A linha tênue entre o jornalismo e o entretenimento

mussato
Observatório de Mídia
3 min readNov 16, 2017

A informação é uma junção de elementos ou dados que são organizadas de tal forma que repassam algo sobre um fato ou um fenômeno acontecido. O código de ética do jornalista no Brasil, tem como base fundamental, garantir ao cidadão acesso à informação. Portanto, a informação é matéria-prima primordial do jornalista.

É possível reparar que nas últimas décadas houveram transformações em todos os campos da nossa sociedade: na política, na economia, na cultura e até no modo como interagimos socialmente. E, claro, a maneira que consumimos informações também sofreu mudanças significativas.

Desde o surgimento da televisão, a comunicação passou por diversas alterações. Isso porque esse aparelho foi e é considerado um objeto voltado ao lazer e entretenimento para o público, ao mesmo tempo que é considerado o meio midiático mais utilizado para manter as pessoas informadas. Uma pesquisa feita pela “Pesquisa Brasileira de Mídia 2016 — Hábitos de Consumo de Mídia pela População Brasileira” aponta que quase 90% dos brasileiros se informam pela televisão.

E é aí que encaramos um problema pois, segundo a pesquisadora Fabia Angélica Dejavite, é cada vez mais difícil delimitarmos uma barreira que separa a informação do entretenimento. Para Dejavite, a chegada do conceito de infotenimento — silogismo entre as palavras informação e entretenimento — mudou como é produzido jornalismo.

Mas, como sempre, o buraco é mais embaixo. O entretenimento é destinado para o lazer do público e os programas que são voltados para o entreter possuem textos mais fáceis de serem passados e interpretados. Os talk shows, novelas, reality show, programas musicais, culturais e esportivos são algumas das categorias desses programas, que buscam interagir com as emoções do público e, principalmente, alcançar audiência a todo custo.

O jornalismo, tendo em vista às mudanças de consumo de informações do público-alvo, adaptou o modo de fazer notícia e podemos notar alguns programas de caráter jornalístico com características de entretenimento. Como por exemplo o CQC, o Fantástico e o Globo Repórter.

Segundo Dejavite, o jornalismo de infotenimento “é o espaço destinado às matérias que visam informar e entreter, como, por exemplo, os assuntos sobre estilo de vida, as fofocas e as notícias de interesse humano — os quais atraem, sim, o público”. Dessa forma, o jornalismo visa o entreter como uma maneira de informar o público atendendo às necessidades de recepção deste. Consequentemente, levando a informação para uma maior quantidade de pessoas de diferentes classes sociais.

Mas há autores que enxergam no infotenimento uma distorção de valores éticos do jornalista. Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o entretenimento junto à notícia desvia atenção daquilo que realmente é informação e se torna um grande espetáculo, principalmente quando é associada à vida política.

Esses autores não vêem no entrer do público uma maneira de informar. Um exemplo disso, são os famosos memes da internet. A brincadeira, a forma de ironizar e a sátira contida através do discurso desse recurso (o meme), distanciam o público do verdadeiro papel do jornalista, que é informar com aprofundamento um tema e/ou fato.

O que não podemos negar é que o jornalismo vem sofrendo crises de identidade e precisa, urgentemente, ser reinventado. O conteúdo jornalístico quadrado não tem um “quê” a mais e não agrada o público, não chama atenção e chega, cada vez mais, a um menor número de interlocutores. O jornalismo precisa ser leve, mas ter consideração em primeiro lugar o comprometimento com a informação e com o cidadão.

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