A crise do jornalismo, as inovações digitais e o fim da revista Caros Amigos

Gabriela Arruda
Observatório de Mídia
3 min readJan 2, 2018

Após 20 anos de sucesso editorial, a revista Caros Amigos anunciou o fim de sua edição impressa e a migração definitiva para o digital. O desfecho da “primeira à esquerda” acontece em um contexto de mudanças políticas, econômicas e sociais que atingem o jornalismo.

A Caros Amigos, conhecida pelas famosas edições temáticas e pelas longas entrevistas, se junta, agora, ao rol de periódicos tradicionais que existem apenas em edições online. Capricho, Carta Maior, Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil são exemplos de veículos que também não resistiram às profundas mudanças que afetaram o mercado da informação.

No editorial de despedida, a Caros Amigos destaca o avanço das mídias digitais e a ascensão das fake news como catalisadores do fim: “Circula esta, sua última edição, diante de um mercado editorial em profunda transformação, com queda nas vendas em todos os nichos, e o avanço das mídias digitais, dominadas por grandes corporações e assoladas por fake news e ações de rapina ideológica.” (para ler o editorial completo, clique aqui)

Edição nº 248/2017, a última da versão impressa

As mudanças são irreversíveis. Em 2005, por exemplo, apenas 9,39% dos brasileiros tinham acesso à internet e mais de 67% nunca tinham navegado na web. Uma década depois, o cenário é absolutamente oposto. De acordo com a pesquisa TIC Domicílios, atualmente 68% da população brasileira acessa a internet. Deste total, 86% utiliza a rede diariamente, da seguinte forma: 89% enviam mensagens, 78% acessam as redes sociais, 63% ouvem música, 68% assistem programas, filmes ou séries, e 50% utilizam a internet para ler notícias.

É nesse contexto, em que metade da população consume notícias online, e no qual parece absurdo pagar por uma informação quando é possível consegui-la de graça na internet — ainda que a qualidade seja, por vezes, questionável é que se inserem as demissões em massa de jornalistas e as redações cada vez mais enxutas.

É evidente, portanto, que o jornalismo digital ganha cada vez mais força. E é a grande aposta dos conglomerados de mídia. A Folha de SP, por exemplo, que já restringe o acesso às notícias da versão online, está intensificando cada vez mais o controle às suas publicações. O jornal ganhou na Justiça o direito de retirar suas reportagens do clipping diário da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), agência de notícias do governo federal. Antes, porém, a Folha tentou cobrar direitos da EBC pela reprodução das informações, sem sucesso.

Outro grande veículo que está investindo no jornalismo digital é O Estado de SP. O jornal utiliza o stories do Instagram, no qual as publicações ficam disponíveis por 24 horas e depois somem, para anunciar os principais acontecimentos do dia, em tom leve e divertido, com links que direcionam o internauta ao site do jornal. De acordo com o próprio Estadão, o drops tem cerca de 100 mil visualizações por dia.

É nas mídias sociais que o jornalismo tenta superar a crise de seu modelo de negócio. Com a meteórica ascensão das fake news, compartilhadas em profusão nas mais diversas redes sociais — WhatsApp, Facebook, Twitter — o leitor sente necessidade de consumir informações apuradas, de veículos consagrados, de renome e com credibilidade.

Apesar da crise, do futuro indefinido e das inevitáveis mudanças e adaptações aos novos tempos, uma coisa é certa: o jornalismo continua tendo — e terá, sempre — papel fundamental na manutenção de uma sociedade democrática.

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Gabriela Arruda
Observatório de Mídia

jornalista. apaixonada por literatura e fascinada por Gabriel García Márquez 💓