A ascensão das fake news e do fact checking

Patrick Souza
Observatório de Mídia
3 min readDec 6, 2017

Em tempos de pós-verdade, é difícil saber no que podemos confiar ou não. Com a rápida disseminação de boatos que ocorre graças às redes sociais, estes se misturam com a realidade, sendo cada vez mais fácil manipular os desavisados. Nem mesmo os jornalistas estão livres deste fenômeno, pois não estão isentos de erros.

O maior deles, e que é um dos fatores principais na ascensão das fake news, é a falta de apuração. Aquele áudio no grupo do Whatsapp acaba se passando por um fato verídico, e se tornando uma notícia desnecessariamente.

Parte da culpa pode ser aderida às necessidades da indústria e do público. Com a efemeridade da informação sendo uma das principais características do nosso tempo, é preciso se manter atualizado a cada segundo. Isso causa uma disputa, uma perseguição por pautas quentes. Ao se deparar com um boato de um escândalo de corrupção, por exemplo, um jornalista pode se informar apenas minimamente sobre o assunto para então torná-lo notícia, ou no mínimo propagá-lo.

Isso é o que torna o fenômeno das fake news algo tão poderoso, capaz até mesmo de controlar resultados importantíssimos, como vimos em 2016, com o resultado da eleição dos EUA, marcada pela disseminação de notícias falsas. Em um de seus primeiros discursos após ser eleito, o presidente Donald Trump disse a marcante frase “You are fake news” a um repórter da CNN, que se tornou um dos símbolos da disseminação de falsas informações.

É aí que entra a necessidade de uma prática que ganha cada vez mais forças: O fact checking.

Antes mais voltado a nichos como checar discursos e propostas de políticos, hoje o fact checking se expande mais, passando a observar assuntos mais comuns no dia a dia noticioso. É algo no mínimo curioso, visto que confirmar a veracidade de uma informação sempre foi uma das bases do jornalismo.

Mas não é necessariamente um sinal de que o jornalismo está pior. Pelo contrário, é uma prova da preocupação das pessoas em levar a informação corretamente apurada ao público, e veículos como a Agência Lupa, o Truco (da Agência Pública) e o regional Bauru Check se dedicam puramente a fazer esse trabalho.

Para isso, os veículos buscam notícias que viralizaram ou que não passem uma plena confiança, por falta de dados, fontes, ou números que pareçam suspeitos. Utilizando bancos de dados públicos, a Lei de Acesso à Informação e às vezes contato direto com as fontes da matéria checada, eles confirmam ou desmentem tais informações, utilizando cada um deles seus próprios “selos”.

Selos utilizados pelo “Truco” (Créditos: Reprodução/Pública)

O fact checking busca resgatar o aspecto mais primário do jornalismo, ao trazer a “verdade” (ou melhor, os fatos que são comprovados) para os leitores, o que também ajuda a explicar seu recente crescimento, já que o mito do jornalista como detentor da mesma cai cada vez mais por terra.

E consciente disto, há também uma alteração nos modos de consumo noticioso por parte do público. Uma pesquisa realizada pela Folha mostra que o público está mais preocupado com a veracidade das informações, e já não confia plenamente em um veículo.

Esses fenômenos estão modificando nossa sociedade, e não podem ser ignorados. É esperada uma situação parecida com a das eleições norte-americanas no próximo ano, visto que já é possível encontrar uma abundância de notícias falsas sobre os possíveis candidatos. Cabe aos jornalistas conquistar sua credibilidade de volta, realizando uma apuração mais precisa daqui para frente, facilitando assim o trabalho dos checkers e evitando que boatos pequenos controlem, sozinhos, a escolha de um país inteiro.

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