A mídia brasileira e a cobertura de tragédias
Como já diria Danilo Agrimani em seu livro Espreme que sai sangue, “o trinômio escândalo-sexo-sangue aponta, pois, para os três níveis de maior enfoque do jornal sensacionalista”. O jornalismo carrega consigo o peso de noticiar, em sua maioria, fatos ruins, as tragédias. E é dever do jornalista retratar o ocorrido, pois trata-se de um acontecimento não só de interesse público, mas também de interesse do público.
Existe uma linha tênue que deve ser respeitada ao noticiar uma tragédia. Essa barreira separa a cobertura jornalística da espetacularização. Infelizmente, boa parte do veículos tradicionais brasileiros ultrapassam esse limite. Se esquecem da responsabilidade de informar e de conscientizar para que erros grotescos não voltem a se repetir.
Como foi o caso do incêndio ocorrido na casa de shows em Santa Maria, no ano de 2013. Em que a cobertura midiática foi tão grande que até mesmo programas dominicais, voltados unicamente para o entretenimento, supervisionaram o desastre. O problema disso está em como o assunto é abordado, tais programas preocupam-se apenas em demonstrar o sofrimento do caso. Porém, em nenhum momento encaixam em sua agenda de notícias a importância dos alvarás e regulamentação das casas noturnas.
A mídia brasileira adota a postura de uma vampiro de sofrimentos, quanto pior o ocorrido, mais a notícia vende e mais tempo é transmitida. Mas isso ocorre por uma simples decisão dos representantes dos jornais? Na verdade, não. Os veículos de comunicação costumam seguir algumas regras que definem o grau de importância e de destaque da notícia: os critérios de noticiabilidade.
Esses padrões foram definidos por estudiosos do jornalismo com o objetivo de chegar a notícias que rendessem mais audiência e que seguissem um padrão para garantir a qualidade da informação. Então, o destaque pode ser definido por distância geográfica, proeminência dos envolvidos, utilidade pública, negatividade e tantos outros critérios jornalísticos.
Mas a discussão principal está na decisão sobre o que noticiar. Quando não estamos diretamente envolvidos no desastre, ficamos sabendo dele a partir de uma recorte que o jornalista faz. Se esse recorte é direcionado ou então, carregado de interesses diferentes do de informar, nosso entendimento é comprometido.
Muitas vezes o despreparo e os interesses mercadológicos acabam levando o jornalista a desrespeitar os envolvidos nas tragédias. Submeter uma vítima a situações humilhantes ou que a force recordar de maneira exaustiva o trauma não é fazer jornalismo. Justificar exageros e abusos com critérios como “interesse público ou do público” também não.