melo
ob theo 
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4 min readOct 7, 2014

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A réplica do cachorro, inconclusivo, abstrato e nojento

É engraçado o modo como sempre evito o meu posicionamento em relação às coisas que nos cerca. Caro leitor, é de direito meu a réplica, evidenciando-lhe que estou em constante conflito justamente sobre os posicionamentos que costumamos nos correlacionar e interagir com outrem.

Em período de fim de eleições, com aquele gosto amargo de fim de ano, junto também ao ar frio e solitário, o ano se encerra em matéria de eventos de grande mobilizações nacionais e quiçá, mundiais. É, acabou e nem sequer vimos. Ou sequer começou.

Começo o texto com tamanha abstracção de ideias e de fatos, de maneira inteiramente intencional, que é para se habituar com o texto e o estilo da narrativa que escolhi para tal, além de que não é de segredo para ninguém que meu estilo favorito de escrita e narrativa é o mais anárquico possível.

Bom, venho declarar que este não é o fim de um ano qualquer. Este é o ano do vigésimo segundo aniversário de nosso primeiro e até então, único impeachment. Este é o ano do trigésimo aniversário das Diretas. De que importância os têm? Bom, a começar que não é preciso ler muito para descobrir o quão sujo e podre somos hoje, ignorantes sobre assuntos de nossa própria história e de suma importância. Basta ler um pouco, para saber onde foi que as elites políticas surgiram, e de onde vêm esse sentimento inoportuno de “não haver uma direita no Brasil”, esses sentimentos de conservadorismo e de direita. Partidos como PMDB, PT vieram em oposição alimentando cada vez mais movimentos contra o regime militar, a encher as ruas com comícios, shows e manifestações. Hoje vemos, cada vez mais, filhos e netos desses senhores, como o falecido Eduardo Campos, Aécio Neves, Beto Richa entre outros tantos apadrinhados políticos receberem milhões de votos por um povo que confia nos mesmos e acredita no sentimento, talvez da mesma promessa que seus padrinhos, pais e avós. Pela promessa de mudança.

Acontece que este ano de 2014 também é o fim de um bienio completamente imprevisível e controverso de nossa história política-social-econômica. Sim, digo das manifestações do esquizofrênico mês de Junho do último ano. Questões sobre como o país, a sociedade, o sistema político, o sistema financeiro, a economia e todos quaisquer departamentos públicos comandados pelo executivo estavam caminhando até então foram deliberadamente levantadas por quase tudo estar prestes a ser revolucionado com fogo, bombas e agressão. Vimos pela televisão e internet, ouvimos pelos rádios, presenciamos com nossos próprios olhos o povo tomando o Congresso Nacional e botando fogo no Itamaraty e quase tudo ter ido para o espaço. Naquele momento, ninguém dizia mudança, ninguém sequer entendia as necessidades reais e as discussões sobre as mesmas. Era discurso de repúdio, garras para falar a verdade, eram as mãos cada vez mais pesado batendo forte em todos, fossem burgueses, classe média(nova ou não), periféricos e ricos. O país se mobilizou, sangrou, chorou, correu, ateou, apedrejou, vandalizou, agrediu, sofreu e gritou naquele mês, que teve em seu meio a maior chance da revolução política real e em seu fim, seu auge esquizofrênico burguês.

É um biênio de extrema importância caso você esteja se preparando psicologicamente e queira descobrir onde pisa, que ideologia segue e quais crenças prefere. O pão e circo de 2014 foi a pior ressaca possível de 2013. Mortes, eventos catastróficos aconteceram em 2014, tendo pouquíssimos casos de casos de histeria e felicidade comum. Já 2013, foi um ano heróico à sociedade, à cabeça de muitas ideologias e de plena chance de estudo.

A sociedade de consumo, materialismo vem se desfazendo e se deteriorando a cada segundo, e todos estão acordados sabendo disso, mas não simplesmente ali com os olhos abertos, mas em estado de pleno sonambulismo, ou paralisia do sono mesmo. Mal comparando, os sentimentos levantados em 2013, de mudança e de renovação, nada fizeram efeito nestas eleições. Muitas reeleições e eleições improváveis estão aí para provar. Mas, isso é questão de partido? Isso é questão de ideologia? Não. Os ventos de “mudança” de 1984 continuam a ecoar pelas cabeças das maiorias. Assim como em 1984, o sentimento paranóico de estar em vigilância, perseguição continuam em 2014, 2013, 2012 e os mesmos discursos e as mesmas pessoas, seja em sangue, ideologia ou carne, das Diretas estão ainda a funcionar. Tentamos quebrar e renovar tudo, passando o dedo no chantilly do bolo, voltamos atrás e simplesmente voltamos com nossa memória para 30 anos atrás, e reinserimos as apostas em mesmas pessoas.

É preciso que acordemos o quanto antes para refletir e concluir que não nos cabe uma sociedade baseada em giro, uma sociedade baseada em dinheiro e tão só o valor monetário. É incrível o poder que não temos quando ele fala alto. O poder que as pessoas têm, ao falar que não poderemos gastar como qualquer outro. Isso enfurece muitos, todos, sendo que o problema está em tudo. O novo precisa mudar, uma pós-esquerda, que não dependa da esquerda bolivariana-marxista/latina-socialista para preparar suas idéias, formentações e debates, e de uma pós-direita, que talvez consiga ser tão escrota quanto a atual e/ou a antiga. Claro que isso dá margem a absurdos e erros, mas não nos cabe mais os velhos meios de blindagem executiva-jurídica-legislativa contra a rua. Temos o poder de ir lá e arrumar tudo. Temos o poder de ir lá e fuder com tudo. Nos falta o poder de pensar. Ir além. Transgredir, transcender e transformar.

Quem sabe daqui 30 anos, possamos estar finalmente, de cabelos e barba brancos, votando nos discípulos e restos batizados em Junho de 2013. Isso se não formos destruídos até lá.

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melo
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transgressor desde a língua, até a água que tu bebes