O que podemos aprender sobre testes de usabilidade com Jurassic Park

Vinicius Manzano
Obj Experience Chapter
6 min readApr 7, 2021
#PraCegoVer: imagem de capa do artigo com fundo azul, símbolo do filme Jurassic Park com grafismos de balões de chat, lupa e megafone.

O objetivo de um teste de usabilidade é entender como usuários reais irão interagir com seu sistema, seja ele digital ou um serviço, e fazer mudanças baseadas em resultados. Sendo assim um teste pode prover os dados necessários para previnir problemas e melhorar todo o ambiente para seu usuário.

Um teste é ainda mais importante quando seu sistema tem o potencial de devorar seus usuários e é com isso em mente que eu vou mostrar para vocês como o roteiro do filme Jurassic Park (1993) é sobre um grande teste de usabilidade. Mas você deve estar se perguntando o que nós, como designers, podemos aprender com os acertos e erros dos processos aplicados no filme.

A motivação para o Teste

Um acidente ocorreu no parque e os investidores/stakeholders tem dúvidas sobre a segurança do produto, para isso eles convocam uma equipe para validar se essa hipótese é correta e quais providências devem ser tomadas para colocar o produto de volta no caminho certo ou cancelá-lo.

Os membros da Squad

#PraCegoVer: na imagem temos três personagens e estamos chamando eles de "Os QAs" (Alan, Ellie e Malcolm)

John Hammond: É o Product Owner e idealizador do parque, foi dele que partiu o conceito inicial e como tudo deveria funcionar. É responsável pelas regras de negócio, realizar reports para os Stakeholders e garantir que a visão do parque seja alcançada.

Alan Grant, Ellie Sattler e Ian Malcolm: Os 3 cientistas fazem um papel híbrido entre usuários (como são vistos pelo PO) e Analistas de Qualidade (QA) pelos Stakeholders. Dentro do roteiro eles são convocados para dar um aval na segurança do parque e permitir que ele seja aberto ou não.

Donald Gennaro: O advogado que representa os investidores e stakeholders, em suas palavras "Se eles não estiverem satisfeitos, eu não estou satisfeito". Idealmente os stakeholders não fariam parte da condução de um teste em um cenário real.

Lex e Tim: As crianças representam os usuários finais do parque, diferente dos cientistas estão ali para apresentar insights acerca da jornada do serviço e não necessariamente para dar seu aval de segurança, embora em um cenário de teste não moderado (já vamos chegar nisso lá embaixo) isso também pode acontecer.

Dennis Nedry, Muldoon, Ray Arnold e Dennis Wu: Por fim temos os desenvolvedores que trabalharam em diversos elementos do parque desde o processo de clonagem dos dinossauros até a segurança das jaulas. São importantes para o processo, pois podem fornecer contexto sobre as regras de negócio para os QAs e Stkaholders, além de terem uma visão de como o sistema funciona como um todo.

Os testes

Embora o filme todo seja um grande teste, irei elencar alguns momentos que podem representar cenários que poderiam acontecer no mundo real e quais seriam os aprendizados que podem ser obtidos.

Momento 1: A visita a jaula dos raptors

#PraCegoVer: Imagem do filme Jurassic Park em uma das atrações

Antes de iniciarem a visita no parque os personagens fazem uma passagem por uma das atrações onde o QA indaga um dos desenvolvedores sobre a segurança de uma jaula e como isso garantiria o bem estar dos futuros usuários do parque, ele demonstra choque com as respostas e utiliza esse conhecimento no futuro para "salvar" os usuários finais.

Aprendizados: O QA aprende que os raptors são saltadores e trabalham em bando, que as medidas de segurança embora pareçam eficazes podem levar a acidentes no futuro, essa hipótese é testada futuramente no filme.

Como você pode utilizar: Antes de elaborar o teste é importante ter todas as regras de negócio e as limitações de seu produto. Muitas vezes você não estará testando a versão final e no caso de um teste moderado você pode guiar o usuário para os elementos que você, como designer, julga mais críticos de serem testados.

