Processo de onboarding dos novos UX Designers da Objective

Juliana do Vale
Obj Experience Chapter
8 min readMar 10, 2021
#PraCegoVer: Ilustração com uma seta em zigue-zague apontanto para cima e ao longo de sua extensão elementos que representam um processo de estudo com mão segurando um lápis, folha com anotações, lâmpada, computador e engrenagens.

Em 2020 o Objective Experience Chapter passou por um crescimento ultra acelerado onde fomos de quatro para doze pessoas em um piscar de olhos.

Com poucas pessoas é relativamente fácil manter comunicação direta e padrões, mas quando essa realidade muda e ainda incluí a distância física, o desafio se torna muito maior.

Como Head da área, um dos meus principais desafios foi encontrar um formato de onboarding onde os novos membros possam se sentir seguros para pegar a sua primeira demanda. Reconheço que tivemos muitos erros e acertos, mas eles foram importantíssimos para chegar em uma base sólida, ao mesmo tempo modular e adaptável a qual você terá a oportunidade de conhecer agora.

Os problemas identificados

Uma coisa que eu costumo fazer é aplicar o processo de UX no próprio dia a dia do Obj.Exc. Ou seja, pesquisas são aplicadas com frequência para identificar o que precisa ser evoluído, e é claro que com o processo de onboarding não seria diferente.

Quando o time era pequeno, consequentemente tínhamos poucos projetos, assim eu mesma conseguia aplicar o onboarding e acompanhar o novo membro no seu primeiro mês. Essa realidade mudou quando recebemos três novos membro de uma só vez. Cada membro para um projeto diferente e a inexistência de documentação do processo de UX dificultou ainda mais as coisas.

Eu sabia que não estávamos com a melhor estrutura, mas os quatro membros se dividiram e fizeram a "coisa" acontecer. Naquele momento um alerta ascendeu e a minha primeira ação foi anotar todos os problemas e gaps que o processo mal estruturado trouxe para o time, os quais foram:

  • Informações importantes deixaram de ser transmitidas por puro esquecimento. Com isso, dia após dia muitas dúvidas surgiam e causavam inseguranças aos novos membros;
  • A curva de aprendizado estava alta pois as informações eram soltas e a falta de documentação criava a dependência dos membros mais antigos do time que muitas vezes estavam apagando os incêndios de seus projetos;
  • O processo de UX começou a se perder. Ficou difícil medir a qualidade e a capacidade do time em abraçar novos desafios, logo também ficou mais difícil identificar que precisávamos de mais pessoas e justificar isso;
  • Inconsistências no padrão das entregas dificultavam a passagem de bastão para o desenvolvimento e até mesmo nas aprovações com os stakeholders;
  • O propósito de atuação estava se perdendo, causando um baixo engajamento com a disseminação da cultura de UX;
  • Evoluir o onboarding era uma ótima oportunidade de aumentar a integração entre os membros do Obj.Exc e com os membros das squads que cada UX estava alocado.

Por onde começamos

Após identificar os problemas, meu foco foi organizar e documentar o processo de UX. Ficamos por um tempo sem previsão de novos membros e o conteúdo do onboarding viria dessa documentação.

A partir de um formulário de pesquisa consegui ter uma melhor percepção de como cada membro trabalhava com as etapas do processo e quais ferramentas eram mais utilizadas.

O entendimento do propósito das etapas teve um resultado positivo, mas claramente havia uma confusão de quais atividades eram esperadas em cada etapa e as ferramentas eram pouco exploradas. Além disso, ficou evidente que muitas demandas chegavam com informações incompletas e parte do tempo era perdido em caçá-las.

Com base em metodologias ágeis conseguimos detalhar o que era esperado de cada etapa e quais informações eram necessárias para o início de uma demanda e, principalmente, quando considerar que uma etapa estava finalizada (vou te contar mais detalhes em um outro artigo).

#PraCegoVer: print do detalhamento do processo de UX. Não expõe o conteúdo completo, objetivo meramente ilustrativo.

Dessa documentação surgiram diversos conteúdos que foram detalhados em um "Guia do Designer" (conto mais sobre à frente) e diversos workshops para equalizar o conhecimento do time.

Como é hoje

O onboarding para os novos UX Designers da Objective acontece em quatro etapas que contemplam aspectos culturais, organizacionais, processuais e contexto de projeto.

Outro detalhe é que esse processo não é mais concentrado em uma única pessoa. Para isso, criamos "referências" dentro do time sendo uma pessoa para o processo de discovery, outra de prototipação, etc. Assim quando surge uma dúvida, o novo membro sabe a quem recorrer.

1- Aspectos culturais

Uma parte deste tópico já é passada aos novos colaboradores pelo time de Gente & Gestão no primeiro dia, mas essa apresentação envolve aspectos gerais da empresa. Como o Obj.Exc é uma área relativamente nova na empresa (apenas quatro anos), temos o grande desafio de encaixar o nosso processo ao desenvolvimento, estratégia e concepção das soluções.

Então, logo no segundo dia eu mesma faço a recepção e dou um overview de como o time está estruturado, quem são as pessoas, nossos desafios, nossa metodologia e passo rapidamente pelos principais entregáveis.

Ao final desta sessão o "Guia do Designer" é apresentada e o novo membro deve finalizar o dia lendo e anotando suas dúvidas. Também são liberados os acessos aos canais de comunicação, convites das cerimônias, licenças dos softwares e acesso ao repositório de arquivos.

2- Aspectos organizacionais

Para que o novo membro consiga se organizar, encontrar arquivos e trackear suas próprias tarefas, o próximo passo é focado em:

  • Apresentar a lógica de organização e nomenclaturas dentro do repositório de arquivos;
  • Ambientalização com o utilizar o Jira, nossa ferramenta de acompanhamento das tarefas e kanban board;
  • Cerimônias do Obj.Exc e seus objetivos;
  • Cerimônias das squads;
  • Como funciona o acompanhamento individual e evolução profissional.

