Ilustração com fundo azul escuro, com o logotipo da empresa Objective centralizado ao meio no canto inferior. Acima do logotipo estão cinco ícones nas cores branco e laranja, na seguinte ordem: ícone de muletas, de óculos, de fone de ouvido, de uma pessoa com ataduras e de uma cadeira de rodas.

Não tenho nenhuma deficiência, mas vou ler esse texto para entender um pouco sobre…

Thamires Cruz
Obj Experience Chapter
4 min readMar 10, 2022

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…Só preciso dos meus óculos. Onde deixei mesmo?”

Você já teve que abrir alguma porta enquanto carregava várias sacolas de supermercado?

Já quebrou algum dos braços e, na entrada do hospital, teve que assinar um documento com aquela letrinha esquisita, já que a mão com a qual escreve estava imobilizada?

Ou a clássica: descobriu que não entendia nada da matéria na escola não porque tinha dificuldade de aprendizagem, mas porque sentava no fundão e tinha miopia?

Então me acompanhe aqui porque, eventualmente, todos vamos ter algum tipo de deficiência.

Quadro “Reconhecimento de exclusão” desenvolvido pela Microsoft na documentação Inclusive Toolkit. Deficiência ≠ Condição pessoal de saúde. Deficiência = Interações humanas incompatíveis (com o ambiente).

Deficiência: me explica?

Segundo a Lei Federal n° 13.146/2015, artigo 2º, “considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.”

Adicionando a “impedimento de longo prazo” também deficiências de médio e curto prazo, diríamos que a interação entre as características do corpo de uma pessoa e as características do ambiente em que vive são incompatíveis para que determinadas atividades sejam desenvolvidas.

Acredito que os casos que citei acima se encaixam bem nessa definição, não?!

O caso do título desse texto é verdadeiro. O site WebAIM tem um artigo onde se discute um fenômeno curioso: um grande grupo de pessoas é perguntado se alguma delas tem deficiência visual. Poucos membros dizem que sim, mesmo quando um número considerável deles usa óculos ou lentes de contato.

Vídeos com legenda e tradução de idiomas, controle por voz e chatbots que ajudam a navegação são tecnologias parceiras da acessibilidade tanto quanto uma bengala e o próprio óculos.

Entre vários tipos de deficiências, elas podem durar alguns momentos — como após um exame oftalmológico — , até a vida toda, como a surdez. Pensando melhor, devemos rever o conceito de acessibilidade como algo para uma minoria que é diferente de mim.

Diferentes tipos de deficiência

Agora já sabemos que existem diversos tipos de deficiência e elas podem ser divididas em diferentes espectros.

A Microsoft, que tem uma área de pesquisa para design inclusivo (metodologia de design que baseia-se em toda a diversidade humana), desenvolveu um material sobre este assunto e os tipos de deficiência.

No quadro “The Persona Spectrum”, vemos diferentes personagens em cenários e contextos diversos: tato, visão, audição e fala. Divididas em colunas, identificamos as deficiências permanentes, temporárias e situacionais.

Segundo a Microsoft, o objetivo da ferramenta é “fomentar a empatia e mostrar como uma solução é escalada para um público mais amplo’’.

Dessa forma, o desenho de soluções focadas para deficiências permanentes, por exemplo, pode se estender a todos àqueles que em algum momento vivenciam a falta — temporal ou situacional — de algum movimento no corpo, por exemplo. Ainda de acordo com a pesquisa da empresa “Resolva para um, estenda para muitos, concentrando-se no que é universalmente importante para todos os humanos”.

Onde isso nos levará?

Para começar, mudança de percepção. Perceba quantas vezes você se beneficiou de soluções que foram, a princípio, desenvolvidas para pessoas com deficiências permanentes, como um vídeo com legendas traduzidas ou pedir pra Alexa ligar para alguém.

Mudando nosso modelo mental, seremos capazes de perceber diferenças, pensar em diferentes metodologias, ferramentas tecnológicas e, finalmente, mudar nosso comportamento ante a diversidade.

A arquiteta de informação Anne Gibson traz ainda em um artigo sobre acessibilidade a problemática do design de projetos baseado apenas no público alvo com limitações físicas, tirando o foco do hardware e do software, criando ainda mais estereótipos.

“(…) Nosso processo atual de definir as necessidades de nosso público com base em suas limitações físicas se degrada muito rapidamente no processo de criar estereótipos, categorizar os membros de nosso público e, em seguida, decidir quais necessidades satisfazer com base no orçamento da tarefa.

Não apenas na internet, acessibilidade deve ser sobre tecnologias que ajudam o usuário a atingir seus objetivos, independentemente de sua forma corporal ou percepção cognitiva, desde as pessoas cegas às que usam um “simples” óculos de grau.

Procure mudar a lente.

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Thamires Cruz
Obj Experience Chapter

Designer em eterna formação. Curiosa sobre psicologia, comportamento humano e história(s).