A imprensa e o feminismo

mussato
Observatório de Mídia
3 min readDec 19, 2017

Os veículos de comunicação são responsáveis pela manutenção e pela disseminação da cultura de um país. O que sua população pensa sobre determinado assunto, quais os critérios de noticiabilidade, quais os termos que serão usados para redigir uma matéria são questões que devem ser minimamente pensadas pelo jornalista antes da pauta.

No Brasil, segundo uma pesquisa da Federação Nacional dos Jornalistas, as mulheres ocupam 64% das redações, no entanto, de acordo com a mesma pesquisa, mulheres jornalistas, mais jovens, ganhavam menos que os homens. Além disso, os cargos superiores, em sua maioria, são ocupados por homens. Nessa linha de pensamento, essas mulheres ainda se submetem em realizar papéis de interesse de empresas privadas comandadas por um grupo masculino que possuem interesses financeiros, ideológicos e, claro, políticos.

O jornalismo é capaz de tornar válido discursos através de suas notícias diárias. Por isso, é visivelmente fácil perceber que a cultura do machismo está enraizada em pequenas sutilezas nos veículos noticiosos. Casos de violência contra a mulher é noticiado com frequência por empresas que deveriam assumir um discurso imparcial. Porém, assuntos problemáticos em nossa sociedade, como o estupro, a violência contra mulher e até o feminicídio são normatizados e até naturalizados.

É comum reportagens que amenizam a gravidade da cultura da violência contra as mulheres. Geralmente as vítimas são culpabilizadas pelas as ações dos agressores ou até mesmo os atos dos mesmos são reduzidos a meros “crimes passionais”, justificados pelo amor ou pelo ciúme. É raro encontrar a palavra “feminicídio” em matérias jornalísticas.

Além disso, é frequente o uso de “acusado”e “suspeito”, até mesmo quando o autor do crime foi julgado e condenado, ao invés de “agressor”, “estuprador”, “culpado”, por exemplo. Romantizar o ato também é uma maneira de naturalizar essa cultura que tem como taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres no Brasil, segundo o Mapa da Violência de 2015.

Outro quadro problematizador do discurso patriarcal na mídia é colocar a fala da mulher como algo duvidoso. São usadas palavras discretas que põem “em xeque” a acusação da mulher, como por exemplo “mulher diz que foi vítima de assédio”.

Apesar destes crimes terem mais espaços na imprensa brasileira, é necessária uma reformulação da cobertura jornalística da violência contra a mulher. Pois essa cobertura segue descontextualizada, que não trata o problema como social, cultural e político da realidade brasileira, mas sim como casos isolados justificáveis, na maioria das vezes.

--

--