Bruxaria: o que significa?

Inês Barreto
O Voo da Bruxa
Published in
3 min readAug 4, 2016

Você sabe o que significa a palavra bruxaria? Você acha que sim.

A gente tem contato com ela desde criança. Aliás, mais quando é criança do que em outras fases da vida. As bruxas estão nos desenhos das Disney, nos programas da Globo e do Discovery Kids e na imaginação, como tudo de ruim que a gente pode atribuir para uma mulher.

A bruxaria e a bruxa são propriedade da cultura pop, com tudo o que ela tem de melhor — Harry Potter, Família Adams, The Witcher — e de pior.

Mas você sabe que, muito além do universo da ficção, a bruxaria realmente existe no nosso mundo, e o que essa palavra significa na história do ocidente? Como ela passou por um monte de interpretações ao longo dos últimos três ou quatro mil anos, aqui vão alguns dos “tipos” de bruxaria do mundo real:

Bruxaria heresia

Heresias são deturpações da fé e das práticas católicas. As heresias começaram a surgir — e a serem perseguidas — lá pelos séculos XII e XIII. Elas pregavam diferentes maneiras de se encarar e praticar a fé cristã. Quando a bruxaria foi associada ao sabá e ao culto ao demônio, ela podia ser considerada uma heresia. Afinal, a missa negra nada seria do que uma subversão do que os padres faziam na igreja. Mas, ao longo do tempo, ela começou a ser encarada por inquisidores como outro tipo de crime e acabou sendo o foco central de uma boa parte dos processos. Alguns historiadores colocam que a bruxaria não é uma heresia e, assim como o “crime de judaísmo”, precisa ser estudada como um caso à parte. Mas muita gente ainda enxerga a bruxaria dessa maneira. A ideia da bruxa herege foi uma das que mais permaneceu no imaginário do ocidente.

Religião da bruxaria

A ideia de que a bruxaria era uma espécie de religião sempre existiu, de uma forma ou de outra, relacionando-a as religiões pré-cristãs da Europa. Mas ela ganha força mesmo no fim do século XIX e começo do século XX, quando autores como Charles Leland e Margaret Murray levantam com força a ideia do culto das bruxas: uma seita que conservou suas devoções pagãs escondidas durante a dominação cristã. É nessa ideia que Gerald Gardner baseia a Wicca, que hoje se tornou a grande referência da bruxaria no mundo. Os wiccanos tratam a sua crença como uma religião organizada, com ritos de casamento, batismo, iniciação etc. Em algumas instituições e países, a Wicca é reconhecida oficialmente como religião.

Prática da bruxaria

Práticas mágicas sempre existiram, em todas as sociedades. Em relatos do século XVI ou XVII é possível ver pessoas que eram consideradas bruxas por fazerem curas, ou por adoecerem alguém ou algum animal, e mesmo assim eram consideradas cristãs. Lá na Antiguidade grega e romana, a feitiçaria estava relacionada com o culto de algumas deusas, mas não fazia parte da religião oficial e chegou a ser proibida. Daí nasce a ideia da bruxaria como uma prática mágica: um conjunto de feitiços, conhecimento de ervas, filtros de amor e outros temas, passados por tradição oral, que podem ser utilizados independentemente da crença da praticante. Essa ideia de bruxa também é bem forte no mundo hoje: diversos praticantes da bruxaria tendem a entendê-la como uma prática, não como uma religião.

Todos esses tipos de bruxaria fazem parte da nossa história. E, aqui, não é uma questão de acreditar ou não em bruxas: é só ler documentos da inquisição, tábuas de maldição dos gregos ou ir na seção de esoterismo de qualquer livraria que você vai ter certeza de que bruxas existem - e estão reformulando a sua identidade religiosa o tempo todo.

Se você pensou em mais alguma definição de bruxaria, deixe a sua contribuição nos comentários.

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Inês Barreto
O Voo da Bruxa

Redatora e historiadora. Pesquisadora de feitiçarias e macumbas. Mestre e doutoranda em História pela @puc_sp