mundo. O segundo momento ocorreu com a colonização da África e sua “partilha” entre as potências europeias que buscavam controlar território, mercados e matérias-primas coloniais no período do “novo imperialismo”. O terceiro mo mento ocorreu com as migrações pós-Segunda Guerra Mundial do “Terceiro Mundo” para a Europa e América do Norte. As ideias ocidentais sobre “raça” e as imagens da diferença racial foram moldadas profundamente por esses três encontros fatídicos.

Stuart Hall

Uma série de estudiosos, pautados na diferença, foram construindo seus conceitos com oposição binária como negro/branco, emoção/razão, primitivo/civilizado, bárbaro/civilizado, corpo/mente. Aos europeus foi designado o lugar de privilégio nessa composição binária. Os povos que dominam a ciência, que ocupam os cânones das academias, donos da beleza e do saber. Os que não fazem parte desse grande bloco pertencem às raças inferiores e ocuparam e ocupam o outro lugar do par binário.

O filósofo Hegel declarou que a África “não faz parte da história do mundo (…) não tem movimento ou desenvolvimento para expor”. No século XIX, quando a exploração europeia e a colonização do interior africano começaram a sério, a África foi considerada como “encalhada e historicamente abandonada (…) uma terra de fetiche, habitada por canibais, dervixes e feiticeiros” por Stuart Hall.

Foi sendo construída assim, segundo Hall, uma teoria racial baseada em cultura e natureza.

As políticas racializadas da representação

Stuart Halll em seus estudos mostra que, para os estudiosos eugenistas, a lógica da por trás da naturalização, defende que se as diferenças entre negros e brancos são “culturais”, elas podem ser modificadas e alteradas. No entanto, se elas são “naturais” – como acreditavam os proprietários de escravos -, estão além da história, são fixas e permanentes. A “naturalização” é, portanto, uma estratégia representacional que visa fixar a “diferença” e, assim, ancorá-la para sempre. E uma tentativa de deter o inevitável “deslizar” do significado para assegurar o “fechamento” discursivo ou ideológico.

A prática de reduzir as culturas do povo negro à natureza, ou naturalizar a “diferença” foi típica dessas políticas racializadas da representação. A lógica por trás da naturalização é simples. Se as diferenças entre negros e brancos são “culturais”, então elas podem ser modificadas e alteradas. No entanto, se elas são “naturais” – como acreditavam os proprietários de escravos -, estão além da história, são fixas e permanentes. A “naturalização” é, portanto, uma estratégia representacional que visa fixar a “diferença” e, assim, ancorá-la para sempre. E uma tentativa de deter o inevitável “deslizar” do significado para assegurar o “fechamento” discursivo ou ideológico. (HALL, 2016 p.170)

Uma concepção que reverbera até hoje no Brasil e no mundo. Está no imaginário de uma boa parte da sociedade e das instituições essa demarcação racial. Quais os lugares que corpos pretos podem circular sem causar ou sofrer estranhamento ou rejeição? Quem pode ocupar cargos de poder, chefia e para quais pessoas é destinado cargos de subserviência? Os algoritmos racistas que invisibilizam pessoas pretas e forja a beleza, a potência da negritude.

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O Veterano é um jornal estudantil criado por alunos da Escola Brasileira de Economia e Finanças em 2020.