Neste momento estamos criando um novo tópico que refere-se as boas práticas de prototipação, nomenclaturas e organização dos arquivos dentro do Figma e Miro.

3- Contexto de projeto

Essa etapa pode variar de acordo com o momento do projeto. Na Objective temos projetos com características bem diferentes contemplando nossos próprios produtos e a prestação de serviços.

Para os nossos próprios produtos ou projetos que já estão em andamento, o UX Designer passa pela contextualização junto ao Líder Técnico, que geralmente aproveita o momento para contextualizar desenvolvedores e outros papéis. Após essa etapa são disponibilizados documentos e vídeos de treinamentos, assim como o Líder de UX é o responsável por acompanhar e transmitir tudo o que já foi feito bem como facilitar a aproximação dos membros da squad.

Quando o projeto é iniciado ao mesmo tempo que o UX Designer entra, ele tem a oportunidade de participar da imersão e auxiliar na construção da documentação que servirá para os novos membros que entrarão no futuro.

4- Processo de UX

Gosto de fazer esse etapa de forma gradativa, no primeiro dia a pessoa recebe um overview, logo ela começa a experimentar e a partir final da primeira semana ou início da segunda, começamos a aprofundar e detalhar cada item. Assim é mais fácil assimilar e fixar as informações.

São realizadas sessões de uma hora para abordar assuntos diferentes e alguns deles são materiais de leitura ou vídeos que contemplam:

  • Detalhamento do processo e entregáveis;
  • Como utilizar o Kanban board de UX;
  • Treinamento sobre metodologias ágeis;
  • Disponibilização de portfólio do time, com o processo completo dos principais projetos que já atuamos para que o novo membro veja na prática como o processo é organizado e como os entregáveis estruturados;
  • Acesso as ações de UX que estão sendo realizadas para disseminar cultura e melhorar o processo para que novo membro tenha visão de tudo o que está em andamento e para que em uma próxima retrospectiva possa colaborar com suas percepções.

Acompanhamento do progresso

[atualizado em agosto 2021]

O onboarding todo leva em média quarenta e cindo dias para ser concluído. O que sempre digo para as pessoas é não ter pressa, ver com calma todos os materiais, anotar suas dúvidas, procurar os outros Designers e "me encher o saco" sem medo de atrapalhar.

Para que o novo Designer tenha visão de todo o conteúdo contemplado no onboarding e ter visão do seu progresso, crio um board individual no Miro.

Nele estão todos os links de acesso para os itens que correspondem exclusivamente sobre aspectos organizacionais do time e processo de Design com datas limite para a contextualização.

#PraCegoVer: print dos boards organizados no Miro. São três boards, um de primeiros passos contendo acessos, organizações de diretórios e processo de design. Outro focado nas documentações de entregáveis para pesquisa e prototipação. Outro sobre carreira do designer. E, por fim, um espaço para comentar como foi os primeiros quarenta e cinco dias conosco.

O bacana dos board no Miro é que, além de fomentar o engajamento, os novos membros têm clareza do que precisam fazer e sentem-se mais seguros do processo e de tudo o que precisam saber.

Uma maneira simples e que promove uma certa independência desde a primeira semana de trabalho.

Guia do Designer

[incluso em setembro 2021]

Boa parte do conteúdo a ser consumido no período de onboarding é disponbilizado para leitura através do nosso Guia do Designer, ideia que retirei do livro “Liderança em Design”.

#PraCegoVer: print da tela inicial do nosso guia do designer criado na plataforma Zeroheight.

O legal é que esse guia além de eliminar diversos documentos e apresentações que ficavam espalhadas no nosso repositório, virou uma wiki para consulta diária. Nele estão conteúdos como:

1- Introdução

É basicamente um conteúdo de boas-vindas com alinhamentos gerais. Nele o novo Designer consegue conferir nossa missão e valores, tipos de projetos que costumamos atuar, estrutura do time e o que chamamos de "UX Pitch", texto que tem o objetivo de clarificar para toda a Objective a importância de nossa atuação e que seu conteúdo também é utilizado em processos de vendas para explicar aos potenciais clientes o que fazemos.

2- Carreira

É um conteúdo de alinhamento de expetativas onde deixamos claro como funciona a carreira do Designer dentro da Objective, desde a criação do plano de desenvolvimento até a matriz de evolução profissional e como funcionam as promoções.

3- Ferramentas

Overview dos softwares que utilizamos no dia a dia, para que servem e como são organizados.

4- Metodologia

Esse é um conteúdo que os membros do time costumam consultar sempre que as dúvidas aparecem. Nele estão detalhados como é a nossa metodologia de trabalho que é estruturada com conceitos de metodologias ágeis contendo instruções de como utilizar nosso quadro Kanban, preenchimento de DoR e DoD, criação de tarefas e outros aspectos.

5- Entregáveis

Outro conteúdo que os membros do time costumam consultar sempre as dúvidas aparecem. Nele estão dicas e orientações para utilizar nossos templates de entregas para discovery, prototipação, handoff e outros.

6- Gestão

Conteúdo destinado a liderança da área com nossas definições de processo seletivo e outros aspectos de gestão.

E é isso! Espero que esse conteúdo te inspire na criação de um onboarding "legalzão" para sua equipe.

Se gostou, não esqueça de deixar o seu 👏🏻👏🏻👏🏻

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Juliana do Vale
Obj Experience Chapter

Me chame de Ju. Sou Design Manager no iFood, lidero equipes de design a quase 10 anos e aqui você vai encontrar dicas sobre carreira e liderança em design.