A cultura da violência se enraíza no jornalismo brasileiro

O medo que as telas de televisão criam na sociedade atual não reflete a realidade

Poucos programas voltados para notícias na televisão aberta brasileira são tão extensos como os voltados para casos policiais. Esse produto jornalístico tem muita força dentre o público em geral, abrangendo todo o tipo de pessoa em todo o território nacional.

É pertinente perceber que, dentre os jornais policiais existentes, os mais relevantes são: “Brasil Urgente”, da TV Bandeirantes, apresentado por Datena, e o “Cidade Alerta”, da TV Record, antes apresentado por Marcelo Rezende.

Comparados a um dos jornais de notícias gerais mais assistidos no Brasil, o “Jornal Nacional”, da TV Globo, os noticiários policiais possuem quase ou mais do que o dobro de tempo de exibição. O produto do horários nobre da Globo possui por volta de 45 minutos de exibição, já o “Cidade “Alerta” tem cerca de 85 minutos, e o “Brasil Urgente” chega a até 185 minutos de exibição na capital de São Paulo.

Isso pode refletir uma cultura da violência que se instaura a cada dia com mais força dentro da sociedade brasileira e dentro do próprio jornalismo.

Dentro do trabalho jornalístico existem os chamados valores-notícias, que ditam e pautam os assuntos que possuem ou não maior relevância e necessidade de serem passados os público.

Atualmente, portanto, vemos que um dos assuntos que ganha o podium dos valores-notícia é a violência. Cada vez mais a mídia explora e coloca nos holofotes ações policiais, assaltos, sequestros e homicídios, um verdadeiro espetáculo que cria uma realidade muito diferente do que se passa no dia a dia.

O papel do jornalista, segundo o Código de Ética, é ter o dever de noticiar os fatos, contudo, em uma bolha de jornalismo policial, em que mais de 3 horas de programa são exclusivos para a violência, cria-se a falsa ideia de que tudo está perdido ou que não se deve sair na rua pois pode-se ser assaltado a cada esquina.

A cultura do medo e da violência está sendo cada vez mais enraizada dentro das pessoas, e as empresas de jornalismo lucram criando uma falsa visão da realidade.

Não devemos ser hipócritas e acreditar que vivemos em um paraíso de segurança ou sermos radicais ao ponto de acabar com todo e qualquer tipo de jornalismo policial, contudo, uma breve reflexão sobre o que o essa cultura de violência está fazendo com a pessoas é necessário para começar a se repensar sobre a atuação do jornalismo nesse campo.

Ao sair na rua, é comum encontrar pessoas que segurem as bolsas com mais força em certa região da cidade. E não precisamos ir tão longe para ver como a cultura da violência está agindo, é só procurar por pessoas que nunca moraram em São Paulo e que ao se depararem com a cidade, possuem medo de sair de casa devido às notícias que são constantemente veiculadas em noticiários.

Distorções e crenças que eu vejo dentro da minha própria família e que me levam a pensar que o jornalismo não consegue, ou não quer, ver como algo pode ter uma consequência tão negativa dentro da sociedade em que atua.

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