64 — Elogio Contido
A pequenez humana pede passagem
Recentemente vi uma postagem na internet que me deixou em pura reflexão. A frase dizia algo mais ou menos assim:
“Um elogio contido demonstra um alto grau de pequenez”
Outra frase, antagonizando com a anterior, sepulta o que há de melhor na natureza humana. Diz ela:
“There are no two words in the English language more harmful than ‘good job’.” — Whiplash (2014)
Com base nessas duas premissas vou defender a primeira em detrimento da segunda. Um elogio contido é sim um sinal de pequenez humana.
Primeiramente nos deparamos constantemente com manifestações de contenção de elogios, desde a escola até os últimos dias da vida. “Muito bem minha filha!, “Parabéns garoto!”, pais se limitam a elogiar contidamente alguns feitos do seu filho, pequeno ser humano perdido nas escolhas da vida.
Alguns dizem que é porque a sociedade não irá elogiá-los de maneira retumbante e que não faz sentido iludí-los com elogios rasgados pois no futuro todo o elogio será contido. Não sei se deu pra perceber mas um pai que não confia na sua prole não veio a este mundo para procriar e sim para definhar.
Que mal há em demonstrar todo o seu amor e compreensão por um ser em formação que está lutando para enfrentar um desafio maior do que ele? Pais que não reforçam a confiança dos seus filhos não reforça sua esperança em um futuro melhor nem em um mundo melhor.
Em geral quem não elogia com toda força seus filhos terá uma velhice muito mais dura do que caso o fizesse.
Na escola o problema se repete. Professores inseguros de suas capacidades intelectuais também tentam conter os elogios a menos que a criança tire uma série de dez na matéria ensinada.
Quando este elogio extrapolado ocorre se dá em meio a auto-promoção do professorado ou a tentativa de isolar a criança em um pedestal para ser apedrejado por suas virtudes. Não há nada mais danoso do que ser punido por suas virtudes, já dizia Ayn Rand em uma entrevista célebre — “A era da inveja”
Este problema é tão danoso que se consolida na vida adulta, donde um dominante impõe seu pensamento filosófico a uma camada social totalmente domesticada e brochada. Este mecanismo gera menos elogios rasgados e mais elogios contidos causando o colapso das corporações, da política e da sociedade como um todo.
Quantas vezes vemos políticos rasgando elogios a outros políticos que não sejam em benefício próprio? Quase nunca. Os políticos e a sociedade refletem aquilo que começou em casa, na família e no final das contas é na família que é refletida toda essa cadeia de elogios contidos.
Tanto o elogio contido quanto a crítica contida é um sinal civilizatório de acovardamento humano, de quem não tem a menor coragem de se desfraldar em compreensão pelo próximo, pondo-o em um patamar maior do que o seu. Sinal de pequenez e mediocridade que se espalha gerações após gerações.
Ah, em tempo. O filme Whiplash é espetacular mas as práticas do professor Fletcher são pura tolice e medo.