Momento 2: A visita a área do Tiranossauro

#PraCegoVer: Imagem do filme Jurassic Park. Dinossauro a esquerda, carro capotado ao meio e pessoa com lanterna a direita apontando para o dinossauro.

Ao sairem para realizar a visita vemos um exemplo de teste não moderado. Pois o PO quer observar os usuários no parque em uma situação que poderia ocorrer naturalmente no dia-a-dia. Em um teste não moderado você está fornecendo acesso irrestrito ao seu sistema e observando como seu usuário se comporta, essa metodologia fornece insights valiosos já que pode evidenciar elementos que você como designer não tinha notado previamente.

Aprendizados: As travas e luzes dos veículos não estão funcionando, causando frustração no PO, a atração principal da jornada, o T-Rex, não aparece. Além disso a presença de uma lanterna problemática intensifica o problema, uma falha de segurança descoberta no teste. Isso mostra que por mais que o designeR tenha pensado em diversos elementos, numa situação de uso real as coisas podem não se comportar como deveriam. Dentro do universo do filme eles poderiam usar essa informação para alterar o horário do percurso baseado no comportamento do animal ou fornecer algum tipo de visão com câmeras para os usuários poderem ver o animal já que o problema chave , como definido pelo PO, foi o animal não aparecer.

Como você pode utilizar: Testes não moderados funcionam melhor para avaliar sistemas que já estejam numa fase funcional ou protótipos de altíssima fidelidade. Eles são recomendados para atividades que não exigem muita imaginação ou emoções dos participantes. Porém este tipo de estudo requer um planejamento ainda mais meticuloso do que um estudo moderado, já que você não poderá adaptá-lo no meio do processo caso algo dê errado.

Momento 3: A descoberta dos ovos

#PraCegoVer: Imagem do filme Jurassic Park, homem a esquerda com ovo de dinossauro em mãos, crianças (menino e menina) a direta.

Em um certo momento do filme um QA e os usuários encontram ovos que não deveriam existir, de acordo com as regras de negócio do parque. Com isso eles concluem que certos passos foram ignorados em favor de um lançamento mais rápido do produto e isso colocou os usuários finais (e o produto) em risco.

Aprendizados: Os personagens aprendem que por mais que você planeje todos os detalhes do sistema as vezes ele vai sair do controle. Ele pode sair do controle por motivos expontâneos, o usuário pode encontrar formas não previstas de utilizá-lo ou até mesmo alguém mal intencionado pode querer quebrá-lo intencionalmente.

Como você pode utilizar: Um sistema sempre pode prover dados quantitativos após seu lançamento, por isso é importante como designer você ter um conhecimento profundo das regras de negócio e saber o que observar para realizar melhorias iterativas no sistema em caso de uma quebra ou de um surgimento de um cenário não previsto. O uso de ferramentas analíticas, observação constante e atenção a escalabilidade faz toda a diferença para longevidade de um sistema.

A importância de testar seu produto

Embora no filme houvesse resistência por parte da inspeção (e teste) na ilha, é exatamente o resultado final que mostra o quão importante é testar um produto. É claro que no filme vemos um cenário extrapolado mas da perspectiva de um usuário a usabilidade do sistema é algo muito importante já que é ela que vai permitir que ele complete as tarefas que ele deseja de forma facilitada e segura. Para o designer a usabilidade é importante já que é uma forma de medir o sucesso de um sistema e por fim para o PO é um dos fatores que pode influenciar no sucesso ou fracasso de um produto, qualquer produto que tenha uma usabilidade ruim irá desperdiçar tempo e energia, seja dos usuários ou da equipe responsável pela criação.

Em suma nós como designers devemos advogar por testes, eles podem revelar problemas e insights que ficariam perdidos do contrário. É uma das áreas do design que devemos seguir o exemplo de John Hammond e não poupar despesas.

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Vinicius Manzano
Obj Experience Chapter

Designer por formação. Falo muito sobre cinema, séries, games e todas essas coisas da famigerada Cultura Pop