A exploração da morte na mídia e o caso Logan Paul

Lucas Lombardi
Observatório de Mídia
3 min readJan 8, 2018

E porque temos de tomar cuidado ao utilizar imagens que possuem cenas de morte

Youtuber Logan Paul publica vídeo com imagens de corpo encontrado em floresta.

Lidar com a morte, sempre é um assunto delicado, e no jornalismo não é diferente. Na área criminal, por exemplo, podemos acabar lidando com imagens gráficas com frequência. Apesar de não existirem exatamente regras que devem ser cumpridas a todo custo, o Código de Ética nós permite seguir certas diretrizes, mas ainda assim existe um buraco que pode ser aproveitado em algumas situações.

Mortes de celebridades, por exemplo, ocorrem todo o ano. Por mais mórbido que às vezes possa parecer, não é incomum a busca do público por fotos, principalmente em casos mais extremos ou de celebridades queridas, como o acidente de avião que ocorreu com a banda Mamonas Assassinas em 1996, ou o suicídio de Kurt Cobain, em 1994. Seria o uso dessas fotos justificado?

Na época, o jornal Seattle Times optou por publicar uma foto de parte do corpo de Kurt Cobain.

Em casos do cotidiano, como um atropelamento, não. Não há interesse algum por parte da população, e seria certamente desrespeitoso a família da vítima colocar a foto do corpo no jornal. Em casos de celebridades, porém, pode-se justificar com o argumento de que é algo procurado pelo público.

Celebridades claramente são tratadas de modo diferente na mídia, que divulga sem qualquer limite fotos pessoais de celebridades, desde simples fotos públicas, até mesmo fotos íntimas, e no caso de morte, do corpo das celebridades em questão, tudo na justificativa do interesse público.

Há demanda para fotos como essas? Certamente. Mas é mesmo necessário para abordar o fato noticioso? É ético? Eu pessoalmente diria que não. Imagens fortes mais atrapalham do que são necessárias. Chocam o leitor, desviando do fato noticioso para a cena grotesca, e podem ser consideradas desrespeitosas, tanto para a pessoa que faleceu, quanto para sua família.

É importante lembrar desse assunto porque cada vez mais vemos imagens de morte sendo exploradas na mídia, como aconteceu com vídeos de execução do Estado Islâmico, com o suicídio do general bósnio-croata Slobodan Praljak, e com o corpo encontrado em uma praia do menino sírio, Alan Kurdi, o que chama a atenção por ser o corpo de uma criança.

Mesmo na atual semana, ocorreu um caso de exploração de péssimo caráter, na minha opinião. O youtuber norte-americano Logan Paul, que possui mais de 15 milhões de inscritos, publicou um vídeo onde encontra um corpo pendurado em uma ávore na floresta de Aokigahara, no Japão. O youtuber acabou deletando o vídeo e pediu desculpas pela atitude, mas esse é um exemplo que mostra o quanto a morte pode ser explorada de forma tão banal.

O dever dos jornalistas é sempre buscar ser ético na medida do possível, mesmo ao tratar de cenas de mortes, envolvendo celebridades ou não. O fato noticioso deve sempre estar acima de qualquer valor de choque que pode causar ao leitor, o que nem sempre acontece, principalmente na internet.

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Lucas Lombardi
Observatório de Mídia

Estudante de Jornalismo da Unesp. Entusiasta de coisas demais e apreciador de café.