Mas o que é o voo da bruxa?
Neste começo do ano, decidi contar de onde veio a inspiração para o nome do projeto.
Você sabia que voar sempre esteve associado às personagens bruxas, mas como surgiu essa coisa toda?
Varas, vassouras e pilões
Na arte e nos documentos da Idade Média, já encontramos algumas referências de bruxas voando em varas bifurcadas, que provavelmente são os protótipos do voo na vassoura. Em outras histórias, as bruxas voavam de muitos jeitos diferentes. Nas histórias da cultura popular russa encontramos a Baba Yaga, que voa em um pilão mágico. Nas mitologias do Mediterrâneo, as bruxas eram associadas às corujas noturnas. E em muitas outras partes da Europa imaginava-se que elas iam para o sabá montado em pássaros, bodes e gatos.
O voo xamânico
Uma das hipóteses para o voo é a de que ele representaria um transe. A bruxaria seria uma sobrevivência de uma proto-religião xamânica dos povos indo-europeus. O ato do transe, de sair do corpo em espírito e andar pelo Mundo dos Mortos, é representado pela metáfora do voo.
Teorias e discussões
O principal defensor dessa teoria é o historiador Carlo Ginzburg, uma das grandes referências em história da bruxaria. O principal livro dele sobre o tema chama-se História Noturna e foi escrito no final dos anos 1980, por isso hoje já tem algumas novas visões sobre essa hipótese.
O etnógrafo húngaro Eva Pócs é um dos principais contestadores dessa teoria. Para ele, a ideia do xamã não é universal. Segundo suas pesquisas no sudeste da Europa, os povos eslavos e bálticos tinham a crença em magos e espíritos que eram enviados para fazerem coisas boas, mas não necessariamente eram xamãs. Ou, se havia algum vestígio de xamanismo como Ginzburg colocou, era muito residual e sem grande influência.
Mas independentemente das teorias e discussões acadêmicas, o voo continua sendo um dos principais símbolos associados às bruxas. Dos desenhos de Halloween da Disney até Harry Potter, na iconografia e na história da arte, a vassoura e o voo sempre estão associados ao feitiço, à noite e ao trabalho da bruxa.
Referências
O livro História Noturna: desvendando o sabá, de Carlo Ginzburg. Publicado no Brasil pela Cia. das Letras
O capítulo "Transe Sagrado" do livro Grimório das Bruxas, de Ronald Hutton. Publicado pela DarkSide Books.
