A psicanálise de Freud

O inicio da psicanálise e o método freudiano

Allan Limeira
Objeto a
4 min readJul 4, 2024

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Otto Rank, Sigmund Freud, Karl Abraham, Max Eitingon, Sándor Ferenczi, Ernest Jones e Hanns Sachs.

Apesar dos grandes avanços da psicanálise ao longo dos mais de cem anos de sua existência, o trabalho de Freud continua de extrema importância, sendo essencial para a formação de todos os psicanalistas independente da preferencia por qualquer linha teórica.

Podemos dizer que a história da psicanálise inicia-se em 1895 com a publicação conjunta de Freud e Breuer dos “Estudos sobre a histeria”, texto em que é relatado o processo catártico que ocorria na terapia criada por J. Breuer para tratar os sintomas histéricos, marcados pela ocorrência da conversão de conflitos psíquicos reprimidos em sintomas físicos.

O procedimento utilizava a hipnose na busca pelo desaparecimento dos sintomas, regredindo o paciente até o momento no qual o sintoma havia aparecido, resultando em pensamentos, lembranças e impulsos até então desconhecidos pela consciência do indivíduo. Quando o paciente ainda em estado hipnótico comunicava ao médico essas lembranças, o sintoma era superado. Normalmente não havia um único trauma ligado ao sintoma, mas sim uma série deles.

Diferentemente dos outros métodos de hipnose, o catártico não utilizava a sugestão do médico para o desaparecimento dos sintomas, era esperado que eles desaparecessem sem a interferência direta. Freud via um problema no método catártico, além de não resolver os sintomas de forma definitiva, nem todas as pessoas podiam ser hipnotizadas. Após algumas tentativas na mudança da técnica, Freud acabou por abandona-la e passou a desenvolver um novo método com efeitos terapêuticos, mantendo a abdicação da sugestão, mas abandonando totalmente a hipnose, criando, então, a psicanálise.

O método de Freud assim como o catártico foi a princípio desenvolvido para o tratamento da neurose histérica. Nessa nova prática, o paciente deitava-se no divã de forma confortável e, sem o contato visual direto com o psicanalista, falava livremente. Apesar dos grandes avanços na teoria psicanalítica, o falar livremente, conhecido como associação livre e a abdicação da sugestão permanecem até os dias de hoje.

Para substituir a parte técnica que utilizava da hipnose para trazer os conteúdos do inconsciente, Freud buscou nas ocorrências involuntárias, como nos atos falhos, chistes e também nos sonhos essas manifestações, como, por exemplo, num lapso verbal (versprechen), em que se troca uma palavra por outra. Para que isso ocorra em análise é imprescindível que o analisando fale livremente tudo aquilo que se passa em sua mente, sem impedimentos, mesmo que pareça não fazer sentido ou traga constrangimento.

Durante a associação livre de ideias, esquecimentos, “espaços em branco” surgirão e, conforme esses espaços vão sendo completados, surge o mal estar causado pelas memórias. Esses esquecimentos são causados pelo que Freud chamou de recalque, grande responsável pelos sintomas patológicos das neuroses, causadas pelo bloqueio das tentativas de retorno da memória perdida, do episódio esquecido.

O método de Breuer se distanciava da psicanálise na medida em que se desviava das resistências utilizando a hipnose, mas não as eliminava. Por conta disso, havia extrema dificuldade em encontrar a origem profunda dos sintomas que acabavam por retornar de diferentes formas. A psicanálise trabalha com essas resistências obtendo, assim, informações mais completas e gerando um bem-estar de forma prolongada. Segundo Freud, a essência do que o método psicanalítico busca é suspender essas amnésias. Revertendo os recalques, os “espaços em branco” são preenchidos.

Em “O método psicanalítico Freudiano” (1904), Freud afirma que

“A tarefa que o método psicanalítico quer resolver pode ser expressa em várias fórmulas, mas que em essência se equivalem, todas. Pode-se dizer: a tarefa do tratamento é suspender as amnésias. Se todas as lacunas da memória forem preenchidas e todos os efeitos misteriosos da vida psíquica forem esclarecidos, impossibilita-se a continuidade e até mesmo uma nova formação do sofrimento. (…) Em outra formulação, ainda vamos além: tratar-se-ia de tornar o inconsciente acessível ao consciente, o que ocorre através da superação das resistências.”

Ainda segundo Freud, um estado no qual todas as resistências foram superadas e todos os recalques revertidos não existe em um ser humano normal e raramente seria possível se aproximar ao menos um pouco disso, mas, mesmo em casos de um tratamento no qual não se tenha atingido o fim de todos os sintomas, estes poderiam ter menos peso e menor influência sobre a vida do paciente.

Bibliografia:

FREUD, S. (1904) O método psicanalítico de Freud. In: Obras incompletas de Sigmund Freud: Fundamentos da clínica. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica.

FREUD, S. (1910) Cinco lições de psicanálise. Edição Standard Brasileira, v. XI, Rio de Janeiro: Imago.

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