A exploração da morte na mídia e o caso Logan Paul
E porque temos de tomar cuidado ao utilizar imagens que possuem cenas de morte
Lidar com a morte, sempre é um assunto delicado, e no jornalismo não é diferente. Na área criminal, por exemplo, podemos acabar lidando com imagens gráficas com frequência. Apesar de não existirem exatamente regras que devem ser cumpridas a todo custo, o Código de Ética nós permite seguir certas diretrizes, mas ainda assim existe um buraco que pode ser aproveitado em algumas situações.
Mortes de celebridades, por exemplo, ocorrem todo o ano. Por mais mórbido que às vezes possa parecer, não é incomum a busca do público por fotos, principalmente em casos mais extremos ou de celebridades queridas, como o acidente de avião que ocorreu com a banda Mamonas Assassinas em 1996, ou o suicídio de Kurt Cobain, em 1994. Seria o uso dessas fotos justificado?
Em casos do cotidiano, como um atropelamento, não. Não há interesse algum por parte da população, e seria certamente desrespeitoso a família da vítima colocar a foto do corpo no jornal. Em casos de celebridades, porém, pode-se justificar com o argumento de que é algo procurado pelo público.
Celebridades claramente são tratadas de modo diferente na mídia, que divulga sem qualquer limite fotos pessoais de celebridades, desde simples fotos públicas, até mesmo fotos íntimas, e no caso de morte, do corpo das celebridades em questão, tudo na justificativa do interesse público.
Há demanda para fotos como essas? Certamente. Mas é mesmo necessário para abordar o fato noticioso? É ético? Eu pessoalmente diria que não. Imagens fortes mais atrapalham do que são necessárias. Chocam o leitor, desviando do fato noticioso para a cena grotesca, e podem ser consideradas desrespeitosas, tanto para a pessoa que faleceu, quanto para sua família.
É importante lembrar desse assunto porque cada vez mais vemos imagens de morte sendo exploradas na mídia, como aconteceu com vídeos de execução do Estado Islâmico, com o suicídio do general bósnio-croata Slobodan Praljak, e com o corpo encontrado em uma praia do menino sírio, Alan Kurdi, o que chama a atenção por ser o corpo de uma criança.
Mesmo na atual semana, ocorreu um caso de exploração de péssimo caráter, na minha opinião. O youtuber norte-americano Logan Paul, que possui mais de 15 milhões de inscritos, publicou um vídeo onde encontra um corpo pendurado em uma ávore na floresta de Aokigahara, no Japão. O youtuber acabou deletando o vídeo e pediu desculpas pela atitude, mas esse é um exemplo que mostra o quanto a morte pode ser explorada de forma tão banal.
O dever dos jornalistas é sempre buscar ser ético na medida do possível, mesmo ao tratar de cenas de mortes, envolvendo celebridades ou não. O fato noticioso deve sempre estar acima de qualquer valor de choque que pode causar ao leitor, o que nem sempre acontece, principalmente na internet.