A fonte como ferramenta de legitimação da informação nas redes sociais

O poder de difusão de notícias nestes sites traz à tona uma questão: quem disse o que?

Vinícius Gálico
Observatório de Mídia
3 min readJan 8, 2018

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Os números de uma pesquisa promovida pela Quartz, agência americana de notícias sobre economia global, apontam que o Brasil é o país onde as pessoas mais consomem notícias através das redes sociais, como Facebook e Twitter. Cerca de 67% dos usuários de internet do país utilizam estes sites como fonte primária para obter informações de seu interesse, superando assim o número de pessoas que acessam diretamente portais de notícia e sites jornalísticos segmentados.

Esta forma de adquirir conhecimento é algo ainda novo na história do jornalismo e da comunicação, e deve ser analisada com cautela. Isso porque, entre quem consome uma notícia e a notícia propriamente dita, existem uma série de fatores que restringem o leque de informações as quais ela recebe e acessa, quando uma rede social é o seu local prioritário para obtê-las.

Os algoritmos presentes nestes sites possuem diversas utilidades que tornam a vida de seus usuários mais prática e dinâmica. Todavia, existem colaterais, especialmente no caso em que estamos abordando. Ao agir como um filtro de interesses, esses algoritmos acabam por criar “bolhas” dentro dessas redes e, consequentemente, restringir a diversidade de pontos de vista e a pluralidade de opiniões — essenciais à formação de um pensamento crítico e resiliente.

Mas não só isso. Como cerne deste texto está a questão da legitimidade da informação jornalística (muitas vezes, apenas dita como tal) que circulam nas redes sociais. Se em outros tempos era vital à uma notícia que a acompanhasse o nome de algum jornalista ou, ao menos, de algum veículo de comunicação a fim de legitimá-la, hoje em dia as coisas são muito mais líquidas, por assim dizer.

Entram em cena os portais de notícia desconhecidos, as páginas de conteúdo informativo que não citam fontes sobre os assuntos que abordam e os famigerados “memes noticiosos”, que em poucas linhas ou imagens propõe esclarecer assuntos extensos e dignos de centenas de páginas — e sem apresentar sequer uma fonte ou alguma referência bibliográfica.

Outra forma de se obter informação nas redes sociais, e aí entra em cena também os aplicativos mensageiros como WhatsApp e Messenger, são as correntes de notícia. Em pouco tempo, elas se transformam em telefones sem-fio, capazes de difundir imprecisões e inverdades perigosas. Um caso recente, para citar a cidade de Bauru, foi o da corrente que dizia que o prazo para a biometria do título eleitoral estava se encerrando e que as pessoas que não a realizassem iriam pagar uma multa de R$150,00. O resultado? O Cartório eleitoral da cidade lotado de pessoas eufóricas, por vezes, coléricas, buscando realizar a biometria dentro do prazo.

Mas tudo não passava de mentiras. Sem preocupação em descobrir a fonte responsável pela informação, as pessoas “compraram” a fake news e rapidamente difundiram-na por toda uma cidade através das redes sociais. Ironicamente, não era difícil encontrar em prédios públicos ou ônibus circulares cartazes contendo as verdadeiras informações acerca da biometria do título eleitoral na cidade — que sequer havia iniciado seu prazo obrigatório.

O descaso com a fonte e a apuração jornalística presente nas matérias consumidas nas redes sociais torna ainda mais tênue a linha que separa a opinião dos fatos. Apesar da presença dos tradicionais veículos de comunicação e de outros que se preocupam em expor fontes e referências, o consumo de informação noticiosa nas redes sociais acabou por normalizar a inexistência dos mesmos, um fator que frequentemente agrava ainda mais a difusão das fake news pela web.

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