A direita a bandeira da Rússia e a esquerda a bandeira da Ucrânia.

Tensão na Ucrânia

Emanuel Bissiatti
O Veterano

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Após a primeira guerra mundial, com a queda do império russo, havia um desejo por parte da população ucraniana de ver a independência do país. Porém, esse desejo não durou muito; após a sua consolidação a União Soviética (vulgo URSS) anexou a Ucrânia como uma das repúblicas socialistas que formavam a união.

Já durante a segunda guerra mundial, o território ucraniano foi ocupado pela Alemanha Nazista. Em um primeiro momento, muitos ucranianos não o viam com maus olhos, já que acreditavam que as tropas de Hitler poderiam finalmente garantir a independência ao território. Contudo, os nazistas não foram capazes de suprir o descontentamento dessa população, ao invés disso deportando locais para trabalharem na Alemanha e ainda praticando o genocídio de judeus e outros grupos que lá residiam. Assim, os ucranianos uniram forças aos países aliados para a expulsão dos nazistas; ao todo, estima-se que 5 a 8 milhões de civis morreram durante o processo de invasão e ocupação por parte dos nazista.

De fato, as repúblicas russa e a ucraniana integravam a mesma união política. Como um gesto de amizade entre os países, o ex-primeiro-ministro da URSS, Nikita Khrushchev, cedeu a península da Crimeia, que pertencia historicamente à Rússia, para a Ucrânia, em 1954. Com a dissolução da URSS em 1991, a península passou a integrar o território da Ucrânia independente, com uma ressalva: a partir de 1997, com a assinatura de um tratado entre os países, a Crimeia passou a abrigar a frota naval Russa do Mar Negro. A partir do ano de 2004, a Ucrânia buscou estreitar as relações internacionais tanto com a União Europeia quanto com a Rússia. O país, inclusive, se preparava para criar um tratado de livre-comércio com a União Europeia.

Entretanto, a paz na região durou pouco. No final do ano de 2013, o então presidente eleito do país, Viktor Yanukovich, decidiu não assinar o tratado de livre comércio com a União Europeia, visando estreitar a relação entre o seu país e a Rússia. Em resposta, o povo, descontente com a medida, realizou massivos protestos contra o presidente eleito, o que culminou em sua saída dele do poder e no retorno da aproximação do país com o ocidente.

Mapa da Crimeia.

Contudo, os protestos trouxeram descontentamentos por parte da população ucraniana, sobretudo na Ucrânia oriental, onde a maior parte da população se identifica como Russa. Dessa forma, surgiram grupos separatistas apoiados financeiramente e militarmente pela Rússia na região leste do país. Os separatistas já conseguiram ocupar o parlamento na Crimeia — uma região estratégica para a Rússia por causa do acesso as águas quentes do Mar Negro — e declararam a região como independente através de um referendo considerado ilegal pela Ucrânia. O país ainda se encontra em uma guerra civil contra os rebeldes apoiados pela Rússia.

Por outro lado, a Rússia, vista como a grande sucessora da União Soviética, liderada há 20 anos pelo presidente Putin, não vê as decisões políticas externas da Ucrânia como benéficas à nação; pelo contrário, as vê como uma ameaça. Afinal, a União Soviética era uma potência global, rivalizava economicamente e politicamente com os Estados Unidos e os países europeus ocidentais. Apesar de nunca entrarem em conflito, havia a Guerra Fria, uma constante disputa de poder entre os EUA e a URSS e seus respectivos blocos.

Em meio a essa guerra, surgiu a organização militar OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que consistia em um acordo mútuo de autoproteção entre os países capitalistas da Europa e da América do Norte . Isto é, se um país estrangeiro a OTAN atacasse um membro, era dever dos membros defender esse país atacado. Em resposta, a URSS criou o Pacto de Varsóvia, com os países socialistas aliados da União Soviética, com o mesmo objetivo: proteger os membros de um ataque externo.

Já com o fim da URSS em 1991, o Pacto de Varsóvia foi extinto e os seus membros deixaram de ser socialistas. Dessa forma, a partir de 1997, diversos países da Europa Leste, sendo a maioria antigas repúblicas socialistas, entraram para a OTAN. Assim, a Ucrânia acabou tanto vizinha da Rússia quanto de países que pertencem à OTAN e à União Europeia. Então, a Ucrânia, com objetivos de estreitar laços com os países do oeste, tornou-se um país parceiro da OTAN, isto é, um possível candidato a entrar na organização.

Tal medida, um avanço da OTAN para o leste, desagrada os líderes russos. E, no fim de 2021, verificou-se por satélite um avanço de tropas russas para a fronteira com a Ucrânia. A princípio a Rússia afirmava que esse avanço não era nada com que se preocupar, afinal, as tropas apenas estavam se deslocando dentro do território russo. Os países da OTAN entenderam, então, que a Rússia estava com intenções de invadir a Ucrânia. Tempos depois, a Rússia se pronunciou com uma lista de exigências para retirar as tropas da região, a principal delas sendo o impedimento da entrada da Ucrânia na OTAN, afastando a influência da organização da fronteira russa e de sua esfera de influência.

Mapa atualizado do países da OTAN na Europa indicando o ano de ingresso na organização.

Tal medida, um avanço da OTAN para o leste, desagrada os líderes russos. E, no fim de 2021, verificou-se por satélite um avanço de tropas russas para a fronteira com a Ucrânia. A princípio a Rússia afirmava que esse avanço não era nada com que se preocupar, afinal, as tropas apenas estavam se deslocando dentro do território russo. Os países da OTAN entenderam, então, que a Rússia estava com intenções de invadir a Ucrânia. Tempos depois, a Rússia se pronunciou com uma lista de exigências para retirar as tropas da região, a principal delas sendo o impedimento da entrada da Ucrânia na OTAN, afastando a influência da organização da fronteira russa e de sua esfera de influência.

Já o Brasil, um país que tradicionalmente não se envolve em disputas militares, conversa com ambos os lados. Mesmo o país sendo aliado da OTAN, o presidente Bolsonaro irá encontrar o presidente russo para conversar sobre o comércio bilateral entre os países. A viagem, que já estava marcada desde dezembro, irá ocorrer nas próximas semanas apesar da tensão na região. Para o Putin, o encontro com o Bolsonaro é importante para mostrar sua influência na América Latina, que sempre esteve mais próxima aos Estados Unidos. Já para o presidente brasileiro, o encontro é importante para fortalecer a sua base aliada e mostrar que ainda tem um mínimo de relevância no cenário global.

De qualquer forma, a situação continua crítica na região. Por precaução, os países da OTAN estão preparando tropas para levar ao leste europeu. A Ucrânia, porém, está praticamente nas mãos da Rússia e da diplomacia. Se houver uma invasão, ela será letal para a Ucrânia, uma vez que o país ainda não tem poder bélico o suficiente para conter o poderoso exército russo, sobretudo no meio de uma guerra civil contra separatistas pró-Rússia que já dura 8 anos.

Fontes:

Crise na Ucrânia: por que EUA enviarão milhares de soldados para a Europa — BBC News Brasil

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ucr%C3%A2nia

Rússia x Ucrânia: o que é a Otan e qual seu papel na crise | Mundo | G1 (globo.com)

Crimeia — Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

G1 — Entenda a crise na Crimeia — notícias em Mundo (globo.com)

O que Bolsonaro fará na Rússia em momento de alta tensão com Ucrânia — BBC News Brasil

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Emanuel Bissiatti
O Veterano

Aluno de Matemática Aplicada da FGV. Amante de tecnologia, jogos de tabuleiro, jogos eletrônicos e cinema.