A favela que não passa na novela

Aline Campanhã
Observatório de Mídia
2 min readJan 4, 2018

A falta de representatividade envolve a Rede Globo. Em 2015, ela sequenciou três novelas cujo enredo era baseado nas favelas. A primeira foi Babilônia, seguida por I Love Paraisópolis e A Regra do Jogo. Além das três focarem em histórias que se passavam na favela, a glamourização da comunidade também é fato comum.

Segundo especialistas, a Globo não sabe fazer novela com favela. A realidade nua e crua, não é mostrada. A novela A Força do Querer de 2017, chega mais próximo da verdade do que as outras, cativou o público com esse seu modo realista e teve altas audiências apesar da violência que era mostrada.

Colocar a favela no meio midiático não é falar sobre ele de qualquer maneira. Os personagens precisam ser construídos de uma forma que passem a verdade para o telespectador. Precisam extrapolar a ficção, para assim haver representatividade. Em Babilônia a falta dessa representatividade fez com que a novela não chamasse a atenção. A novela tinha nome do morro e na trama, o que se viu dele? Muito pouco. Figurino, cenário, trilha sonora, conta, mas se os atores não comprarem a história, de nada adianta.

I Love Paraisópolis foi uma novela de muito sucesso, mas não pelo retrato da comunidade paulista e sim pela trama. A idealização de Paraisópolis foi enorme. A violência passou longe das telas e a realidade foi desfocada pelo enredo romântico do trio principal.

Se cada ator, antes das gravações da novela, tivessem a experiência de passar uns dias na favela e vivenciassem seu papel em pele e osso, com certeza mais veracidade seria dada.

Em A Força do Querer foi possível ver um avanço dessa representação. Talvez, essa realidade se deu por ser uma história verídica, onde o roteiro já veio escrito, ele só precisou ser adaptado, ou seja, de fato ele existiu o que facilitou o “q” de realidade.

Uma coisa é certa, a realidade tem que vir à tona e a Globo tem que minimizar essa fantasia que é mostrada. Por ser um canal influente, o modo como ela passa o “entretenimento” influencia na visão que as pessoas terão da realidade. Do jeito que anda, a visão utópica toma força.

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