102 — PAI
O MAIOR HOMEM QUE JÁ CONHECI
Como é difícil falar sobre ti pai. Cada letra, cada palavra me dói nos dedos. Tenho tanto pra te falar, tenho tanto a te agradecer que um livro seria pouco para te mostrar um pouco do que aprendi com ti.
Cada dígito que sai daqui é uma pancada em meu coração. Vazio, esta é a palavra que a tua morte deixou em mim. Estranho é como pode ser, pois, um homem que me ensinou praticamente tudo que tomo como valor absoluto pode deixar um vazio tão grande.
Sei que a vida não foi fácil para ti e por isso mesmo evitasse a mim com toda tua força. Nunca saberei a luta pela qual passaste. Nunca lhe vi um dia triste, um dia frustrado, a tua alegria elevou a minha alma em um porto seguro para onde podia ir sempre e sempre.
Em uma curva da vida você nos deixou. Parece um acidente de carro onde a gente fica atordoado.
Eu nunca vi uma prova de amor tão grande. Movestes o mundo para que não o visse em teu leito de morte, para que não o vistes morto e enterrado. Deus, em sua infinita glória evitou com que pudesse tocar-lhe moribundo pois não é essa a tua glória. Nunca o vi morto, nunca o vi num caixão.
Pra falar a verdade, o vi sorrindo por dentro de seu caixão, lindo e garboso que tu mesmo escolhestes. Tua afeição pela beleza me fez despertar o bom gosto pelo belo, pela elegância, por se apresentar bem, pelo verdadeiro e pelo bom. Somos farinha do mesmo saco.
Pai. Prometo que toda a tua glória será exaltada, toda tua luta será revigorada, justiça, liberdade e alegria.
Estou aqui para lhe agradecer por tudo, pelas lições de sempre lutar para defender nossas conquistas com a classe e a coragem dos Rocha.
E por falar em Rocha, meu orgulho maior é levar o teu sobrenome por todo o mundo e para o coração de Deus. A cada gesto, a cada movimento estarei aqui pra honrar teu nome e teu legado. Pode deixar com o Quias aqui.
Perdi um pai, perdi um amigo de 43 anos. Obrigado por confiar em mim, pelo meu primeiro Atari, pelo meu primeiro Master System, pelo meu primeiro computador, pela minha primeira calça, pelo meu primeiro emprego, por todas as suas roupas que eu me esforçava em caber.
Obrigado por ter me levado pra passear e por comer o galeto “que-qui-cote” nos sábados mais lindos do mundo. Obrigado por ter me levado pra namorar, para o cinema, para a faculdade, para o emprego, para gramado, para os prédios mais altos do mundo. Você é grande muito grande.
Obrigado por todos os conselhos, por todas as frases de incentivo e por ter se casado com a mulher mais bela do mundo.
Obrigado pai por ler todas as minhas mensagens. Nenhuma ficou sem tua leitura. Parabéns bravo pai.
Espero ter te orgulhado nesses 43 anos de parceria. Espero que tu possas ainda acompanhar meus próximos passos e ver até onde tua lição chegou. Escrevo em lágrimas mas é de saudade e felicidade por ter dito o que queria nos meus últimos meses junto a ti. Que belo trabalho em Naldo teu Quias vai botar pra quebrar agora.
A vida tem que ser vivida, em 5 dias 43 anos desaparecem para sempre e nenhuma nova lição poderá ser proferida. Sei que deste o teu melhor em toda sua alegria. A vida não estava boa para ti, eu sei. Sei como é duro não poder expandir toda essa potência intelectual e amorosa em um corpo cansado e debilitado pela diabetes. Sei que sonhastes em não morrer com um pé amputado, com Alzheimer ou vegetativo. Parabéns. Morte mais do que digna de um homem digno.
Só uma pandemia podia te derrubar, só 120 dias sem poder exacerbar tua potência e mais de 30 anos de diabetes conseguiram derrubar o leão, mas a lição nunca será derrubada. Teu legado é para sempre e tua vida não foi em vão. Parabéns pai você é o cara.
O lockdown acabou (ou o trancamento dos honestos) mas não atingiu o seu objetivo. Não salvou você e todos os pais que estavam em seus últimos dias de vida. Abreviaram os suicídios e a desesperança. Com o vírus se vive mas sem esperança jamais.
Que todos entendam que o mal existe e deve ser combatido com o bem. Não há nada mais glorioso do que ver o mal ser derrotado, não com suas armas mas com as armas do amor de Cristo.
Obrigado pai, por ter escolhido morrer no mesmo hospital em que eu nasci. A mensagem foi bem dada.
O amor sempre vence. Pai, você venceu. O amor venceu.
Em memória de Ednaldo Bezerra da Rocha
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